sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Paiê!


Tá bom, é só domingo. Mas a ansiedade é uma moça que ainda me visita na hora do mate e vai ficando, ficando... Falar da minha relação com meu pai é engraçado. Passei boa parte da vida vendo ele como um irmão bem mais velho, sempre disposto a acobertar minhas travessuras e até incentivá-las. E como toda supla de "irmãos" as brigas eram frequentes. Sempre por bobeiras e nunca duravam mais do que meia hora. Os pedidos de desculpas aconteciam sempre antes dos dois pegarem no sono. Era a ordem da casa: ninguém vai dormir brigado.
Pra quem não sabe, meu pai é sapateiro e estudou só até a oitava série. Já a minha mãe é economista. Um casal insólito que se entende de um jeito que só vendo pra acreditar. Ele sempre disposto a aprender, viajando pros quatro cantos do mundo e escutando atento tudo que ela diz. Meu pai gosta de aprender e nunca se fez de vítima por não ter muito tempo de estudo. Adora uma novidade. Lembro da primeira vez que levei ele ao Cineclube UNIFRA, mostrei o informativo que eu havia escrito e assisti junto com ele Buena Vista Social Club, do Wim Wenders. A sessão terminou e saímos os dois faceiros. Eu soltando o verbo sobre o diretor alemão e ele só ouvindo. Gosto disso. E gosto mais ainda quando estou ouvindo música e ele passa pela porta e grita: "que rock pauleira é esse, dio santo!".
De uns 5 anos pra cá, a saúde dele ficou frágil e as idas e vindas do hospital aumentaram. E aumentou também a nossa amizade. Entre um exame e outro, trocamos ideias sobre carros antigos (nassa paixão!), eu ensinei ele como se faz um filme, li trechos de Clarice Lispector e aprendi táticas futebolísticas dos times de várzea. Também teve os silêncios. Mas não aqueles castradores, onde a gente não sabe o que faz. Silêncio porque não precisa dizer. Tá tudo ali, no olhar.

Hoje, depois de todos os perrengues que passamos juntos, sinto que ele não é mais meu irmão e sim meu pai. Uma palavrinha tão curtinha, mas tão legal quando a gente descobre o verdadeiro significado.

Bjus, Saulo Antônio!!!!! E gracias por ser o melhor pai do mundo!

2 comentários:

James Pizarro disse...

Isso, guriazinha !!!
Escreve.
Diz.
Fala.
Testemunha
Passa.
Repassa.
Espalha.
Repete.
Faz de tudo
Para que ele ouça.
Muitas vezes.
Antes que ele se vá.
E tu te arrependas
De não tê-lo feito.

Beijo

James Pizarro

Joyce Noronha disse...

Nooooooossa Bia! Esse texto me emocionou profundamente, e eu não tô brincando, tô com os olhos cheios d'água aqui. Tenho uma relação turbulenta com meu pai e apesar dos anos de distância, da falta dele e da ausência sei que meu pai é meu AMIGO! Hoje tenho mt orgulho do "velho", são quatro anos de sobriedade. Pode não parecer muita coisa, mas pra quem passou 19 anos brigando por isso vejo estes quatro como 100.

Parabéns pelo lindo texto!

Bjoks e abraços da Joy