domingo, 25 de maio de 2008

Noite do Estilhaço

Sumiu de um jeito rápido
perdi de vista
logo depois
da primeira troca de olhares
Desapareceu
sem deixar bilhete
ou pegadas enlamaçadas
Abandonou o anjo
sem esquecer
de quebrar-lhe a asa direita
durante o sono de estrelas

E ela ficou dançando
feliz forte
coração cada vez mais apressado
mais afoito

A manchete grita
que você voltou e quer me ver
Sinto tuas pedras contra a minha vidraça.
Não dói mais.

By Bianca Zasso
Baralho viciado

As folhas amassadas
sob a cama
são as cartas do meu baralho
viciado
em sempre
te ter
por perto.


by Bianca Zasso

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Desenho no espelho


...eu devia pegar as coisas e sair correndo. Encher a mochila com as tralhas preciosas e ir parar no fim de mundo de onde eu saí cedo demais. A qualquer momento ele bate a porta com força de gigante, mas antes ele faz aquela cara de quem não vai voltar nunca mais e nem meia hora depois ele aparece sorrindo pras flores da casa. Aumenta o perfume, o vento corre e dança com as cortinas velhas e coloridas. Não desbotaram enquanto ele vagava pela rua.
Chega cada vez mais perto...eu devo ser o tipo certo de garota garota errada pra ele, mas as ilusões gritam sem dó dos meus tímpanos e o meu coração, tenho certeza, se ainda existe, vai sair pela boca.
A boca...a boca dele não não precisa dizer nada, eu já entendi. Mas mesmo assim podia repetir. Mas fica quieto como criança que aprontou...mais a criança não sou eu?, pergunto sem parar para o espelho embaçado. Sou a mulher mais feia da cidade, não entendo como tudo aconteceu e como aquelas palavras dele vieram na minha direção.Tem uma multidão de fantasmas lá fora dizendo o meu nome...nunca consegui ser assombrada de perto. Nem mesmo em cômodos escuros como esse. Nem chama de vela traz pra perto esse medo que eu devia sentir. Ele continua...uma sequência de notas musicais indecifráveis, desafinado como sempre, sem perder o charme. Não sei o porquê...ou talvez apenas queria esquecer.

Ele sabe que eu vou pedir bis antes mesmo do fim da primeira canção.

sábado, 17 de maio de 2008

Pequena notável


Eu acho a Betty Boop muito sexy. Pequenininha e sexy. Na infância, eu morria de medo de gente alta. Pedia pro anjinho da guarda me tornar uma moça baixinha que nem a minha mamãe. E ele fez o serviço direitinho. Mas tem gente que confunde mulher baixinha com cabecinha pequenininha. Que amor! Vão se catar os que pensam assim!
Eu sou pequena no tamanho, mas o cérebro tem mais de 1,80 cm com certeza! Não é porque a vida de dona de casa me cobra ficar na ponta dos pés( 17 anos de dança, obrigada!) para alcançar o armário que eu preciso ser frágil, do tipo se ninguém cuidar, catapof!, quebra. As mulheres mais legais, inteligentes, belas, corajosas, raçudas e divertidas que eu conheço medem menos de 1,70 cm. As altas podem até ter mais porte e passar um certo ar de superioridade, mas duvido que achem um sapatinho lindo no tomanha 39. Sorry, minhas amiguinhas grandonas. Adoro vocês do mesmo jeito, mas tinha que puxar a brasa pro meu assado.
Somos pequenas. E bem notáveis.
Ou, como diz uma amiga minha: "eu não sou pequena, eu sou compacta". O Nobel de Auto-estima pra Sabrine!!

p.s. A Sabrine foi pro beleléu! O prêmio de Pequena Notável vai pra minha irmã mais velha, Aninha! A moça que escreve "cem meias palavras". (www.cemmeiaspalavras.blogspot.com)

Bjus pequenos da Bia

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Brilho eterno de uma noite sem estrelas

A única coisa que restou um livro velho com uma dedicatória besta. "Com carinho, pra minha melhor aluna. W." Que meigo!Ele pensa que engana alguém. O pior é que engana. Ele é como eu.
15 anos, baixinha, parece sempre morrer de sono. Passa as tardes fazendo de conta que estuda ao lado da amiga que passa os dias tentando achar um namorada que seja a cara do Kurt Cobain.

-Bine...
-Ahm.
-Posso te contar uma coisa?
- Fale.
-Que tu faria se um cara te convidasse pra ouvir música na casa dele?
-Depende...quem é o cara?
-Acho melhor tu não saber?
-É presidiário?
-Não!
-Seqüestrador?
-Não!
-Gosta de pagode?
-Não!
-Ah, então não vejo mal nenhum.

Logo pra quem fui perguntar. Ela era uma querida, me escutava sempre, não era fresca...mas completamente neurótica com roubo, sequestro, essas coisas. Mas ela deu o conselho e eu segui. Fui.
Maldita hora em que decidi começar a subir aquela escada. Maldita hora em que toquei aquela campanhia. Maldita hora em que ele abriu a porta e sorriu. Sorriso maldito que me convidou pra entrar. Só lembro do disco da banda preferida dele sob o sofá. O resto eu lembro em silêncio. Ninguém precisa saber.
No outro dia eu fui pra escola com a mesma cara de sempre. No corredor, eu treinei meu olhar pra não avistá-lo. Sabia que estava arrependido. Que ia se envergonhar pro resto da vida do acontecido. Não pelas sensações, mas pelo que o mundo ia pensar. Se importava demais com o que a boca dos outros dizia. Garanto que nunca esqueceu aquela noite, algo deve ter ficado num cantinho do cérebro.
Eu segui o meu caminho torto de sempre. Chutei algumas pedras e passei a não perder nehuma aula de literatura. Sei que ele não queria mais nada, mas confesso que sentir um olhar dele na minha direção e logo depois perceber um clima "pare já com isso" da parte dele dava um certo prazer. Ele deve ter tomado um susto. Se alguém descobre, lá se vai a sua carreira promissora pelos ares. Quem mandou confiar na minha cara de boba.

Quero ser Diablo Cody


Adoro o John Malkovich, mas não quero ser ele, obrigado. Ultimamente eu ando admirada com as falas, os escritos e a atitude de uma moça chamada Brook Busey. Não conhece? Também pudera, os únicos que a chamam assim são a mamãe e o papai dela. O mundo a conhece como Diablo Cody. Ler esse nome pela primeira faz nossa imaginação trabalhar e imaginar algo sinistro, um cara( cody é um substantivo masculino) mal encarado, el diablo em pessoa.
Ledo engano! Diablo é linda, estilosa e tem sempre um sorrisão como esse aí do lado. E a prova viva de que dá pra chegar lá usando o cérebro. A moça arranjou um marido pela internet, virou stripper por pura curiosidade, escreve um blog(www.diablodocy.blogspot.com), lançou um livro e escreveu um dos roteiros mais legais que o Oscar já premiou: Juno (se eu começar a falar do filme, vai ser um tédio cheio de elogios).
Ela é daquelas meninas que não se importa em desfilar por um tapete vermelho usando um divertido vestido de oncinha e brincos de caveira( pensei que só eu gostase disso!) ou de sorrir entre lágrimas ao receber o prêmio mais badalado do mundo do cinema.
Diablo é inteligente, engraçada, sem papas da língua. Um tipo de menina em falta num mundinho de grifes e rostos perfeitos como Hollywood. Estou ansiosa por seu próximo projeto cinematográfico e não perco suas entrevistas. Ela sempre tem algo a dizer. Sem perder o jeito Diablo de ser.

Pois é, quero ser Diablo Cody. Ou algo parecido. Não sei se a parte da stripper( me falta talento, hehe!) mas no resto. Mas pra isso, vou ter que comer muito hambúrguer e parar de pôr freios na minha imaginação. Afinal, foi por causa da Diablo que eu descobri que meninas de moleton que erram na vida podem ganhar as telas e o coração das pessoas. Thanks, Diablo!

Bjus da Bia

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Studio Rock


Sim, mordi minha língua! Desde o primeiro semestre eu grito aos quatro ventos que não quero fazer tv. Mas daí veio a Renuska querida, com aquele jeitinho e largou a bomba: vamso fazer o Studio Rock? Como é que eu ia dizer não? A criatura pegou num dos meus pontos fracos, falar de música!
Confesso que as minhas duas primeiras gravações foram movidas a muito nervosismo e dificuldade de dicção. Mas nem dá bola! Se a gente não tentar, corre sérios riscos de se arrepender depois. Sem contar que montar cenário estressa, mas no fim das contas é a parte mais divertida!
Então, lá vai o convite: Dia 23 estréia Studio Rock, o seu programa de música da Tv Unifra. Com Renuska Celidonio e Rodrigo Simões no comando e essa Bia que vos escreve contando as Histórias do Rock. Ao meio-dia, com reprise as 7 da noite, canal 15 da NET. Não percam!

Bjus da Bia

domingo, 11 de maio de 2008

Canção amor

Ao telefone...

- Tu tá estranha...
-Eu? Capaz! Impressão tua.
-Aconteceu alguma coisa?
-Não. Nada.

Silêncio.

-Tá bom, eu conto. Eu liguei pra ele.
-Outra vez?
-Fazia tempo que não ligava.
-Mentira...tu vive achando uma desculpa pra ligar pra ele.
-Mentira! Eu precisava mesmo falar com ele.
-Pra quê?
-Pra pedir um favor.
-Que favor?
-Não interessa!
-Eu vou lá ouvir música. Tu só me estressa.

Uma hora e meia depois...

-Alô?
-Que tu quer?
-Tu viu que a nossa canção tocou no rádio.
-Tá precisando aprender a mentir melhor, sabia?
-É verdade! Eu juro.
-Homem quando jura é porque tem coisa...
-Como tu pode ser assim? Tocou e eu ouvi.
- A nossa canção nunca toca no rádio.
-Posso saber por quê?
-Porque ela é longa e complicada demais.

Tu, tu, tu, tu, tu...

Bjus da Bia

Quem sou eu?

O Orkut me pergunta toda semana e eu não sei responder. Daí fui espairecer pra tentar responder. Acabei achando um livro da Martha Medeiros(que é uma poeta maravilhosa, mas como cronista não me toca muito) que falava disso: você é tudo que já viveu, comeu, conheceu, beijou, leu, viu, etc.
Inspirada nisso, resolvi juntar os cacos que me fazem ser eu.

Quem sou eu? Eu sou...
Os joelhos esfolados no recreio da escola. Mue primeiro All Star. A boneca que chorava. A lancheira da Mônica que nunca fechava direito. A primeira aula de balé. A última aula de balé. A primeira sessão de cinema.Os brigadeiros de panela no domingo. A primeira coreografia. A primeira troca de olhares. O beijo ao som de Lynyrd Skynyrd. As madrugadas conversando. As gargalhadas que só nós entendíamos. As aulas da Viviane. As aulas do Sidi. As tardes ouvindo vinil, deitada no tapete da sala. As gincanas. As festas na casa da Ari. Os papos de música com a Cíndia. O pôster do Nirvada da Li. As caretas do Bernardo no meio da prova. As tardes ouvindo o Cafezinho. As noites de segunda escutando o Baú do Rock. O primeiro poema. Os rabiscos no caderno. Os pôsteres na parede do quarto. Os sábados assistindo faroeste com o vô. Os poemas que parecem ser feitos pra mim. Bob Dylan o tempo inteiro. O moleton azul. A minisaia preta. A farra nas maquiagens da Sabrine. As danças em frente ao espelho. O disco do Dylan que sumiu. O pedido de casamento. Os papos no msn. A faculdade. Os sonhos. Os roteiros que habitam minha cabeça.

é um bom começo pra uma resposta...

Bjus da Bia

sexta-feira, 9 de maio de 2008

Um novo sentido

Na hora de escrever meus poeminhas queridos, sou guiada 100% pela emoção. Acho que até quando escrevo minhas matérias pra faculdade é assim, apesar do bichinho do "prestão atenção no lead" estar sempre do meu lado. Na hora que o poema acontece não tem como fugir. Pelo menos quando eu tentei fugir, acabei deixando escapar boas idéias. Enfim, mas ainda no compasso dessa semana de Feira do Livro, me vi tomada por uma sensação diferente: vi um poema meu ganhar outro significado pra mim. O que antes eram versos que nasceram de um fora antológico que tomei aos 16 anos, passaram a narrar a minha situação atual, aquela fase de "preciso esquecer essa história e partir pra outra, mas tá brabo".
Mudou o cara. Mudou a minha idade. Mas os versos ainda se encaixam. Fiquem com eles e divirtam-se!
Bjus da Bia

AINDA TOCA

Bianca Zasso

Lá vem ele:
o cara que até ontem,
entorpecia meus ouvidos
ensurdecia meu coração

A vida e seus rebotes violentos
chicoteando sem dó
indo aos pouquinhos
fazendo a bagunça.
Sequei por dentro
abandonei a batalha.
Só preciso de um gole
e tudo volta ao normal.

Eu não devia
mas olho pra trás:
lá vai ele
o cara que ainda arranha
meu lado B.

A madrinha


Primeiro de tudo: Thanks pra quem apareceu lá na Feira, ou então entrou em contato pra dizer "vai lá, garota!". Gracias, gracias!. Em segundo, aí vai uma historinha real, mas que podia virar um roteiro. Afinal, é a vida a melhor matéria-prima para o cinema, né?
Feira do Livro de 2004. Lá estava eu passeando pelas bancas com um brilho no olho que poucas vezes acontece. Adoro ver aquela praça recheada de livros e gente em busca deles. Fui até a banca da Casa do Poeta e comprei "Coração Guepardo", livro que me chamou a atenção pelo título: forte, sensível, enigmático. E qual não foi a minha surpresa ao encontrar a autora, Haydée ali, bem pertinho. Fui pedir um autógrafo( por motivo de que nem me lembro, acabei perdendo o lançamento, que foi no dia anterior). Papo vai, papo vem, o resultado foi esse: ela me lia e gostava. Pra quem pensava que seus poemas não alcançavam nem a próxima esquina, foi uma grata surpresa. Trocamos telefones e, entre um torpedo e outro, surgiu o convite pra integrar a CAPOSM. Aceitei, óbvio. E daí vieram outros poetas-amigos, três Confrarias e muitas trocas de idéias.
Haydée foi a minha madrinha. Eu me derreto com os versos dela e estou sempre atenta a sua opinião sobre os meus. Gracias, querida! Se não fosse por ti, meus versos estariam mofando na gaveta, encabulados como a dona deles.

E pra provar que eu estou muito bem de madrinha, aí vai um poema.

JUVENTUDE

Haydée Hostin Lima

...existe uma menina
navegante álacre nas
veias do meu destino
ás vezes vem tomar sol
na praia do meu pranto
e fácil se esconde
no meu riso
séria visita pronta sem juízo
anda larga em desejos
sai pelos meus dedos
desponta tranqüila
quando me quebro
em requebros a sós
escondida ávida
celebrada comovida
convidada por seus
beijos...

domingo, 4 de maio de 2008

Convite

Gurizada medonha, dia 7, quarta-feira, essa moça que vos escreve, junto com todo pessoal talentoso da Casa do Poeta de Santa Maria, vai estar na Feria do Livro lançando Confraria (in) verso VI . Todo mundo convidado, ok??
Ah, e prestigiem a Feira inteira...encham as sacolas!!!
Bjus da Bia

sexta-feira, 2 de maio de 2008

O primeiro tiro



Tanta gente pergunta que eu resolvi contar. Não sei exatamente o dia, nem a hora. Só lembro que era frio, muito frio. Tal qual está o dia lá fora hoje. Eu achei que estava sentando diante da televisão para ver mais um filme violento, mas não foi assim. Eu estava diante daquele que seria o estopim de uma das minhas paixões: o faroeste.
O filme: Era uma vez no oeste. No comando da "ópera da morte", Sérgio Leone. Um italiano perfecionista e dono de uma sensibilidade única para trasformar tiros, cavalos e poeira em obra de arte. O toque final: Charles Bronson e seu jeitão quieto de sempre dividindo a cena com os profundos olhos azuis de Henry Fonda.
Estava decretado o meu amor pelos westerns.
Eu devia ter uns 15 anos quando isso aconteceu. E daí por diante o que se viu foram muitas conversas com o meu avô( um eterno apaixonado pelo gênero...será genético?), muitas pesquisas, filmes, livros e sonhos. Uma série de imagens que eu vou levar pro resto da vida. Yul Brynner comandando os sete magníficos. John Wayne mandando a população pastar e indo em busca de uma quadrilha. Terence Hill mandando ver ao lado de Bud Spencer. Os rastros de ódio e a mea-culpa do John Ford. Tio Clint esbanjando charme e balas na trilogia do dólar.

Bang-bang tem fama de filme de garoto, com muito sangue e duelos. Talvez por isso algumas meninas ainda recuem diante da poeira do oeste. Não temam, companheiras! Quase sempre somós nós as responsáveis pelo duelo final. Quer mais poder que isso?

Bjus da Bia

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Na cama com Grateful Dead

A garota sentou na cama e pediu um tempo pra pensar.

Não podia ter acontecido assim. Hora marcada, local estratégico. Não, definitivamente não podia ser assim. Solução? Aquela hora da noite ele devia estar dormindo ou ocupado com trabalhos que nunca têm fim. Ela nunca entendeu muito bem o que ele fazia. Ele nunca entendeu porque ela queria tanto saber. Não restava mais nada a não ser ficar na cama arrancando o esmalte que sobrou nas unhas.
Será que foi tudo um erro de interpretação? Mas e aquelas palavras? Ninguém fala aquelas coisas do nada! Vai ver ele é um maluco e eu entendi tudo errado. Ou vai a maluca sou eu e ele só quis ser gentil. Mas homens não são gentis com garotas assim, feito eu. A não ser que estejam muitos bêbados. Mas e a história do brinco? O cara reparou no meu brinco! E ele nem é dono de loja de bijuterias que eu sei! Será que ele falou por que era grande demais? E a letra? Ele reparou na minha letra tremida no guardanapo quando eu anotei o meu número. Será que é daqueles que identiicam a personalidade pela letra? Vi isso numa revista, uma vez. Minha letra tremida...que será que ele pensa quando lê aquele guardanapo? Vai ver já usou ele pra limpar a boca e jogou no lixo depois.
Chega. Não ligo mais. Que se exploda o cara da minha vida...ele não existe mesmo e nem se parece com ele. Vou voltar aos homens errados. Talvez me acerte melhor.
Ou então vou passar o resto da vida indo pra cama com o Grateful Dead.

Bjus da Bia

Elevador

O amor é um elevador. E isso não é uma rima pobre. É a mais pura e incontrolável realidade. Quando nos apaixonamos, um elevador maluco e sádico se constrói dentro de nós.
Ele vem vindo. Lindo! Com a camisa mal abotoada, a cara amassada e a calça puída, mas seus olhos o enxergam lindo. E lá vem o lindo. O elevador sobe, chega na sua garganta, quase te engasga. O lindo diz oi. O elevador vai sair pela sua boca. O lindo senta-se ao seu lado. Quase no mesmo instante, o elevador desce um pouco e faz uma parada brusca na altura do estômago. Aí, endoidece de vez. Sobe, desce. Sobe, desce. Desce, sobe. Sobe rápido e desce devagar. Sobe e desce sem parar. E assim continua até o fim da noite.
O lindo vai embora. Vai subindo devagar. O lindo diz que vai te ligar pra marcar uma saída, pra conhecer a nova casa de shows da cidade. Sobe, sobe, sobe, sobe ! Você reza. Pára de subir, pelo amor de Deus , que eu preciso falar!Você topa. O lindo vai, aos poucos se afastando. O elevador vai, aos poucos, descendo. Você volta pra casa. Espera. Elevador equilibrado. Passam cinco horas. Um dia. Dois. Uma semana. Três. O elevador se aproxima do chão. Você tem quase certeza que aquela elevação, que parecia ser um calo provocado por seu sapato novo , é a porta do seu elevador. Um mês. Telefone mudo. Elevador quebrado. Fossa total. O canalha, que a um mês atrás era o lindo, deve ter esquecido seu telefone. Você chora. Não me venha dizer que não chora, que esse discurso feminista auto-suficiente não me convence.
Quatro meses depois....
O telefone toca. É o Guto, seu amigo dos tempos de faculdade. Nossa, o Guto! Ele convida você para ir jantar na casa dele, conversar um pouco, relembras as hsitórias da turma. Você topa. Desliga o telefone e volta aos seus afazeres. Via ser legal sair com o Guto, você pensa. Mas, e o lindo? Lindo? Ah, sim. Me lembro bem. O Guto era um dos mais lindo da turma.
Reformas à vista. Um novo elevador começa a formar-se, pronto para subir, descer e amar.