sábado, 3 de abril de 2010

A doutrina do olhar


Aprendi a gostar de filmes de guerra com o meu avô Leonardo. Se eu me saía bem nas provas de história, a culpa é toda dele. A cada questão, eu enchergava o rosto de Henry Fonda, Charlton Heston, Gary Cooper, Richard Attembourgh e Michael Caine. Aprendi sobre as batalhas pelos filmes e esquecia a página dos livros. Isso trouxe para o meu olhar um tipo de vício: toda vez que ajeito na poltrona do cinema ou me posto em frente a televisão, meus olhos vão se adaptando para que possam admirar explosões, gritos e outras catástrofes. Isso não é síndrome de urubu, não sou do tipo que gosta de ver a desgraça alheia. Mas para isso existem os filems de guerra, para que nossos olhos captem e sintam o impacto das lutas que mudaram (e ainda mudam ) a nossa história. Tem pessoas que não conseguem assistir determinados filmes, sentem tonturas e até passam mal. E eu logo penso: que fracas, a vida tem coisa muito pior. Eu me senti assim apenas uma vez, durante o repugnante e pesado Irreversível, filme que foi feito para intimidar até o mais adaptado dos espectadores. Mas isso é intenção. Fora dessa linha, o cinema choca com sentido de desbravar histórias e esse mal estar é algo natural e também o fio sedutor que nos leva a querer saber o que nos espera logo adiante, na cena seguinte.
Há muito modos de observar os campos de batalha que a sétima arte constrói. Guerra ao terror é cru, assim como Agonia e Glória, de Samuel Fuller. Já Platoon e Apocalypse Now mergulham fundo nas feridas que a guerra faz nas pessoas, analisando o momento em que elas são abertas. Mas também tem MASH, do saudoso e inteligente Robert Altman, que avacalha com tudo e faz da guerra um grande circo. O que não deixa de ser lá uma verdade.
Numa tarde dessas, eu e o meu avô cinéfilo fomos as compras pela internet. Depois de quase meia hora avaliando e pesquisando preços, fizemos nossas escolhas. Sargento York, de Haward Hawks (gênio!) e A batalha de Midway, que tem no elenco um trio de parar o cinema: Henry Fonda, Charlton Heston e James Coburn :)))
A conta do cartão de crédito vai ser alta, mas vai valer cada segundo. Tenho certeza que vou levar para sempre as lições sobre filmes de guerra dadas pelo meu vovô querido, responsável por doutrinar meu olhar diante da barbárie.

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