terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sangue e romance


Eu sempre remei contra a maré e me meti onde não era chamada. Levei umas boas bofetadas por isso, mas também de diverti horrores. Um dos momentos onde isso acontecia com mais frequência era na escola. Por exemplo, eu fiz questão de ler todos os livros indicados na bibliografia do ensino médio antes de entrar no ensino médio. Nunca gostei que me mandassem ler algo, seja matéria em jornal ou romance. Eu escutava a dica, mas lia quando me dava na telha. O resultado: quando todo mundo rachava a cabeça tentando decifrart quais questões sobre Dom Casmurro iam cair no vestibular, eu já era amiga de infância da Capitu e do Bentinho.
Mas saindo um pouco da sala de aula, sempre rolam aqueles "livrinhos da vez", principalmente entre as meninas. Bem nessa época, eu estava devorando os dois primeiros livros da série Harry Potter, mas sempre dava uma espiada nas leituras das minhas amigas. Chegava a dar nojo! Todo mundo lendo O pequeno príncipe e Poliana, enquanto algumas quase babavam quando discutiam O mundo de Sofia. Já eu, entre uma e outra aventura do bruxinho inglês, me identificava com as dúvidas e amores de Elizabeth Bennet, a protagonista de Orgulho e Preconceito, da escritora Jane Austen. A moçoila pra frentex (aprendi essa com a minha vó) da literatura inglesa virou minha companheira das noites insones. Ia para aula morrendo de sono e rezando pro relógio correr e eu poder terminar mais um capítulo. Foi o meu livro durante muitos tempo. Ou melhor, ainda é meu romance preferido, talvez por ter sido o primeiro que fez meu coração bater forte. Pra mim, virou sinônimo de romantismo. Depois vieram Razão e Sensibilidade, Persuasão...mas tudo começou com Orgulho e Preconceito.
Ah, esqueci de dizer que não eram só os livros que me faziam companhia nessa época. Já tinha um tal de cinema na jogada. Não qualquer cinema, era Tobe Hooper, George A. Romero, Wes Craven. Zumbis e gritos por todos os lados. A descoberta do cinema de horror talvez seja a mais divertida da vida de cinéfilo. Bom, agora tem um tal de Seth Grahame-Smith. Não, ele não me conhece, nem eu conheço ele pessoalmente. Mas parece que ele resolveu unir as minhas duas paixões juvenis num livro só e lançou Orgulho e Preconceito e Zumbis, lançado aqui no Brasil pela editora Intrínseca. Nada mais é do que uma releitura do clássico de Austen com pitadas do gênero trash. Olhando por cima, parece um grande abacaxi. Ledo engano. Grahame-Smith conseguiu um equilíbrio único, se valendo do humor sutil de Austen para acrescentar elementos zumbis a trama. Ficou incrível e, espero, sirva de inspiração pra outros escritores. Bons escritores, é claro, pois adaptar um grande clássico é um desafio de dar frio da espinha. Lidar com boas histórias, admiradas por gerações de fãs ardorosos deve tirar o sono.
Mas Seth Grahame-Smith pode ficar calmo. Eu, apaixonada por Austen, ~posso garantir que ela não está se revirando no túmulo. Só se for de rir.


Bjus da Bia

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