sexta-feira, 23 de abril de 2010

Acende a luz

Lembro da tua chegada
lenta, mansa, delicada.
Mal pude ouvir a porta abrir.
Teus passos pareciam dançar pela cozinha e teu copo balançava ao som da música
que vinha da rua.
O vrum, vrum dos carros. O tunt tunt das caixas.

Servi o vinho e acreditei no teu discurso
Te contei segredos que nem eu mesmo ousava guardar por perto.
Senti tuas palavras susurradas
promessas de um futuro rápido
mas que tinha tudo
pra ser eterno e intenso.

Daí, a garrafa ficou vazia. Eu juntei os pratos, as taças e desliguei o som.
Rabisquei um bilhete enquanto a louça secava. Entreguei, beijei num estalo teu rosto.
E te pedi para acender a luz. Afinal, o livro que estou lendo tem letras pequenas. E grandes histórias.

Um comentário:

James Pizarro disse...

Adorável !
Com um discreto charme de melancolia Lembrando o existencialismo do Sartre.
Ou um certo pessimismo das "flores do mal" do Charles Baudelaire.
Gosto demais dos teus textos. Mas sou altamente suspeito, porque gosto de ti também.
Beijo

James Pizarro