quinta-feira, 2 de junho de 2011

Na pele


Há quem diga que tatuagem é um fetiche e que essa coisa de marcar a pele vai além da arte: é também uma forma de sensualidade. Tem coisas tão fortes, tão importantes em nossas vidas que não há outro jeito de tê-las por perto sempre a não ser usando tinta e agulha. Essa é uma boa definição para o belíssimo filme O livro de Cabeceira, do diretor Peter Greenaway. Quem conhece o trabalho do cineasta nascido no País de Gales mas criado em Londres, sabe que seus filmes não são facilmente digeríveis para o grande público. Até quem é fã precisa de umas duas ou três sessões para entender determinadas nuances propostas por ele em cenas e diálogos. Porém, O livro de cabeceira é considerado um de seus filmes mais "comuns" e tem uma forte influência da linguagem televisiva moderna. Um exemplo são os momentos em que a tela se divide em várias, de tamanhos diferentes, mostrando ações de vários personagens ou então quando ganha ares de videoclipe, como na cena da overdose do personagem Jerome, vivido por um jovem e ainda desconhecido Ewan McGregor, um ano antes de conquistar as telas com o ótimo Transpotting, de Danny Boyle.
O longa é, de início, a história de uma relação intensa entre um caligrafista e sua filha Nagito, que ganha em cada aniversário uma mensagem escrita em seu rosto e nuca. Um momento íntimo recheado de tradições. Mas ao longo da trama, Nagito cresce e busca em seus amantes o praqzer através da tinta na pele criando a bela caligrafia japonesa. O que parecia ser apenas uma fantasia tornasse algo incontrolável, levando Nagito a buscar novos amantes, novas letras, novos corpos para suas histórias.
Mesmo privilegiando a linguagem visual moderna, Greenaway foi muito original ao acrescentar características típicas do cinema oriental, que possui simbolismos bem diferentes dos nossos. Um erotimso poético paira no ar desde a primeira cena de O livro de cabeceira, graças à autora do livro que deu origem ao filme, a cortesã Sei Shonagon, que criou a mais de mil anos as histórias eróticas que rondam a vida de Nagito.
Uma mulher escrevendo histórias em corpos masculinos. A pele como papel para explorar e dividir desejos. Coisas que só Peter Greenaway conseguiria traduzir na grande tela.

Bjus da Bia