domingo, 28 de agosto de 2011

A guerra de Billy


Diga o nome Billy Wilder numa roda de cinéfilos e será inevitável: o centro das atenções será o senso de humor desse diretor polonês que conquistou Hollywood em plena sua década de ouro. Responsável pelo roteiro e direção de Quanto mais quente melhor,considerada a melhor comédia de todos os tempos, segundo o American Film Institute, Billy Wilder gostava de dizer que era um diretor de comédias mas, como a maioria de seus contemporâneos, passeou por vários gêneros. Drama familiar com Farrapo Humano, inaugurou o cinema noir com Pacto de Sangue e deu um show de direção em Testemunha de acusação, um dos melhores filmes de tribunal já feitos. Mas nem só de cotidiano vivia Wilder. A guerra, esse tema tão pesado e controverso, também deu suas caras na obra do diretor. E não foi só uma vez.

Em Inferno n° 17, Wilder narra a trajetória dos prisioneiros de num campo de concentração alemão durante a Segunda Guerra. Poderia ser mais um filme sobre soldados americanos sofrendo nas mãos dos seguidores de Hitler, mas Wilder acrescentou o seu tempero na trama. E foi uma colher bem generosa.
Protagonizado por William Holden e com uma participação muito especial do diretor Otto Preminger, que, assim como Wilder, também deixou seu país de origem, a Áustria, para trabalhar nos EUA, no papel de um general alemão atrapalhado. Aliás, só em um filme de Wilder um general alemão seria atrapalhado. Mas ele vai além e coloca, entre uma sequência séria e outra, verdadeiros esquetes de humor recheados da fina ironia típica dos diálogos de Wilder. Ironia essa que ajuda a equilibrar o amargo tema central do filme: a traição em tempos de guerra. Uma das melhores cenas do longa de 1953 é a de um baile de natal improvisado, onde os prisioneiros deixam o preconceito de lado e formam duplas pra lá de animadas para dançar.
Depois de acomodar sua câmera entre os beliches apertados de um campo de concentração, Billy Wilder resolveu ir mais longe e focar seu olhar ácido para o Marechal Rommel e seu plano de destruir o exército britânico.

Cinco Covas no Egito nos apresenta a história do cabo inglês John Bramble que, após ver seus colegas de batalha serem mortos no confronto com os alemães, acaba encontrando refúgio em um hotel em pleno deserto. Tudo estaria bem se não fosse a chegada de Rommel e sua comitiva, que transforma o local em quartel general. Para escapar, Bramble assume o lugar de Davos, o garçom do hotel. O que ele não esperava era que o empregado fosse um informate do exército alemão.
O tema é complicado, afinal, trata-se de um dos períodos mais violentos da 2ª Guerra Mundial. Mas Wilder imprime em cada fala, cada cena, um pouco de sua visão irônica, transformando o temido Rommel em um homem carrancudo e vaidoso, personagem que cai como uma luva no ator e diretor Erich von Stroheim. E mesmo em momentos dramáticos, como os interpretados por Anne Baxter, que vive uma francesa que tenta a todo custo tirar o irmão mais novo do campo de batalha, encontramos a presença do humor. Não um humor rasgado, com piadas prontas típicas dos pastelões. Mas um humor sutil, presente nas palavras e nas entonações e que não soa forçado em nenhum momento. Mais que aliviar o clima tenso, os pequenos deboches servem para conduzir a trama com mais veracidade, já que nenhum mundo é feito só de sofrimento.
Billi Wilder será sempre o homem das boas comédias. Não aquelas que nos fazem gargalhar até ficarmos vermelhos, mas aquelas que nos fazer rir com o canto da boca, no melhor estilo "é, é bem assim mesmpo". Cinco Covas no Egito é uma amostra do olhar de Wilder para com o mundo: um filme de guerra, sofrido como todo filme de guerra, mas dotado daquele sorriso assustador que o lado negro sempre insiste em manter firme.
Bjus irônicos da Bia


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Gosto de tabaco


Meu avô fumou do 14 aos 68 anos. Ou seja, cresci cercada de fumaça,conhecia praticamente todas as marcas de cigarro e o cowboy da Malboro talvez tenha sido um dos meus primeiros amores westerns. Sei que fumar faz muito mal a saúde e nunca senti a mínima vontade de experimentar uma tragada. Aliás, só de sentir o cheiro já me embrulha o estômago. Deve ser por isso que só me sinto a vontade com fumantes dentro da sala escura. E não estou falando de cinemas onde vale tudo. Eu gosto é de crivos acessos na tela grande.
O filme noir não seria tão noir sem a fumaça surgindo da ponta das piteiras das femme fatales ou próximos aos lábios dos rapazes charmosos. Bogart que o diga! Fez multidões se iniciarem no mundo do fumo e deixou esse mundo em decorrência de um câncer de pulmão. Escritores, suas máquinas de escrever...e seus cigarros. O jovem transviado, sua máquina potente...e seu cigarrinho combinando com a jaqueta de couro vermelha. Cigarro e cinema andam juntos faz tempo. Mas nenhum filme tem tanta nicotina quando Cortina de fumaça.A produção independente, lançada em 95 e dirigida po Wayne Wang, é uma verdadeira ode ao tabaco e as boas histórias. Na trama, troca-se a mesa de bar e suas filosofias baratas pela tabacaria comandada por Auggie Wren, interpretado com leveza e talento por Harvey Keitel, ponto de encontro dos amantes de cigarros e charutos. Entre um maço e outro, eles discutem basquete e futebol americano, sofrem, brigam. Wang pegou 5 personagens com histórias distintas, unidas apenas pelo rolinho branco que seguram entre os dedos. E o que poderia tornar-se um emaranhado sem pé ne cabeça é muito bem abordado pelo diretor, que demosntra em cada cena uma dedicação carinhosa por suas criações. Esse carinho também é fruto do autor do roteiro, o escritor Paul Aster, famoso por se valer do cotidiano para criar personagens tocantes sem nem uma pitada de pieguice.
Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim, Cortina de fumaça inebria o espectador a tal ponto que, em certos momentos, é possível sentir o ar pesado pela fumaça. Da fotografia amarelada aos ventiladores eternamente ligados, tudo nos leva até o escaldante verão de Nova York, e a um Auggie obssessivo por fotografar a mesma rua, na mesma hora, faça chuva ou faça sol. Uma maneira de lembrar que aquele lugar que é sempre o mesmo, nunca está igual. Uma nova cor na parede, um novo morador no prédio, um novo artigo na vitrine. Tudo muda e é tudo igual. Como um cigarro depois do outro.
No mesmo ano de Cortina de fumaça, Wang e Aster se uniram novamente e fizeram Sem Fôlego, uma espécie de continuação do primeiro longa. O roteiro não é tão empolgante, mas vale pelas participações especiais de gente como Jim Jarmush,Lou Reed, Michael J. Fox e Madonna, numa verdadeiro ode aos tipos excêntricos americanos. Mas mesmo cheio de estrelas, Sem Folêgo não supera Cortina de fumaça e sua cena final, um monólogo de Harvey Keitel como só ele conseguiria fazer e a sequência que vem em seguida, merece aplausos por sua fotografia em preto e branco e a voz nicotinada de Tom Waits. Daquelas cenas que deviam poder ser tragadas de tão boas.

Bjus da Bia


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Love


Falar de amor no cinema não é novidade. Desde que 24 quadros por segundo passaram a significar bons momentos, beijos, abraços e carinhos sem ter fim sempre estiveram presentes nos mais variados gêneros e sob as mais diversas abordagens. Mas um filme, pelo qual nutro uma relação dúbia, insiste em encabeçar as listas dos mais românticos de todos os tempos.
Love Story - Uma história de Amor,dirigido por Arthur Hiller, nasceu da cabeça do roteirista Erich Segal, que aproveitou o sucesso estrondoso do filme para transformar seu roteiro em livro (seria um escritor frustrado tentando uma pequena felicidade?). E a juventude dos anos 70 soluçava ao ver o romance da suburbana Jenny e do milionário Oliver. A velha fórmula menina pobre+garoto rico=paixão e lágrimas.
Fiz o seguinte caminho na minha descoberta de Love Story: li o livro, um exemplar amarelado herdado de mamãe, quando tinha 15 anos. Óbvio que os hormônios e a babaquice típica da adolescência me fizeram idolatrar aquela trama simples e triste. Só anos depois, aos 21, tive a oportunidade de assistir ao filme. O que senti?

Nada.
Nadica.
Nops!

Estranho, não? Nem eu conseguia entender o que se passava na minha cabeça quando os créditos finais começaram a aparecer na tela. Estava feliz? Triste? Queria repeteco? Não sei dizer. Minha única certeza naquele momento é que Love Story tem todos os ingredientes de uma produtora que encontra-se prestes a falir. Possui todos os clichês de um início de romance hollywoodiano, flertando com pouca habilidade em alguns momentos com o screenball comedy, e, quando poderia dar um rumo surpreendente para a trama, se vale da morte da protagonista para deixar o público com o coração na mão.
Contei o final, estraguei a festa. Não é pra tanto, queridos leitores. Love Story se revela logo nas primeiras cenas: será um amor complicado, dois jovens construindo uma vida e tendo seus planos futuros interrompidos por uma doença fatal. Isso sem contar as cenas de romance na neve e afins. Escorre mel de tão doce. E falso.

Você aí, se chegou até o final deste texto, deve se perguntar: afinal, Bia, tu gosta ou não desse filme? Olha, gosto da trilha, gosto do figurino, Ali MacGraw está linda como nunca e acredito sim, que amar é jamais ter que pedir perdão. Mas acho que esse amor podia ter outro fim ou então um novo modo de fim. É bonito, mas envelheceu. Não me convence mais. Mas ainda diverte, tenho que confessar.
Pensando melhor, talvez quem tenha envelhecido fui eu. Envelhecido a ponto de ter um romantismo diferente do que habitava minha cabecinha aos 15 anos. Não sou mais Jenny. Talvez nunca tenha sido. Mas uma coisa não mudou: aind acredito em histórias de amor.

Bjus da Bia

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Amar sem razão


O dia dos pais é no próximo domingo e seria esperado que eu selecionasse algum filme sobre pais e filhos. Até tentei. Mas não sei se por destino ou por instinto, foi o tema maternidade quem deu as caras por aqui essa semana. Mas não é qualquer maternidade. É a mais sofrida de todas elas. A que lida com a perda.
Ha tanto tempo que te amo, filme de estreia do francês Phillippe Claudel narra um reencontro que nada tem de terno ou reconfortante. Juliette, interpretada pela sempre sublime Kristin Scott Thomas, vai morar com a irmã mais nova após passar 15 anos na prisão. Seu crime: assassinato. Seria mais uma daquelas personagens tentando um recomeço após um longo período atrás dos muros de uma penitenciária não fosse um pequeno detalhe. O crime cometido por Juliette envolve seu filho de 6 anos. Quando essa informação chega até nós, espectadores, a primeira reação é a de estar diante de um monstro. Sensação essa que só se acentua, graças ao olhar frio e tristonho com o qual Juliette observa o mundo.


Mas a trama tem um que de travesseiro novo, ainda frio pelo plástico da embalagem mas que, aos poucos, vai se acostumando ao nosso toque e ganhando uma nova forma, mais acolhedora. E, tal e qual o travesseiro que revela falhas ou torna-se imprescindível ao nosso sono, passamos a descobrir os defeitos e os motivos de Juliette. E são vários os defeitos, mas nenhum deles nos fere. O filme tem uma delicadeza natural que nos sentimos parte daquele mundo, mesmo que não vivamos na França. Não é o cenário o que importa, são as pessoas. Pessoas como nós, com dores impublicáveis que nunca vão sarar, mas que tentamos amenizar para seguir em frente.
Há tanto tempo que te amo é um filme sobre mães de verdade. Sem canções de ninar ou enxoval bordado. Mas com um amor que ultrapassa aquilo que o mundo real nos cobra toda hora: a razão.
Bjus da Bia