sábado, 26 de março de 2011

Oeste de arrepiar


O universo dos balaios de DVDs proporciona para cinéfilos apaixonados experiências únicas. Isso porque várias distribuidoras pequenas, incluindo a gaúcha USA Filmes, estão investindo em relançamentos de clássicos e raridades, especialmente dos gêneros faroeste, terror e guerra. Numa dessas buscas pelos balaios,que exigem dedicação e paciência, encontrei Vingança Cega. À primeira vista não reconheci, mas bastou uma boa lida na contracapa para descobrir que estava diante de um dos últimos exemplares do western-spaghetti, agora repaginado e com nome novo, já que , em VHS, o filme foi lançado no Brasil sob o título de Mannaja e na América como Um homem chamado Blade.
Lançado no final da década de 70, período de decadência do gênero western tanto nos EUA como na Europa, Vingança Cega difere de seus contemporâneos tanto pelo roteiro como pela estética. Isso deve-se ao fato de que o diretor do filme, o italiano Sergio Martino, é um dos nomes mais populares do gênero giallo, uma vertente do terror nascida na Itália e que mais tarde contaminaria Hollywood com muito sangue falso e facadas em becos escuros. E por falar em facada, logo nas primeiras cenas o espectador percebe que está diante de um exemplar único dentro do faroeste quando, de maneira magistral, descobre que o herói do filme, ao contrário dos pistoleiros do passado, tem como arma de estimação uma afiada e certeira machadinha.
Depois de ter feito giallos exemplares como Lâmina Assassina e Todas as cores da escuridão, Martino resolveu se arriscar no western sem deixar de lado seu estilo. Não por acaso o filme é estrelado por Maurizio Merli, ator italiano conhecido por seus personagens violentos. O caçador de recompensas Mannaja cai como uma luva nos traços fortes de Merli, que carrega o filme nas costas, com destaque para a cena em que é enterrado vivo. Sim, enterrado vivinho da silva. Duelos ao pôr-do-sol? Mocinhas suspirando por um rapaz de chapéu? Desculpe, você está no filme errado. No universo de Mannaja, o oeste é um terror de arrepiar até o rabo do cavalo.

Vingança Cega é bem construído e fez um relativo sucesso se levarmos em conta que o filme foi lançado quando o faroeste vivia o seu crepúsculo. Mesmo chegando a ser comparado a obras-primas como Keoma, de Enzo G. Castelari, o filme de Merli faz os mais tradicionais virarem a cara para seus cenários enfumaçados e suas cenas de violência extrema. Um preconceito bobo, se levarmos em conta que o western é um dos gêneros que mais evoluiu na história do cinema, indo do romance mais água com açúcar a cenas de tortura históricas. Mesmo que você nunca tenha visto um faroeste na vida ou que não goste do gênero, Vingança Cega é uma boa pedida. Antes de qualquer rótulo ou catalogação, é um bom filme. E isso não é pouca coisa.

Bjus da Bia. Bang!

Um comentário:

nixon vermelho disse...

olha, meus parabéns, há muito tempo não vejo uma crítica tão bem feita, sem preconceitos, sobre um gênero de filme que é tão esquecido.
obs: esse filme é ótimo!!!