domingo, 27 de março de 2011

As mulheres de Tennesse


Não acredito em destino. Já tive meu tempo de garotinha sonhadora. Tempo esse em que acreditava que a vida era mágica e que tudo "estava escrito". Só não sabia direito em que caderno ou quem era o autor. Sei que sooei convicta na primeira frese deste post. Mas também acredito em outra oração, aquela que diz que "convicções são cárceres". E no cárcere, não há liberdade. E sem liberdade não há felicidade que resista.
Esta semana, tive que acreditar no tal Sr. Destino, que emaranhou as coisas e fez dois nomes conhecidos cruzarem o meu caminho de maneiras diferentes, mas com um único objetivo: provocar a minha saudade.
O primeiro foi registrado num post aqui mesmo, neste humilde blog. Elizabeth Taylor nos deixou e causou um estrago, afinal, era uma das poucas grandes atrizes vivas da era de ouro de Hollywood. E ontem, dia 26, o mundo comemorou o centenário de nascimento do dramaturgo, escritor e roteirista Tennesse Williams, autor de muitas tramas que, quando adaptadas para o cinema, tiveram Liz Taylor no elenco. Não que ela fosse a musa declarada de Williams, já que ele próprio assumiu que sua inspiração para criar personagens femininas vinha de sua irmã, que sofria de esquizofrenia.

Meu primeiro contato com a obra de Tennesse Williams foi aos 18 anos, por meio de um exemplar de Um bonde chamado desejo encontrado na biblioteca da escola onde eu estudava. Lembro que li o livro rápido e o desejo de voltar para a primeira página não demorou muito a aparecer. Devolvi o livro com atraso e tive que pagar multa com uma boa parte da minha mesada. Dinheiro bem investido, não tenho dúvidas. O embate erótico entre a sonhadora Blanche DuBois e o viril Stanley Kowalsky não saía da minha cabeça. Aquela maluquete que queria enganar a si própria de que ainda era uma rica filha de fazendeiros, cercade de jóias e belos vestidos era um personagem e tanto, construído com uma sensibilidade ímpar. Aos poucos, desvendando o restante da obra de Williams, percebi que Blanche não estava sozinha. Gata em teto de zinco quente e Boneca de Carne são bons exemplos.
Mas o que torna as mulheres de Tennesse tão encantadoras? Simples, elas são reais, tem desejos, sonhos, loucuras e crises como todas nós. Sentem o peso do tempo passando, as rugas surgindo, os relacionamentos se despedaçando. São verdadeiras e talvez por isso causem tanto furor até hoje, num universo onde muitas moçoilas insistem em procurar nos livros e filmes princesas intocáveis de braços dados com belos príncipes. Tennesse criou mulheres sedutoras, que não escondiam seus desejos e, como consequência, tinha de arcar com os problemas que isso acarreta. Talvez por isso suas criações femininas tenham funcionado tão bem no cinema, pois a tela grande conseguia pegar as palavras do autor e transformá-las em olhares, lágrimas e gestos. O humano é mais belo no cinema e sempre supera a tecnologia. Basta deixar-se levar pelos gritos desesperados de Marlon Brando para sua amada Stella, na melhor adaptação de Um bonde chamado desejo que o cinema já viu, apesar do moralmente correto título Uma rua chamada pecado que o filme ganhou no nosso país tropical. Ah, e vale lembrar que é preciso fugir da versão que traz Alec Baldwin e Jessica Lange como protagonistas. É um atentado ao que chamamos de interpretação.
Se essa coisa de céu existe, Liz Taylor chegou lá em tempo de organizar e comemorar o aniversário de Williams. Coisas do destino. Acho que vou começar a acreditar nele.

Bjus da Bia

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