sexta-feira, 18 de março de 2011

Vida


Seja na mesa do bar ou nas reuniões familiares, um assunto que sempre causa controvérsia é a morte. Temida e estudada, discutida e negada, ela já foi tema de vários filmes e passou por quase todos os gêneros. Spielberg trouxe magia para o desencarne com Além da eternidade; Robert Zemeckis fez graça dos que insistem em durarem para sempre em A morte lhe cai bem e Jerry Zucker eternizou a canção Unchained Melody no romance Ghost. Porém, nenhum diretor falou da morte com a delicadeza e a segurança de Akira Kurosawa.
Quem conhece um pouco da cultura oriental sabe que o povo de olhos puxados encara a morte de uma maneira bem diferente da nossa. Mas seja aqui na nossa terra brasilis ou do outro lado do mundo, a única coisa que não muda é o sentimento, a emoção.
Viver, de 1952, é um filme de ator, com uma trama simples sustentada pela atuação impecável de Takashi Shimura, conhecido por seu trabalho no teatro japonês, no papel de um funcionário de uma prefeitura que segue uma rotina entediante. Tudo muda quando ele descobre estar com câncer de estômago. Seu tempo é curto e um novo olhar surge. É hora de viver. Aliás, é nos olhares de Shimura que estão os melhores momentos de Viver. Nas suas pupilas está o medo e também a gana de viver. E o jeito é correr, tentando descobrir o segredo da juventude convivendo com uma alegre colega de trabalho.


Madadayo nos mostra um outro lado da morte. A história da suave despedida da vida de um professor diante de seus alunos foi o último filme dirigido por Kurosawa e um de seus trabalhos mais autobiográficos. Tendo como base o tradicional ritual do Madadayo, onde um idoso é desafiado a beber um grande copo de cerveja de uma só vez, provando que ainda tem muito tempo de vida pela frente. Mesmo vivendo em complicadas condições financeiras, o professor conta com a ajuda e o carinho de seus ex-alunos.
Com toques de humor sutis nos diálogos, uma das marcas registradas de Kurosawa, o filme tem a proximidade da morte em cada cena e não há tristeza, nenhuma lágrima, pouquíssimas queixas. Daqueles filmes que injetam esperança na veia.
Resumindo, Viver e Madadayo falam da morte nos mostrando o que realmente importa: a vida.

Bjus da Bia
P.S. Soube hoje que meus amigos que estão no Japão encontram-se bem, depois do terremoto. Sorte para eles e todos os orientais. Si cocorai está com vocês.
*Coração, em japonês.

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