sábado, 7 de agosto de 2010

Close-up

Sofro de uma paixão incurável pela madrugada. Já vi o sol nascer e se pôr várias vezes, é lindo demais, mas nada me seduz mais do que a madruga. Seja no frio europeu que anda fazendo nos últimos dias ou no abafamento do verão, pra mim este é o melhor horário para a diversão. Enão me venham pensar bobagens:)
É nas altas horas que eu gosto de ler e escrever. Nesses últimos dias, tenho me deliciado com A experiência do cinema, uma coletânea organizada pelo grande professor Ismail Xavier. O livro tem desde textos básicos de Eisenstein e Pudovkin, até ensaios de psicólogos aclamados discutindo a identificação do público com os personagens eternizados pela sétima arte. Mesmo diante de tantas boas opções, um texto não me saía da cabeça. Mais precisamente, um trecho do artigo A face das coisas, escrito pelo poeta e crítico húngaro Béla Bálazs. Diz o seguinte:

"Os bons close-ups são líricos; é o coração, e não os olhos, que os percebe."

Bravo! Pode soar piegas para alguns, mas sempre entendi o close-up como o grande trunfo do cinema. Vai dizer que você nunca sentiu aquele músculo disparar no seu peito quando o bandidão mais temido do oeste mete seus olhos sinistros na tela grande? O meu dispara só de imaginar a cena. Mas eu sou moça de interior e me encanto fácil por qualquer cowboy ;)
Toda essa ladainha é pra dizer que eu tenho sentido falta de olhares. Não qualquer olhar, olhares reais. Close-ups da vida real. O mundo tá virado em webcam, scrap, Twitter...não que eu não goste disso, eu a-do-ro, mas não pode ser esse o resumo da ópera.
Eu, uma tímida convicta, que fica da cor de um tomate maduro quando percebe que está sendo observada, peço em alto e bom som: olhe nos olhos, caramba! Daí você, do outro lado da tela, vai me responder: isso é mole. Não, meu querido, passa longe disso. Vão ter momentos em que esse gesto será mais dolorido que qualquer soco na cara. Depende de quem olha. Depende de quem vai ser olhado. Mas também pode ser um alívio, uma resposta sonhada pra uma pergunta que a boca da gente não conseguiu pronunciar.
Pronto, falei. Se esse mundo fosse mais moderno, olhava nos olhos de cada um dos meus leitores 9que são poucos, mas só gente buena) e agradecia a leitura deste post sem mover os lábios. Mas tô pensando seriamente em ensaiar meus dotes faciais diante da minha câmera amadora. Se der certo, mostro pra vocês. Em close.

Bjus da Bia

Um comentário:

James Pizarro disse...

Com aqueles lábios
de sugar néctar com delírio ?
Com aqueles dedos
e unhas longos de rasgar o dorso ?
Com aqueles dentes separados
de mordiscar orelha ?
Com aqueles olhos de tornado
e chuva de fazer tremer a terra ?
Tens razão.
Chega uma época que se quer amor de verdade...

Beijo

JP