quarta-feira, 30 de março de 2011

Outro adeus


Já está me dando medo. Em menos de um mês, mais um grande ator nos deixa e torna o mundo do cinema mais vazio. Quando soube da morte de Farley Granger, a primeira cena que me veio a cabeça foi a da partida de tênis no clássico Pacto Sinistro, de Alfred Hitchcock. Mas logo lembrei do meu preferido, Festim Diabólico, primeira parceria de Granger com o mestre dos suspense e um dos filmes que mais assisti na vida.
Farley Granger não é um nome que provoca furor e lembranças na maioria das pessoas, pois ele não era um astro e, no início de sua carreira, ele era mais lembrado por seus traços belos do que por seu talento na hora de atuar. A coisa mudou quando ele se mandou para a Itália e atuou no ótimo Sedução da carne, de Luchino Visconti. Sua estreia foi num filme que eu sou louca pra ver, Amarga Esperança, um dos poucos do cineasta Nicholas Ray que não passaram diante dos meus olhos. Dizem que foi uma entrada e tanto no mundo da sétima arte. Mais para minha lista de "preciso ver".

Enfim, Farley Granger não foi um grande nome, mas sua marca está em grandes filmes. E, na minha humilde opinião, ele sempre foi mais talentoso que bonitão, apesar da crítica especializada insistir em dizer o contrário.

Bjus da Bia

segunda-feira, 28 de março de 2011

Poema de ressaca

By Bianca Zasso

Percebo minha boca seca
no meio de um sonho
onde passeio pelas ruas de Paris
sozinha e no ritmo de uma canção
tão antiga quando a minha vontade
de conhecer a cidade-luz.

É esse o sinal
de que eu ainda tenho muitos desejos
pra transformar em realizadade.
Eu quero tanto acabar o que comecei,
quem sabe começar outra vez
pra diversão ser completa e sem momentos de interrogação
Eu quero tanto voltar a habitar tuas ideias
por mais loucas e tristes que elas sejam.
Eu quero tanto acordar, respirar fundo
e avistar teus rastros pelo chão.
Eu quero tanto dividir o copo suado
recheado de gelo
durante a tarde incandescente.

Eu quero tanto e tanta coisa
que entre um querer e outro
tento me acostumar
em não ter mais nenhuma lembrança tua
pela casa.

domingo, 27 de março de 2011

As mulheres de Tennesse


Não acredito em destino. Já tive meu tempo de garotinha sonhadora. Tempo esse em que acreditava que a vida era mágica e que tudo "estava escrito". Só não sabia direito em que caderno ou quem era o autor. Sei que sooei convicta na primeira frese deste post. Mas também acredito em outra oração, aquela que diz que "convicções são cárceres". E no cárcere, não há liberdade. E sem liberdade não há felicidade que resista.
Esta semana, tive que acreditar no tal Sr. Destino, que emaranhou as coisas e fez dois nomes conhecidos cruzarem o meu caminho de maneiras diferentes, mas com um único objetivo: provocar a minha saudade.
O primeiro foi registrado num post aqui mesmo, neste humilde blog. Elizabeth Taylor nos deixou e causou um estrago, afinal, era uma das poucas grandes atrizes vivas da era de ouro de Hollywood. E ontem, dia 26, o mundo comemorou o centenário de nascimento do dramaturgo, escritor e roteirista Tennesse Williams, autor de muitas tramas que, quando adaptadas para o cinema, tiveram Liz Taylor no elenco. Não que ela fosse a musa declarada de Williams, já que ele próprio assumiu que sua inspiração para criar personagens femininas vinha de sua irmã, que sofria de esquizofrenia.

Meu primeiro contato com a obra de Tennesse Williams foi aos 18 anos, por meio de um exemplar de Um bonde chamado desejo encontrado na biblioteca da escola onde eu estudava. Lembro que li o livro rápido e o desejo de voltar para a primeira página não demorou muito a aparecer. Devolvi o livro com atraso e tive que pagar multa com uma boa parte da minha mesada. Dinheiro bem investido, não tenho dúvidas. O embate erótico entre a sonhadora Blanche DuBois e o viril Stanley Kowalsky não saía da minha cabeça. Aquela maluquete que queria enganar a si própria de que ainda era uma rica filha de fazendeiros, cercade de jóias e belos vestidos era um personagem e tanto, construído com uma sensibilidade ímpar. Aos poucos, desvendando o restante da obra de Williams, percebi que Blanche não estava sozinha. Gata em teto de zinco quente e Boneca de Carne são bons exemplos.
Mas o que torna as mulheres de Tennesse tão encantadoras? Simples, elas são reais, tem desejos, sonhos, loucuras e crises como todas nós. Sentem o peso do tempo passando, as rugas surgindo, os relacionamentos se despedaçando. São verdadeiras e talvez por isso causem tanto furor até hoje, num universo onde muitas moçoilas insistem em procurar nos livros e filmes princesas intocáveis de braços dados com belos príncipes. Tennesse criou mulheres sedutoras, que não escondiam seus desejos e, como consequência, tinha de arcar com os problemas que isso acarreta. Talvez por isso suas criações femininas tenham funcionado tão bem no cinema, pois a tela grande conseguia pegar as palavras do autor e transformá-las em olhares, lágrimas e gestos. O humano é mais belo no cinema e sempre supera a tecnologia. Basta deixar-se levar pelos gritos desesperados de Marlon Brando para sua amada Stella, na melhor adaptação de Um bonde chamado desejo que o cinema já viu, apesar do moralmente correto título Uma rua chamada pecado que o filme ganhou no nosso país tropical. Ah, e vale lembrar que é preciso fugir da versão que traz Alec Baldwin e Jessica Lange como protagonistas. É um atentado ao que chamamos de interpretação.
Se essa coisa de céu existe, Liz Taylor chegou lá em tempo de organizar e comemorar o aniversário de Williams. Coisas do destino. Acho que vou começar a acreditar nele.

Bjus da Bia

sábado, 26 de março de 2011

Oeste de arrepiar


O universo dos balaios de DVDs proporciona para cinéfilos apaixonados experiências únicas. Isso porque várias distribuidoras pequenas, incluindo a gaúcha USA Filmes, estão investindo em relançamentos de clássicos e raridades, especialmente dos gêneros faroeste, terror e guerra. Numa dessas buscas pelos balaios,que exigem dedicação e paciência, encontrei Vingança Cega. À primeira vista não reconheci, mas bastou uma boa lida na contracapa para descobrir que estava diante de um dos últimos exemplares do western-spaghetti, agora repaginado e com nome novo, já que , em VHS, o filme foi lançado no Brasil sob o título de Mannaja e na América como Um homem chamado Blade.
Lançado no final da década de 70, período de decadência do gênero western tanto nos EUA como na Europa, Vingança Cega difere de seus contemporâneos tanto pelo roteiro como pela estética. Isso deve-se ao fato de que o diretor do filme, o italiano Sergio Martino, é um dos nomes mais populares do gênero giallo, uma vertente do terror nascida na Itália e que mais tarde contaminaria Hollywood com muito sangue falso e facadas em becos escuros. E por falar em facada, logo nas primeiras cenas o espectador percebe que está diante de um exemplar único dentro do faroeste quando, de maneira magistral, descobre que o herói do filme, ao contrário dos pistoleiros do passado, tem como arma de estimação uma afiada e certeira machadinha.
Depois de ter feito giallos exemplares como Lâmina Assassina e Todas as cores da escuridão, Martino resolveu se arriscar no western sem deixar de lado seu estilo. Não por acaso o filme é estrelado por Maurizio Merli, ator italiano conhecido por seus personagens violentos. O caçador de recompensas Mannaja cai como uma luva nos traços fortes de Merli, que carrega o filme nas costas, com destaque para a cena em que é enterrado vivo. Sim, enterrado vivinho da silva. Duelos ao pôr-do-sol? Mocinhas suspirando por um rapaz de chapéu? Desculpe, você está no filme errado. No universo de Mannaja, o oeste é um terror de arrepiar até o rabo do cavalo.

Vingança Cega é bem construído e fez um relativo sucesso se levarmos em conta que o filme foi lançado quando o faroeste vivia o seu crepúsculo. Mesmo chegando a ser comparado a obras-primas como Keoma, de Enzo G. Castelari, o filme de Merli faz os mais tradicionais virarem a cara para seus cenários enfumaçados e suas cenas de violência extrema. Um preconceito bobo, se levarmos em conta que o western é um dos gêneros que mais evoluiu na história do cinema, indo do romance mais água com açúcar a cenas de tortura históricas. Mesmo que você nunca tenha visto um faroeste na vida ou que não goste do gênero, Vingança Cega é uma boa pedida. Antes de qualquer rótulo ou catalogação, é um bom filme. E isso não é pouca coisa.

Bjus da Bia. Bang!

quinta-feira, 24 de março de 2011

Liz


Dizem que quando a gente cresce ouvindo algo, aquilo fica no nosso incosciente pra sempre. Eu cresci ouvindo meus avós comentarem sobre os lindos olhos e as grandes atuações de Elizabeth Taylor. Ontem, a moça que aos 24 anos já era uma estrela consagrada e com um currículo invejável de filmes, nos deixou. Mais um talento que se vai e deixa os cinéfilos mais tristes. E 2011 começou cheio de despedidas. E se o tal ciclo da vida se confirmar, talvez uma nova Liz Taylor surja. Mas duvido que seremos presenteados com outros olhos cor de violeta. :)

Bjus da Bia

sexta-feira, 18 de março de 2011

Vida


Seja na mesa do bar ou nas reuniões familiares, um assunto que sempre causa controvérsia é a morte. Temida e estudada, discutida e negada, ela já foi tema de vários filmes e passou por quase todos os gêneros. Spielberg trouxe magia para o desencarne com Além da eternidade; Robert Zemeckis fez graça dos que insistem em durarem para sempre em A morte lhe cai bem e Jerry Zucker eternizou a canção Unchained Melody no romance Ghost. Porém, nenhum diretor falou da morte com a delicadeza e a segurança de Akira Kurosawa.
Quem conhece um pouco da cultura oriental sabe que o povo de olhos puxados encara a morte de uma maneira bem diferente da nossa. Mas seja aqui na nossa terra brasilis ou do outro lado do mundo, a única coisa que não muda é o sentimento, a emoção.
Viver, de 1952, é um filme de ator, com uma trama simples sustentada pela atuação impecável de Takashi Shimura, conhecido por seu trabalho no teatro japonês, no papel de um funcionário de uma prefeitura que segue uma rotina entediante. Tudo muda quando ele descobre estar com câncer de estômago. Seu tempo é curto e um novo olhar surge. É hora de viver. Aliás, é nos olhares de Shimura que estão os melhores momentos de Viver. Nas suas pupilas está o medo e também a gana de viver. E o jeito é correr, tentando descobrir o segredo da juventude convivendo com uma alegre colega de trabalho.


Madadayo nos mostra um outro lado da morte. A história da suave despedida da vida de um professor diante de seus alunos foi o último filme dirigido por Kurosawa e um de seus trabalhos mais autobiográficos. Tendo como base o tradicional ritual do Madadayo, onde um idoso é desafiado a beber um grande copo de cerveja de uma só vez, provando que ainda tem muito tempo de vida pela frente. Mesmo vivendo em complicadas condições financeiras, o professor conta com a ajuda e o carinho de seus ex-alunos.
Com toques de humor sutis nos diálogos, uma das marcas registradas de Kurosawa, o filme tem a proximidade da morte em cada cena e não há tristeza, nenhuma lágrima, pouquíssimas queixas. Daqueles filmes que injetam esperança na veia.
Resumindo, Viver e Madadayo falam da morte nos mostrando o que realmente importa: a vida.

Bjus da Bia
P.S. Soube hoje que meus amigos que estão no Japão encontram-se bem, depois do terremoto. Sorte para eles e todos os orientais. Si cocorai está com vocês.
*Coração, em japonês.

terça-feira, 8 de março de 2011

Batalha sem rosto


Quem já sentiu raiva sabe, a simples menção do nome do inimigo já nos deixa de punhos cerrados. Mas é quando esse inimigo não tem rosto e não passa de um mistério para nós? Daí a raiva da lugar a mirabolantes ideias, que colocam os neurônios pra funcionar a mil por hora. Afinal, não existe um olhar que denuncia o desejo da nossa "vítima".
A raposa do mar, do diretor e produtor poderoso Dick Powell, é um filme sobre dois homens que não se conhecem e passam brigando. Nada de socos e pontapés. O negócio aqui é outra categoria: torpedos de alto alcance. Também pudera, os homens em questão são Robert Mitchum e Curd Jürgens. Enquanto Mitchum interpreta o capitão de um contra-torpedeiro americano, Jürgens dá vida ao comandante de um submarino alemão. Baseado no no livro The Enemy Below, o filme pode parecer, à primeira vista, mais um filme sobre conflitos navais da Segunda Guerra Mundial. Mas logo a trama simples ganha clima de jogo de xadrez, com Mitchum e Jürgens armando estratégias e tentando adivinhar o que pensa o inimigo. O carrossel de emoções que toma conta da tripulação, tanto do navio como do submarino, presenteia o expectador com momentos de correria e muita ação intercalados com silêncios de tirar o fôlego. Se bobear, dá pra ouvir os cérebros funcionando em busca de respostas.
Uma curiosidade que divide opiniões sobre A raposa do mar é o fato do diretor ter apresentado dois finais diferentes em sessões somente para convidados que, após assistirem as duas versões, votavam na sua preferida. O final que foi parar nos cinemas venceu por unanimidade. Também pudera, é surpreendente, delicado e real. Dá uma aula de amizade sem pieguices ou aquele clima de lição de moral que muitos por aí gostam. É simples, joga limpo com o público. Bravo!
Falar de filmes de guerra é um grande prazer pra mim, ainda mais quando eles envolvem conflitos navais. Tenho questões sentimentais sérias com essas batalhas em alto mar:) Por isso, relutei tanto em escrever sobre A raposa do mar, temendo que, ao invés de um post sobre o filme, eu criasse um monstrinho cheio de lembranças e declarações de amor aos marinheiros. Acho que cumpri minha função e, assim como os personagem principais do filme, fui surpreendida pela esperança no meio da guerra. Pela amizade no meio do conflito. Pela boa história no meio da vida real.

Bjus da Bia


domingo, 6 de março de 2011

Esquentando os pandeiros


O meu primeiro e único carnaval da vida foi aos 3 anos, fantasiada de indiazinha Apache. Depois disso, a tríade samba, suor e cerveja sempre passou longe de mim, com a graça de Deus. Meus carnavais são festejados com muito ar-condicionado(ai, minha rinite!), coca-cola e filmes. Muuuitos filmes. E se você, folião de sala de exibição como eu, está sem inspiração para esses quatro dias onde nosso país para e todo mundo parece ser obrigado a ser feliz e sair por aí pulando como se tivesse engolido um pogobol, aí vai a minha listinha de reservas para a folia:

OldBoy, de Chanwook Park
O canhoneiro de Yang-Tsé, de Robert Wise
Viver, de Akira Kurosawa
A ilha dos mortos, de George A. Romero
L'uomo, l'orgoglio, la vendetta, de Luigi Bazzoni
O triunfo da vontade, de Leni Riefenstahl

Bjus da Bia e bons filmes!