segunda-feira, 30 de agosto de 2010
A bolsa e o lixo
Vi uma moça esses dias na rua com uma bolsa à lá Mary Poppins. Sabe aquele tecido que parece tapete? Pois é, era bem assim. Daí lembrei que preciso organizar a minha. Tem coisas lá dentro que nem eu sei como forma parar lá. Só de ingressos de cinema deve ter umas duas dúzias.
Entre as muitas funções que uma bolsa tem ( conhece alguma mulher que tem uma só? Duvido!) minha bolsa é lixeira, pois não consigo jogar lixo no chão. Quando a preguiça pensa em me pegar pelo braço antes que eu encontre um lugar adequado para a sujeira, eu lembro da minha vó e pimba, lá se vai tudo pra dentro da bolsa ou dos bolsos. Dona Branca vive com sua bolsa recheada de papeizinhos de bala 7 Belo (que ela come aos montes!)Ou seja, essa coisa de fazer da bolsa depósito de sujeira numa cidade como Santa Maria onde encontrar uma lixeira em bom estado é uma aventura digna de Indiana Jones é um hábito. Mas parece que nem todo mundo pensa assim.
Escuta essa.
Estava eu, leve e faceira, andando pela rua, quando vi um garotinho jogar uma lata de refrigerante no chão. Tá, ele não devia ter mais do que 5 anos e a gente até considera que está na fase de aprender o que é certo e errado. Mas o feio mesmo foi que a mãe dele pareceu amar a situação pois, minutos depois, amassou um folheto e pluft! jogou no chão. Que coisa bem linda! Dois porquinhos passeando no centro da cidade. Naquele momento, não teve como não lembrar das minhas amigas que insistem em dizer que a minha bolsa é um condomínio de bactérias de tanto papelzinho, bilhetinho, rabisquinho. Vou dizer uma vez só: a bolsa é minha, o "pobrema" é meu! Mas a cidade é nossa e tratá-la como eu trato a minha bolsa devia causar bactéria da braba.
Bjus da Bia, a rainha do lixão
sexta-feira, 27 de agosto de 2010
Chegou!!!
Há tempos queria fazer outro blog. Mas daí pensava: se eu não dou conta de encher de palavras um, quem dirá dois, né?! Mas imaginação não tem limite (amém!) e o que não falta é história na cabecinha maluca desta dona que vos escreve. Decidi fazer a faxina e colocar aqui nesse mundo virtual algo que me acompanha faz tempo: a Feia. Vem comigo que te explico. Assim, ó:
Quando eu tinha uns 16 anos ganhei mais um apelido: feia. Não preciso explicar porque, né? Enfim, esse apelido me incomodava, mas eu acabei acostumando e tirando até proveito da situação. Afinal, nunca levei desaforo pra casa e foi mamãe que ensinou isso.
Daí eu dei vida pra Feia. Dei nome, família, trabalho, problemas. Escrevia tudo nos cadernos da escola, chegava em casa e passava a limpo. Não sei porque me prestava a isso. Talvez pra guardar de recordação ou simplemente pra ter o que fazer e adiar o dever de física.
Semana passada eu achei os registros da Feia, dei uma lida, rabisquei aqui, cortei ali, atualizei acolá, deixei a moça nova no más! E vou mostrar pra vocês, se a loucura do tal de mundo real deixar. Espero que gostem. É ficção e não é. O que é o que eu não digo. Pensem o que quiserem. As feias (esta daqui e a que eu inventei) não se importam. :)
www.mariafeia.blogspot.com
Bjus da Bia
Quando eu tinha uns 16 anos ganhei mais um apelido: feia. Não preciso explicar porque, né? Enfim, esse apelido me incomodava, mas eu acabei acostumando e tirando até proveito da situação. Afinal, nunca levei desaforo pra casa e foi mamãe que ensinou isso.
Daí eu dei vida pra Feia. Dei nome, família, trabalho, problemas. Escrevia tudo nos cadernos da escola, chegava em casa e passava a limpo. Não sei porque me prestava a isso. Talvez pra guardar de recordação ou simplemente pra ter o que fazer e adiar o dever de física.
Semana passada eu achei os registros da Feia, dei uma lida, rabisquei aqui, cortei ali, atualizei acolá, deixei a moça nova no más! E vou mostrar pra vocês, se a loucura do tal de mundo real deixar. Espero que gostem. É ficção e não é. O que é o que eu não digo. Pensem o que quiserem. As feias (esta daqui e a que eu inventei) não se importam. :)
www.mariafeia.blogspot.com
Bjus da Bia
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Ela vem aí...
Esse posto não vai ter foto nem vídeo. Não, não é um poema. Aliás, tenho pensado muito sobre essa história de publicar poemas por aqui. Tenho lido meus versinhos e não encontrado graça nenhuma. Mas agora esquece, que é de outra coisa que eu quero prosear por aqui.
Ela vem aí. Tô criando um novo blog pra apresentar pra sociedade uma grande amiga. Há quase 10 anos ela está presente na minha vida, sempre cheia de idéias( com acento, e dane-se!)e com muitas coisas pra contar. Sempre tive incentivo para apresentá-la para o mundo, mas uma chata sem galochas chamada timidez nunca deixou. Agora mandei ela pastar e vamos ver no que dá. Assim que a viagem ( tô fora de casa, pessoal) acabar, dou uma faxinada na casa e passo o endereço pra vocês. Nã quero adiantar nada pra não criar expectativa nos poucos mas fiéis leitoras ( ou será que só o Pizarro ainda dá as caras por aqui:\
Mas uma coisa eu já aviso: ela é feia. E esperta no más.
Bjus da Bia
Ela vem aí. Tô criando um novo blog pra apresentar pra sociedade uma grande amiga. Há quase 10 anos ela está presente na minha vida, sempre cheia de idéias( com acento, e dane-se!)e com muitas coisas pra contar. Sempre tive incentivo para apresentá-la para o mundo, mas uma chata sem galochas chamada timidez nunca deixou. Agora mandei ela pastar e vamos ver no que dá. Assim que a viagem ( tô fora de casa, pessoal) acabar, dou uma faxinada na casa e passo o endereço pra vocês. Nã quero adiantar nada pra não criar expectativa nos poucos mas fiéis leitoras ( ou será que só o Pizarro ainda dá as caras por aqui:\
Mas uma coisa eu já aviso: ela é feia. E esperta no más.
Bjus da Bia
terça-feira, 17 de agosto de 2010
Sangue e romance
Eu sempre remei contra a maré e me meti onde não era chamada. Levei umas boas bofetadas por isso, mas também de diverti horrores. Um dos momentos onde isso acontecia com mais frequência era na escola. Por exemplo, eu fiz questão de ler todos os livros indicados na bibliografia do ensino médio antes de entrar no ensino médio. Nunca gostei que me mandassem ler algo, seja matéria em jornal ou romance. Eu escutava a dica, mas lia quando me dava na telha. O resultado: quando todo mundo rachava a cabeça tentando decifrart quais questões sobre Dom Casmurro iam cair no vestibular, eu já era amiga de infância da Capitu e do Bentinho.
Mas saindo um pouco da sala de aula, sempre rolam aqueles "livrinhos da vez", principalmente entre as meninas. Bem nessa época, eu estava devorando os dois primeiros livros da série Harry Potter, mas sempre dava uma espiada nas leituras das minhas amigas. Chegava a dar nojo! Todo mundo lendo O pequeno príncipe e Poliana, enquanto algumas quase babavam quando discutiam O mundo de Sofia. Já eu, entre uma e outra aventura do bruxinho inglês, me identificava com as dúvidas e amores de Elizabeth Bennet, a protagonista de Orgulho e Preconceito, da escritora Jane Austen. A moçoila pra frentex (aprendi essa com a minha vó) da literatura inglesa virou minha companheira das noites insones. Ia para aula morrendo de sono e rezando pro relógio correr e eu poder terminar mais um capítulo. Foi o meu livro durante muitos tempo. Ou melhor, ainda é meu romance preferido, talvez por ter sido o primeiro que fez meu coração bater forte. Pra mim, virou sinônimo de romantismo. Depois vieram Razão e Sensibilidade, Persuasão...mas tudo começou com Orgulho e Preconceito.
Ah, esqueci de dizer que não eram só os livros que me faziam companhia nessa época. Já tinha um tal de cinema na jogada. Não qualquer cinema, era Tobe Hooper, George A. Romero, Wes Craven. Zumbis e gritos por todos os lados. A descoberta do cinema de horror talvez seja a mais divertida da vida de cinéfilo. Bom, agora tem um tal de Seth Grahame-Smith. Não, ele não me conhece, nem eu conheço ele pessoalmente. Mas parece que ele resolveu unir as minhas duas paixões juvenis num livro só e lançou Orgulho e Preconceito e Zumbis, lançado aqui no Brasil pela editora Intrínseca. Nada mais é do que uma releitura do clássico de Austen com pitadas do gênero trash. Olhando por cima, parece um grande abacaxi. Ledo engano. Grahame-Smith conseguiu um equilíbrio único, se valendo do humor sutil de Austen para acrescentar elementos zumbis a trama. Ficou incrível e, espero, sirva de inspiração pra outros escritores. Bons escritores, é claro, pois adaptar um grande clássico é um desafio de dar frio da espinha. Lidar com boas histórias, admiradas por gerações de fãs ardorosos deve tirar o sono.
Mas Seth Grahame-Smith pode ficar calmo. Eu, apaixonada por Austen, ~posso garantir que ela não está se revirando no túmulo. Só se for de rir.
Bjus da Bia
domingo, 15 de agosto de 2010
Se afinar de tanto rir
Quando criança (será que já deixei de ser uma?) eu tinha vários apelidos. Bia era o mais comum deles, pois simplificava um nome italiano e nada sonoro que mamãe escolhei pra mim. Mas o que mais me incomodava quem me deu foram os colegas de escola: Mônica. Tudo porque eu era baixinha, golducha e dentuça. E era mesmo, qual o problema? Ser baixinha não era defeito, gordurinhas todo mundo tem. O que me dava nos nervos era o tal do dentuça.
Sim, sou dentuça. Tenho espelho em casa e sei disso. Mas porque ter os dentinhos avantajados é motivo de chacota? Na infância e na adolescência isso me incomodou muito, pois o que menos me importava era o tamanho dos meus dentes. Sempre tinha uma resposta na ponta da língua para os engraçadinhos de plantão que insistiam em ressaltar mais ainda esse pequeno detalhe da minha face. No fim das contas, tudo acabava em gargalhada. E é aí que eu quero chegar.
Gargalhar é uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida. Sabe aquele papo de perco o amigo mas não a piada? Levo à risca, porque sei que amigo que é amigo entende a piada e ri junto, sem guardar rancor. E eu tenho dois "amigos" em especial que sempre me fazem rir, e rir alto e com gosto: Peter Sellers e Jack Lemmon.
Conheci Peter Sellers numa daquelas gostosas sessões de filmes junto com meu vovô, que tem a gargalhada mais gostosa do mundo (ao lado da do Carlos Couto). A pantera cor-de-rosa, Um convidado bem trapalhão, Lolita do Kubrick...era risada atrás de risada. Aquela cara de panaca aliada ao jeito atrapalhado animaram muitas tardes do meu início de vida cinéfila. Ah, e renderam mais um apelido pra minha pessoa: Inspetor Closeau. Por quê? Sou estabanada desde o berço, quando derrubava a mamadeira no lençol recém-lavado.
E o Jack Lemmon? Bom, esse só de olhar dá vontade de rir. Quanto mais quente melhor é daqueles filmes-remédio: quando a coisa fica feia, bate aquela tristezinha, a gente coloca pra rodar e tudo muda. Uma piada mais inteligente que a outra, situações bizarras. E ainda tem Se meu apartamento falasse, outro clássico da dobradinha Lemmon/Billy Wilder.
Esses dois encabeçam uma lista de homens que me fazem rir que passa por tios (todo mundo tem um tio bom de piada) até humoristas da chamada nova geração. Todas essas lembranças, filmes e apelidos foram pra dizer que hoje eu não tenho mais aquela frescura de rir com a mão cobrindo a boca, cheia de vergonha do meu atributo dentuça. Dou gargalhadas bem faceira, sem medo. Faz um bem danado, tem que ver. A gente demora um pouco pra entender que ser dentuça ou bochechuda, tagarela ou desengonçada não é defeito, é a gente e pronto! Peça única e original? Ia ser a coisa mais chata do universo se todo mundo fosse lindo, divino e maravilhoso. Belezuras a parte, o pessoal podia se preocupar mais em ser feliz do que com o tamanho da bunda do vizinho. Ou não, dependendo da bunda e do vizinho.
Continuo baixinha, não sou mais gorducha mas nunca fui tão dentuça, muito obrigada. Enquanto os apelidos rolam, eu dou risada feliz da vida. Você, que apelida até carro abandonado, devia fazer o mesmo.
Bjus da Bia, e curtam com muito riso um dos finais mais engraçados do cinema!
sábado, 14 de agosto de 2010
A noite
Enquanto ela corre os olhos pelos livros da estante, ele atravessa a rua a passos largos. Enquanto ela finge interesse pelas frases do romance, ele beija sem pressa curvas muito diferentes das dela. Enquanto ela sussurra uma proposta, ele adormece em paz. Enquanto ela muda a estampa do vestido, ele cantarola feliz.
Quando os dois entram em casa, o espelho se quebra.
Ninguém vê nada. Enquanto ela se entrega, ele finge acreditar.
Quando os dois entram em casa, o espelho se quebra.
Ninguém vê nada. Enquanto ela se entrega, ele finge acreditar.
terça-feira, 10 de agosto de 2010
Aquela da ervilha
Papo no msn pegando. Minha amiga Juliano, que ano que vem se forma em pedagogia (ebaaaa!) está estudando as princesas criadas por Hans Christian Andersen. A conversa tava muito boa, cheia de novidades, mas eu me vi feia no retrato quando recebi uma perguntinha aparentemente simples da Ju.
- Bia, me diz qual é a tua princesa favorita? Todo mundo tem uma :)
- Vixi, essa me pegou!
Perguntar é meu maior vício, mas não ter respostas sempre me deixa sem graça. Respondi que era A Bela adormecida, por causa do filme da Disney. Mas era mentirinha, daquelas do bem que a gente se vê obrigado a contar. Quase perdi o sono naquela noite. Até que acabei esquecendo. Só que...bom, senta que lá vem a história!
Eu tava lá de bobeira, ouvindo Chico Buarque, comendo Twix e rabiscando uma bobagem qualquer. Como sempre, TV ligada , mal de família. Daí eu parei de mastigar e escrever pra olhar pra tela.
A TV Cultura (que tá passando por uma crise feia, pra desespero dos telespectadores)está reprisando a série Contos de Fada, produzida pela atriz americana Shelley Duvall, a eterna Olívia Palito do cinema. O programa, que é um sucesso na América, apresenta versões em estilo teatral das principais histórias infantis com um elenco sempre recheado de estrelas. Me deparei com Liza Minnelli (Cabaret!) interpretando a protagonista de A princesa e a ervilha. Fixei os olhos na telinha e só parei quando terminaram os créditos finais. Sabe aquelas imagens que trazem várias lembranças?
Lá estava eu pensando no primeiro livro que li na vida - uma versão (imagem acima) capa dura e bem ilustrada de A princesa e a ervilha, da coleção Pom Pom. Que fim ela levou não lembro, mas posso afirmar que chegou um tempo em que eu não precisava mais ler, apenas olhar as figuras que eu já lembrava de tudo. Me fascinava o estranho teste de sentir uma ervilha debaixo de vinte colchões e vinte lenções para provar a realeza de uma moça. Acho uma das tramas mais interessantes dos contos de fada. Não tem sapatinho de cristal nem beijo-despertador, mas tem um toque de mistério único. Seria aquela garota delicada uma princesa de verdade?
Precisei voltar aos tempos em que a minha babá era a TV para conseguir responder com certeza qual era a minha princesa favorita. Hoje falo sem pestanejar: eu gosto daquela da ervilha.
Bjus da Bia
sábado, 7 de agosto de 2010
Close-up
Sofro de uma paixão incurável pela madrugada. Já vi o sol nascer e se pôr várias vezes, é lindo demais, mas nada me seduz mais do que a madruga. Seja no frio europeu que anda fazendo nos últimos dias ou no abafamento do verão, pra mim este é o melhor horário para a diversão. Enão me venham pensar bobagens:)
É nas altas horas que eu gosto de ler e escrever. Nesses últimos dias, tenho me deliciado com A experiência do cinema, uma coletânea organizada pelo grande professor Ismail Xavier. O livro tem desde textos básicos de Eisenstein e Pudovkin, até ensaios de psicólogos aclamados discutindo a identificação do público com os personagens eternizados pela sétima arte. Mesmo diante de tantas boas opções, um texto não me saía da cabeça. Mais precisamente, um trecho do artigo A face das coisas, escrito pelo poeta e crítico húngaro Béla Bálazs. Diz o seguinte:
"Os bons close-ups são líricos; é o coração, e não os olhos, que os percebe."
Bravo! Pode soar piegas para alguns, mas sempre entendi o close-up como o grande trunfo do cinema. Vai dizer que você nunca sentiu aquele músculo disparar no seu peito quando o bandidão mais temido do oeste mete seus olhos sinistros na tela grande? O meu dispara só de imaginar a cena. Mas eu sou moça de interior e me encanto fácil por qualquer cowboy ;)
Toda essa ladainha é pra dizer que eu tenho sentido falta de olhares. Não qualquer olhar, olhares reais. Close-ups da vida real. O mundo tá virado em webcam, scrap, Twitter...não que eu não goste disso, eu a-do-ro, mas não pode ser esse o resumo da ópera.
Eu, uma tímida convicta, que fica da cor de um tomate maduro quando percebe que está sendo observada, peço em alto e bom som: olhe nos olhos, caramba! Daí você, do outro lado da tela, vai me responder: isso é mole. Não, meu querido, passa longe disso. Vão ter momentos em que esse gesto será mais dolorido que qualquer soco na cara. Depende de quem olha. Depende de quem vai ser olhado. Mas também pode ser um alívio, uma resposta sonhada pra uma pergunta que a boca da gente não conseguiu pronunciar.
Pronto, falei. Se esse mundo fosse mais moderno, olhava nos olhos de cada um dos meus leitores 9que são poucos, mas só gente buena) e agradecia a leitura deste post sem mover os lábios. Mas tô pensando seriamente em ensaiar meus dotes faciais diante da minha câmera amadora. Se der certo, mostro pra vocês. Em close.
Bjus da Bia
É nas altas horas que eu gosto de ler e escrever. Nesses últimos dias, tenho me deliciado com A experiência do cinema, uma coletânea organizada pelo grande professor Ismail Xavier. O livro tem desde textos básicos de Eisenstein e Pudovkin, até ensaios de psicólogos aclamados discutindo a identificação do público com os personagens eternizados pela sétima arte. Mesmo diante de tantas boas opções, um texto não me saía da cabeça. Mais precisamente, um trecho do artigo A face das coisas, escrito pelo poeta e crítico húngaro Béla Bálazs. Diz o seguinte:
"Os bons close-ups são líricos; é o coração, e não os olhos, que os percebe."
Bravo! Pode soar piegas para alguns, mas sempre entendi o close-up como o grande trunfo do cinema. Vai dizer que você nunca sentiu aquele músculo disparar no seu peito quando o bandidão mais temido do oeste mete seus olhos sinistros na tela grande? O meu dispara só de imaginar a cena. Mas eu sou moça de interior e me encanto fácil por qualquer cowboy ;)
Toda essa ladainha é pra dizer que eu tenho sentido falta de olhares. Não qualquer olhar, olhares reais. Close-ups da vida real. O mundo tá virado em webcam, scrap, Twitter...não que eu não goste disso, eu a-do-ro, mas não pode ser esse o resumo da ópera.
Eu, uma tímida convicta, que fica da cor de um tomate maduro quando percebe que está sendo observada, peço em alto e bom som: olhe nos olhos, caramba! Daí você, do outro lado da tela, vai me responder: isso é mole. Não, meu querido, passa longe disso. Vão ter momentos em que esse gesto será mais dolorido que qualquer soco na cara. Depende de quem olha. Depende de quem vai ser olhado. Mas também pode ser um alívio, uma resposta sonhada pra uma pergunta que a boca da gente não conseguiu pronunciar.
Pronto, falei. Se esse mundo fosse mais moderno, olhava nos olhos de cada um dos meus leitores 9que são poucos, mas só gente buena) e agradecia a leitura deste post sem mover os lábios. Mas tô pensando seriamente em ensaiar meus dotes faciais diante da minha câmera amadora. Se der certo, mostro pra vocês. Em close.
Bjus da Bia
sexta-feira, 6 de agosto de 2010
Paiê!
Tá bom, é só domingo. Mas a ansiedade é uma moça que ainda me visita na hora do mate e vai ficando, ficando... Falar da minha relação com meu pai é engraçado. Passei boa parte da vida vendo ele como um irmão bem mais velho, sempre disposto a acobertar minhas travessuras e até incentivá-las. E como toda supla de "irmãos" as brigas eram frequentes. Sempre por bobeiras e nunca duravam mais do que meia hora. Os pedidos de desculpas aconteciam sempre antes dos dois pegarem no sono. Era a ordem da casa: ninguém vai dormir brigado.
Pra quem não sabe, meu pai é sapateiro e estudou só até a oitava série. Já a minha mãe é economista. Um casal insólito que se entende de um jeito que só vendo pra acreditar. Ele sempre disposto a aprender, viajando pros quatro cantos do mundo e escutando atento tudo que ela diz. Meu pai gosta de aprender e nunca se fez de vítima por não ter muito tempo de estudo. Adora uma novidade. Lembro da primeira vez que levei ele ao Cineclube UNIFRA, mostrei o informativo que eu havia escrito e assisti junto com ele Buena Vista Social Club, do Wim Wenders. A sessão terminou e saímos os dois faceiros. Eu soltando o verbo sobre o diretor alemão e ele só ouvindo. Gosto disso. E gosto mais ainda quando estou ouvindo música e ele passa pela porta e grita: "que rock pauleira é esse, dio santo!".
De uns 5 anos pra cá, a saúde dele ficou frágil e as idas e vindas do hospital aumentaram. E aumentou também a nossa amizade. Entre um exame e outro, trocamos ideias sobre carros antigos (nassa paixão!), eu ensinei ele como se faz um filme, li trechos de Clarice Lispector e aprendi táticas futebolísticas dos times de várzea. Também teve os silêncios. Mas não aqueles castradores, onde a gente não sabe o que faz. Silêncio porque não precisa dizer. Tá tudo ali, no olhar.
Hoje, depois de todos os perrengues que passamos juntos, sinto que ele não é mais meu irmão e sim meu pai. Uma palavrinha tão curtinha, mas tão legal quando a gente descobre o verdadeiro significado.
Bjus, Saulo Antônio!!!!! E gracias por ser o melhor pai do mundo!
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Jornalista, muito prazer
Domingo fez um ano da minha formatura. Queria ter feito um texto festivo, falando de como o tempo voa, as coisas mudam e blá blá blá. Mas resolvi deixar quieto e "comemorar" sozinha. Há um ano atrás, eu era uma estudante de jornalismo ansiosa que viu o pai parar na UTI no dia da entrega de seu trabalho final. A festa foi pelos ares, a viagem que era o presente dos avós também. E não pensem que fiquei choramingando pelos cantos. Mas confesso que foi mais assustador do que eu imaginava encarar aquela banca examinadora. Eu precisava me concentrar e, volta e meia, me pegava pensando no meu pai, lá no hospital, preocupado comigo entre um exame e outro. E eu lá, tentanto convencer os colegas das minhas conclusões sobre cinema, cowboys e samurais. A minha maior paixão de um lado e o homem da minha vida do outro. Foi um sufoco, mas ganhei um 9. Não era o 10 que eu sonhava, mas naquela altura do campeonato, tava ótimo.
Veio a colação de grau, a melhora do papai e a primeira entrevista de emprego. Pasmem: fui com a certeza de que não conseguiria a vaga. Mas, pasmem em dobro, eu consegui. E, acompanhada do primeiro emprego como jornalista de verdade, veio uma esperança gigante de que as coisas iam melhorar.
Só que não melhoraram.
O ambiente maluco da redação era ótimo, aquela barulheira era tudo que eu sempre sonhei. Mas a minha falta de experiência e, antes de tudo, a minha inocência, ajudaram no meu medo. Pautas negadas, matérias onde eu deixei de ousar por burrice e alguns poucos momentos onde o retorno dos leitores me prpoporcionavam o único sorriso do dia.
Em casa, muito choro e uma semana sem dormir (isso é sério!) pensando na melhor decisão a ser tomada. Questionei minha escolha pelo jornalismo, pensei no que sempre quis, nos motivos que me levaram a ela. Era minha única certeza na vida: sabia que queria ser jornalista desde que me entendia por gente. Mas será que eu servia pra isso? Nunca quis mudar o mundo, mas o meu bairro já ia ser uma vitória. Queria o jornalismo porque gosto de gente, de histórias, de vida, de ouvir e ajudar a contar. Ao mesmo tempo, sempre me incomodou aquela coisa formal demais, cheia de dedos de alguns jornalistas. O mundo já é tão cheio de regras, tu passa o dia aguentando o patrão, a fila, o aperto do ônibus e ainda chega em casa e dá de cara com um cara sisudo, com um ar superior. "Eu sei das coisas, agora para aí e escuta". Sempre vi jornalismo como proximidade, a profissão capaz de aproximar mundos.
Agosto de 2010: sou jornalista há um ano, tô desempregada, mas continuo procurando, acreditando nos meus sonhos e convivendo com pessoas que me chamam de louca. Aliás, um dia ainda vou entrevistá-las, pode crer.
Bjus da Bia
terça-feira, 3 de agosto de 2010
Diário de um bom ator
Em 1998 eu era fã do Leonardo DiCaprio. Eu e metade da população adolescente do universo. Ele vivia o auge da fama com o sucesso do barulhente e vazio de história Titanic, de James Cameron, o pai dos bichinhos azuis do Avatar. É aquela faze onde a gente se derrete por algum bonitinho do cinema ou da tv ou da música, abarrota as gavetas de revistas e sabe de cor as bandas que ele escuta. Uma menina tola, pra resumir. Mas naquela época eu já dava meus pitacos em cinema e corri atrás de outros filmes com Dicaprio que não fossem a versão modernosa de Baz Luhrmann para Romeu e Julieta ou o já citado desastre de navio que encheu os bolsos do Cameron. Ao lado de O despertar de um homem, onde Leonardo tem uma atuação incrível ao lado do grande Robert DeNiro, o meu preferido é Diário de um adolescente. No filme, o então franzino ator encarna o poeta Jim Carroll em sua fase mais pesada, onde se envolveu com drogas e escreveu seus melhores versos. Gosto desse filme pela condução do roteiro, pela trilha sonora sensasional, mas principalmente pelos olhares de DiCaprio. E não, eu não estou me derretendo. É raro um ator tão jovem expressar através do olhar a bagunça danada que passa na cabeça de um jovem talentoso que vê seu mundo desababar quase que de uma hora para outra. E Leonardo consegue. Com certeza, naquela época, ele não imaginava que se tornaria o queridinho das meninas, com direito a gritaria em porta de hotel. Mas como tudo nesse mundo de 15 minutos, uma hora a festa acaba. E ele não pirou. Foi lá, aproveitou o lado bom da grana e da fama e decidiu buscar novos filmes. Com sei jeito italianinho, conquistou o baixinho mais talentoso de Hollywood: Martin Scorsese.
Hoje é 2010, eu mandei pra reciclagem meus pôsteres do Leo e tenho plena certeza de que ele não vai casar comigo. Mas adoro rever Diário de um adolescente, ainda mais na versão em DVD com bons extras. Quem não conhece, corre lá. Jim Carroll escrevia como poucos. E Leonardo anda atuando melhor que muitos por aí.
Bjus da Bia
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