segunda-feira, 22 de março de 2010

Ao mestre, com carinho

Hoje comemora-se o centenário do cineasta Akira Kurosawa. Ele, que morreu em 1998 em plena ativa, fazendo filmes e demonstrando uma lucidez e um talento incrível, foi crucial na minha trajetória de amante incondicional de cinema.



Akira Kurosawa foi o responsável por apresentar ao mundo a história e os costumes do oriente num tempo em que as coisas eram muito mais demoradas e mais saborosamente apreciadas. Não é como hoje, onde os lançamentos de artes marciais japoneses invadem nossas salas de exibição e a tradição do mangá é febre entre jovens que não sabem identificar um ideograma japonês. Kurosawa trouxe a poesia oriental para as telas e na sua esteira vieram outros importantes realizadores, como Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. Mas o oriente sabe ser rígido e acabou acusando o seu mais significativo cineasta de ser "ocidentalizado". Tudo por causa do seu declarado amor pela literatura russa e pelo cinema de John Ford. Mas isso não fez com que seus samurais e camponeses não cumprissem sua missão: a de encantar o espectador.

Minha relação com Kurosawa começou quando assiti Trono manchado de sangue, filme de 1936. Aquilo me tocou de uma forma diferente. Eu era uma aprendiz de cinéfila deslumbrada com o cinema noir diante de uma poesia visual única. Akira Kurosawa me mostrou o outro lado do mundo do cinema. Aliás, ele próprio deu sua contribuição ao cinema noir com Céu e Inferno, um filme cheio de referências pop e crítica a alta sociedade japonesa dos anos 50.
Kurosawa ocupa aquele lugar no meu coração onde se guarda os ídolos no sentido mais puro da palavra. As influências verdadeiras, aquelas pessoas que realmente fizeram a diferença na nossa vida. Um lugar privilegiado. Eu paro na frente da TV quando alguém fala dele, assisto seus filmes várias vezes como se fosse a primeira exibição, leio tudo que aparece sobre sua obra e vida e digo com orgulho que ele é o meu mestre. Tive a sorte de encontrar na minha vida acadêmica um professor e orientador tão apaixonado quanto eu pela obra de Kurosawa. Bebeto Badke me ajudou na monografia que, talvez por excesso de amor da autora, foi mais passional que científica.
Bom, estou aqui para dividir com Spielberg, George Lucas, Scorcese e outros tantos admiradores de Akira Kurosawa esse momento único. A cinemateca de Lisboa fará uma homenagem com um ciclo que vai até o final de março, mostrando os principais filmes da filmografia do diretor. Adoraria estar lá para desfrutar dese momento. Mas me contento com os DVDs da estante. Dersu Uzala, Madadayo, Rashomon, Os Sete samurais, O anjo embriagado, Yojimbo e muito mais. Filmes que vão além: não são só histórias, são aulas de sentimentos que mexem em qualquer ser humano com um pingo de emoção.
Hoje é um dia especial. Tenho certeza que, se estivesse vivo, Kurosawa estaria bolando um novo filme e falando ao mundo sobre a importância de se acreditar no cinema como uma forma de mudar atitudes e, quem, sabe, o mundo. É por essa e por outras que eu me permito comemorar: Mestre Kurosawa, Mada-dayo!



"O homem é um gênio quando está sonhando"
Akira Kurosawa

domingo, 21 de março de 2010

Dia de garota


A gente tem vontade de se atirar no chão. Ou então se esconder embaixo da cama e dar um grito que quebre todos os vidros da casa. Depois disso a gente chora, fica com pena dos vidrinhos e, se bobear, nos pegamos emocionadas com propaganda de refri. Sim, estamos de TPM. Isso rende assunto sempre. Tenho certeza que eu e minhas amigas iremnso falar disso inclusive quando ela der o fora de nossas vidas. Seremos jovens senhoras relembrando os bons tempos (?) em que vivíamos entre absorventes e crises de choro e compras.
Com o tempo a gente aprende a lidar com a TPM e ela até torna-se desculpa para dizer não para caras chatos ou simplismente para tirar um tempo pra pensar. Só que o mundo sabe ser mais chato que muitos caras e te faz sair de casa para cumprir compromissos em pleno dia de fúria. Legal, né?! Tu já sai de casa tropeçando, achando calor demais e tentando não cair em tentação de açúcar quando passa na frente da padaria. Isso sem contar a cara: não há rímel que dure em olhinhos que insistem em lacrimejar ao menor de doçura ou patada. E as cinéfilas como eu ainda precisam achar o ponto de quilíbrio pra não achar qualquer asneira cinematográfica um coisa linda.
Tô falando deste assunto aqui porque todas nós sofremos disso. Cada uma do seu jeito, mas sofremos. Porém, no fim das contas a gente descobre que não é o fim do mundo e que somos muito mais privilegiadas que os homens. E que mesmo com nosso interesse por filmes de guerra ou músicas pesadas, somos garotas, ora! Precisamos desse tempo, dessa crise, dessa coisa de "deixa eu pirar". Talvez seja esse momento que nós faz sermos mais sensíveis, observadoras e, antes de tudo, é o que nós faz sempre ser uma caixinha de surpresas. Dia 8 eu estava cheia de coisas pra fazer e nem aproveitei. Afinal, dia internacional da mulher é um saco. Parabéns e flores acompanhados de discursos de quinta são um saco. E isso só rola no dia 8. Nos outros é que a gente se diverte.

Uma diversão: o clip do She & Him, que é divertido como o tempo do colégio.
Bjus da Bia

terça-feira, 16 de março de 2010

23


Hoje eu completo 23 anos. Confesso que dá um certo medinho depois que a gente passa dos 20, mas nada sério que eu não possa virar para alguém e dizer: eu tenho 23 e você?
Logo de manhã cedo, papito e mãezinha trazendo o presente e principalmente as palavras mágicas: a gente te apóia em tudo que tu quiser. Logo depois vovó e vovô com abraços e carinhos sem ter fim. Minha aula de pilates nem doeu, graças ao meu instrutor hiper mega maraaaa Gerson. Enfim, fazer 23 anos é uma aula. Tive um 2009 cheio de chegadas e partidas, falsas alegrias, descobertas doloridas...mas também de muitos amigos novos e leais, amizades cada dia mais fortificadas e amadurecimento. Talvez esse seja o meu melhor presente: amadureci muito, aprendi que minha intuição quase nunca falah e que eu preciso aprender a escutá-la. Ao contrário do que muitos pensam, não estou querendo adiar a vida adulta com minhas escolhas. Estou apenas aproveitando oportunidades. Sair de casa e ganhar o próprio dinheiro não garantem cuca fresca, personalidade, confiança e vida adulta. É preciso muitas outras coisas. E essas eu já tenho e vou ganhar muito mais.
Parabéns pra mim e um bjão especial para os meus leitores fiéis e sempre comentadores!!!!

segunda-feira, 8 de março de 2010

Uma noite única


Chega a faltar o ar. Ainda estou sob o impacto de uma das minhas melhores noites do Oscar. Acompanho a premiação desde que tinha 10 anos, anotando tudo, chorando, rindo e vibrando a cada estatueta entregue. Mas a noite de ontem foi única. Só não merece o título de perfeita, porque a satisfação total não existe em Hollywood e em nenhum lugar do mundo quando o assunto é escolha.
Começemos com o momento fútil: Carey Mulligan era, de longe, a mais linda. Elegantérrima, sorridente e charmosa. Já Tom Ford conseguiu roubar os olhares femininos: estava impecável assim como o seu filme A single man.
A homenagem ao cinema de horror foi bacana, mas falha. Para os fãs do gênero como eu, faltou muita coisa e a apresentação feita pelos astros da série Crepúsculo foi inexplicável: desde quando Crepúsculo é terror? Tanta gente bacana que merecia estar lá, como Wes Craven, Tobbe Hopper, o próprio Romero. Coisas da moda vampiresca teen.
Ver Preciosa levar dois prêmios para casa me deixou saltitante. Merecidos, muito merecidos. Jeff Bridges estava um charme e tive que aplaudí-lo, mesmo estando na torcida pelo Colin Firth.
A melhor surpresa da noite foi ver o meu favorito O segredo dos seus olhos levar o prêmio de melhor filme estrangeiro. A fita branca é inovador, impecável, mas meu coração era todo da produção argentina. Não aguentei e chorei um pouquinho. Campanella mereceu!
Minha maior decepção foi ver Sandra Bullock levar pra casa o troféu de melhor atriz. Tudo bem, ela está se esforçando pra deixar de ser a atrapalhada protagonista de comédias fracas. Mas não chega ao pés das suas outras concorrentes, que imprimem um realismo tocante e sincero na tela. Não gostei, achei injusto, mas tudo bem. O que estava por vir compensou...
Avatar teve seu momento, levou prêmios técnicos importantes. Mas a Academia mudou. Deixou de lado a barulheira, os rios de dinheiro e modernidade e apostou no conteúdo forte amargo de Guerra ao terror. Ver o Oscar de melhor direção ganhar as mãos de uma mulher nos primeiros minutos do dia dedicado à nós, foi incrível. E logo depois, ver a incredulidade nos olhos de Katryn Bigelow ao ver sua obra ser eleita o melhor filme, foi mais emocionante ainda.

Foi uma noite feminina: forte, emocionante, cheia de lembranças ( Jean Simmons, Jennifer Jones, Carradine...todos homenageados com respeito), discursos lindos ( Ophah Winfrey foi perfeita na homenagem a doce Gabourey Sidibe)...
Um dos meus melhores Oscar. Melhor que isso, só estando lá para ver de perto.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Última pitada de Oscar

Então tá: é domingo o grande dia. Primeiro tem o momento mulherzinha, onde a gente baba ou detona o vestido das concorrente. Depois vem a parte mais divertida, que é cruzar os dedos pros nosso queridos, soltar palavrão quando uma injustiça acontece e vibrar quando nossas apostas se realizam. Na correria de viagens em nome da cinefilia, acabei não comentanto Amor sem escalas, do talentoso e despojado Jason Reitman. O filme conseguiu a proeza de ser uma comédia romãntica que me agrada. Não vacila, não cai no piegas, não é surreal e tem criatividade em planos e em roteiro. Vou ficar bem feliz se ele levar a estatueta de melhor filme, mas os camaradas da Academia não são lá muito chegados em comédias. Preferem lágrimas e sofrimentos. E falando em chororô, Coração Louco é cheio de clichês, mas o Jeff Bridges tem todo o meu apoio pra levar o homenzinho dourado para casa como melhor ator. Ele dá um banho num filme que não tem nada de especial.
Ainda acredito na ilusão de que Avatar vai voltar pra casa de mãos abanando. Afinal, sonhar não custa nada. Mas minhas apostas são mesmo em Amor sem escalas, Preciosa, Guerra ao terror, Educação e Um homem sério. Todas erradas. Dane-se, eu torço pro time que acredito, esteja ele onde estiver.

Bjus da Bia e bom Oscar.

Dica: Pros amigos de São Paulo, vale a pena assistir a premiação no restaurante Cozinha da Matilde, que fica na Vila Madalena. Além de um cardápio especial, o crítico ( e meu ídolo!) Christian Petermann vai comentar os vencedores da noite.
Corre pra lá!

terça-feira, 2 de março de 2010

Quando as meninas amadurecem


Sai do cinema ontem com uma teoria de boteco feminino comprovada: meninas amadurecem, enquanto a maioria dos homens apenas crescem. Fui assistir Educação com aquele friozinho na barriga, tentando não criar grandes espectativas. Afinal, isso costuma acabar em decepção. Mas como a sétima arte nunca me deixa na mão, tive mais uma bela surpresa. Educação, filme dirigido pela talentosa Lone Scherfig (responsável pelo incrível Italiano para principiantes) é a história de uma garota que se vê dividida entre descobrir a vida e seguir a rígida e tradicional educação oferecida pelos pais. E, como sempre, ela é acompanhada por um charmoso homem mais velho. Mas esqueça a síndrome de Lolita. O filme vai além, mostrando a capacidade que nós mulheres temos de descobrir o mundo e aguçar nossa sensibilidade pela simples convivência. Não é fácil ter 16 anos, um corpo cheio de hormônios e uma cabeça cheia de vontades. Tem sempre uma porta no caminho. Trancada. De chave perdida. Ser adolescente é ser dramático, bem-humorado, ácido, romântico. Mais ainda: é descobrir quem se é, aos poucos. A relação do casal central do filme é mostrada com uma elegância típica dos anos 60 (a história se passa em 61) sem exageros ou pieguices.
Educação integra aquela lista de filmes que os votantes do Oscar colocam na lista de indicados apenas como consolação, ao lado do divertido Um homem sério dos irmãos Coen. A chance de levarem a estatueta para casa é miníma, ainda mais com os esquisitinhos azuis de James Cameron na jogada. Mas vale a vitrine: um filme elegante, como poucos feitos atualmente.
Entre o público de ontem, de maioria masculina, percebi alguns homens cabisbaixos na saída da sessão. Talvez estivessem pensando em como é difícil agradar uma garota. Ainda mais em fase de crescimento.

Bjus da Bia

segunda-feira, 1 de março de 2010

É domingo


Domingo tem Oscar e eu já começo a me preparar psicologicamente. Como cinéfila, sempre tive muito claro na minha cabeça que o Oscar não é o mais importante prêmio, mas a mais importante vitrine para um filme. Conheço gente (cabecinha pequena, né) que corre para assistir um filme quando ele ganha uma estatueta. Pobres ratos de bilheteria, mal sabem que o homenzinho dourado não é garantia de qualidade. Bom, mas vamos seguir a rotina anual de comentar meus queridos, meus odiados e minhas apostas para a premiação de domingo.
Meu coração tem dois favoritos: Preciosa, de Lee Daniels e Guerra ao terror, de Katryn Bigelow. O primeiro, porque é cru, respeitoso, verdadeiro. Em nehnhum momento Daniels apela para a situação da protagonista. Ele apenas nos conta sua história. E isso não é pouco. Assisti Preciosa três vezes e se me convidarem outras irei sem pensar. É um filme intenso, que te põe diante de uma situação que a gente sabe que existe, mas que muitas vezes insiste em fazer de conta que é pura ficção. Pra quem ainda não assistiu, não se prendam aos textos que definem o longa como " a história de uma negra americana acima do peso". Isso é só um detalhe. Preciosa é um filme sobre uma garota. Parece simples, mas passa longe disso.
Já rasguei minha seda para Guerra ao terror em outro post, mas não custa nada repetir a dose. É um filme onde a montagem é a estrela principal e os silêncios falam mais do que qualquer diálogo. Bigelow acertou a mão e, tenho certeza, despertou a inveja do eterno garoto sonhador James Cameron. O ex-marido deve ter passado noites em claro pensando "como é que ela vai concorrer comigo?". É, Cameron...o Oscar tem suas surpresas, mas está na cara que Avatar vai levar os prêmios técnicos. Os alienígenas azuis são de uma perfeição que engana até os olhos mais atentos. Mas, como diria o meu crítico preferido Christian Petermann, o filme de Bigelow tem tutano. E isso não se consegue com tecnologia.

Fim.

Bjus da Bia