A única coisa que restou um livro velho com uma dedicatória besta. "Com carinho, pra minha melhor aluna. W." Que meigo!Ele pensa que engana alguém. O pior é que engana. Ele é como eu.
15 anos, baixinha, parece sempre morrer de sono. Passa as tardes fazendo de conta que estuda ao lado da amiga que passa os dias tentando achar um namorada que seja a cara do Kurt Cobain.
-Bine...
-Ahm.
-Posso te contar uma coisa?
- Fale.
-Que tu faria se um cara te convidasse pra ouvir música na casa dele?
-Depende...quem é o cara?
-Acho melhor tu não saber?
-É presidiário?
-Não!
-Seqüestrador?
-Não!
-Gosta de pagode?
-Não!
-Ah, então não vejo mal nenhum.
Logo pra quem fui perguntar. Ela era uma querida, me escutava sempre, não era fresca...mas completamente neurótica com roubo, sequestro, essas coisas. Mas ela deu o conselho e eu segui. Fui.
Maldita hora em que decidi começar a subir aquela escada. Maldita hora em que toquei aquela campanhia. Maldita hora em que ele abriu a porta e sorriu. Sorriso maldito que me convidou pra entrar. Só lembro do disco da banda preferida dele sob o sofá. O resto eu lembro em silêncio. Ninguém precisa saber.
No outro dia eu fui pra escola com a mesma cara de sempre. No corredor, eu treinei meu olhar pra não avistá-lo. Sabia que estava arrependido. Que ia se envergonhar pro resto da vida do acontecido. Não pelas sensações, mas pelo que o mundo ia pensar. Se importava demais com o que a boca dos outros dizia. Garanto que nunca esqueceu aquela noite, algo deve ter ficado num cantinho do cérebro.
Eu segui o meu caminho torto de sempre. Chutei algumas pedras e passei a não perder nehuma aula de literatura. Sei que ele não queria mais nada, mas confesso que sentir um olhar dele na minha direção e logo depois perceber um clima "pare já com isso" da parte dele dava um certo prazer. Ele deve ter tomado um susto. Se alguém descobre, lá se vai a sua carreira promissora pelos ares. Quem mandou confiar na minha cara de boba.
Um comentário:
Hummmm...
Baseado em fatos reais?
Espero, sinceramente, que não.
Topar com otários desse nível é muito chato...
Ninguém merece.
Enfim, noves fora minhas lembranças de experiências com homens desse naipe, é uma ótima história. Sei que, um dia, prestigiarei a sessão de autógrafos do teu livro-solo. Ou comprarei a obra em alguma livraria e contarei para um amigo: "Eu conheci essa guria quando ela ainda estava na faculdade e não era famosa..."
Beijo, querida!
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