segunda-feira, 23 de maio de 2011

A marca que ninguém apaga


Não existe situação pior do que assistir a um filme tendo apenas opiniões negativas sobre ele. Passei por isso ao ver Os quatro do Apocalipse, um dos poucos filmes de Lucio Fulci que ainda não havia visto. Mas eu consegui, mesmo com a enxurrada de comentários ruins rondando a exibição, me divertir durante uma hora e meia e achar o argumento perfeito para os que destruíram este western diferenciado: a famosa e comentada marca registrada.
Os gênios costumam ter as suas e mesmo quem não conhece seus principais filmes consegue identificá-las. Lucio Fulci ganhou as telas e conquistou fãs dentro do gênero Giallo, os filmes de terror italianos temperados com sangue vermelho-tomate, nudez e uma leve dose de erotismo.

Ao lado de Dario Argento, ele ajudou a concretizar o movimento com obras-primas trash como A casa do cemitério e a cine-série Zombie. Mesmo se aventurando em algumas comédias, o italiano nunca deixou de lado o clima sombrio e violento. Talvez por isso um roteiro como o de Os quatro do Apocalipse renda tantas críticas. Não há como negar que a história é boa, mas do meio para o fim a coisa desanda e o que poderia render um final clássico vira algo abrupto, resolvido às pressas, como se não houvesse mais rolo de filme suficiente. Mas passa longe de ser um ruim, pois Fulci aproveita todos os momentos para estampar sua marca, em especial na cenas de tortura e canibalismo. É como se, nessas horas, as cenas dissessem "hei, fomos feitas pelo Fulci, viu?" Coisas que só consegue quem sabe o que faz. Imprimir em todos os gêneros que lhe são oferecidos sua digital.
Bjus da Bia

terça-feira, 17 de maio de 2011

Olhos nos olhos


Comecei a usar óculos aos 9 anos. No começo sofri um pouco, já que lentes chamam à atenção, por mais discretas que sejam. E tímidos odeiam chamar a atenção. Durante um bom tempo, houve uma certa vergonha, uma sensação de "porque preciso disso?". Tentei lentes de contato, mas um probleminha de sensibilidade na íris impediu que eu ficasse com elas.O jeito foi encarar a vida de frente usando um pára-brisa. Era o único jeito de ver o mundo (e, principalmente, os filmes) nítidos. E foi um filme que me ensinou a amar os meus óculos.

Janela da Alma, documentário do talentoso João Jardim, é mais que um filme sobre olhares. É um verdadeiro registro de sonhos e histórias únicas que só quem tem a visão (im)perfeita consegue vivenciar. Desde a mais simples e fraca miopia até a cegueira total, nosso olhos (sempre eles) são presenteados com amores, sintonias e, antes de tudo, relações de amor com as imagens. Seja o colega de palco (Marieta Severo resume bem a coletividade que é ser ator) ou a fotografia ideal, tudo é um recorte que fazemos da vida. E, como nos filmes, temos nosso efeitos especiais. A vista embaçada por causa do choro, o fechar de olhos na hora do medo, a pupila dilatada diante da surpresa.




Sabe aquela história de visão de mundo? Pois é, cada um tem a sua e não é só uma metáfora para opinião. O olho é uma câmera e a gente filma o que bem entender. E, como em qualquer produção, temos percalços, imagens que não estavam nos nosso planos mas que não nos deixam outra saída. Precisamos encarar de frente. Sem piscar.



Hermeto Pascoal, José Saramago e o fotógrafo Evgen Bavcar são alguns do convidados para exporem suas relações com o olhar. Mas o depoimento de Wim Wenders é, pelo menos para mim, o mais poético. O cineasta das paisagens discorre sobre como se sente mal quando perde seus óculos, pois eles ajudam-no a enquandrar o mundo. Segundo Wenders, sem suas lentes ele "enxerga demais". Para ele, ver é enquadrar. Cada rosto, cada céu, cada detalhe é um plano, um close, uma cena.
Minha miopia teria solução. Uma cirurgia simples, de recuperação rápida. Mas dispenso o hospital. Minha vida não teria a mesma graça se não fosse a confusão que faço, ao acordar, procurando meus óculos no escuro. E sempre encontrando.

Bjus da Bia

sábado, 14 de maio de 2011

Aprendizagem


Aprender a ler, escrever, contar. Já passei por todos estes verbos na vida. Agora chegou a hora de aprender o verbo gostar. E quer melhor professor que David Lynch? Calma, eu explico.
Não, ainda não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e travar uma longa conversa sobre sonhos, filmes e afins. Isso porque, até bem pouco tempo atrás, eu não o suportava. David Lynch era, para mim, um chato de galochas e orelhas cortadas. Assiti Veludo Azul aos 12 anos, a tradicional idade da bobeira, não entendi lhufas e decretei o fim da minha relação com Lynch naquele dia mesmo. Minha rebeldia falou mais alto e eu tachei o rapaz de velho gagá. Anos depois, o arrependimento bateu numa madrugada gelada, onde Veludo Azul surgiu novamente diante dos meus olhos graças à TV a cabo. Chorei feito criança e o arrependimento deu lugar aquela humildade típica dos apaixonados arrependidos. Sabe aqueles roamnces onde a mocinha passa a trama inteira brigando com o mocinho pra, quase no final, se dar conta que não pode viver sem ele? É piegas, mas define bem minha história com David Lynch. Um brigaçada que acabou numa paixão louca graças a Coração Selvagem. Nicolas Cage cantava Love Me e eu me rendia: Lynch, I love you. A atmosfera de sonho, o sentimento sendo descrito na tela da maneira doida como só os sonhos conseguem, o mal-estar necessário em algumas cenas, o romantismo anos 50...enfim, uma apaixonada listando os dotes de seu amor.

Lynch agora ocupa um lugar especial no meu coração. Lugar selvagem, diga-se de passagem.

Bjus da Bia

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Meu herói


Estou sumida por um bom motivo: meu vovô cinéfilo, Leonardo, teve um infarto. E, acreditem, está tinindo de bom!!!! Molinha nova no coração e o mesmo bom-humor de sempre. Pra não deixar passar, vou postar um vídeo com os dois psitoleiros preferidos do meu velhinho amado: Randolph Scott e Joel McCrea.

Afinal, o cara que me ensinou a amar e respeitar o faroeste merece todas as homenagens. Aiô, silver!

Bjus da Bia