sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Mulher de bem


As leitoras assíduas das revistas de moda conhecem a Audrey Hepburn ícone de estilo, sempre bem vestida e esbanjando charme. Já os cinéfilos de primeira viagem devem conhecer a Audrey jovial, que encanta seja encarando a rebelde e apaixonada Natasha de Guerra e paz ou a bibliotecária que vira modelo em Cinderela em Paris. Isso sem contar a romântica Sabrina de Billy Wilder e a atormentada cega de Um clarão nas trevas. Mas na filmografia da atriz, existe uma Audrey que poucos conhecem: a de coração puro e caridade infinita.

Embaixadora da boa vontade do Unicef, Audrey fazia trabalhos voluntários em países pobres da África e tinha uma atenção toda especial com as crianças em situação de risco. Muito disso é fruto do drama vivido pela família dela durante a Segunda Guerra Mundial, período onde a fome e a falta de moradia tornaram-se frequentes. Motivada por essas provações, Audrey foi estudar balé, caiu nas graças dos agentes que logo a transformaram em modelo fotográfico e, enfim, em atriz. Os mais belos olhos castanhos do cinema brilhavam sem parar e garantiam boa bilheteria para os estúdios. Um desses sucesso trazia uma Audrey abatida, mas persistente no seu desejo de ajudar ao próximo.

Uma cruz à beira do abismo tem a direção segura de Fred Zinnemann e narra a trajetória da doce Gabrielle, uma jovem belga que resolve tornar-se freira para realizar o sonho de trabalhar no Congo como enfermeira. Tudo estaria encaminhado, não fossem as constantes punições e cobranças presentes no cotidiano do convenço. Ainda presa a sentimentos típicos da juventude, Gabrielle trava uma luta interna para alcançar seu objetivo. Quando tudo aprece se ajeitar, a Segunda Guerra estoura e o coração da jovem freira fica dividido entre a luta por seu país e o tradicional "olhar o bem sem olhar a quem". Cuidar das feridas dos inimigos não é fácil para Gabrielle e um novo desafio a espera.
Uma cruz à beira do abismo passa longe do toque suave dos filmes onde a fé é o elemento principal. O longa de Zinnemann critica com sutileza os exageros das cerimônias católicas e ainda revela os segredos escondidos nos conventos, lugares onde, apesar do silêncio, a tranquilidade não existe.

Audrey doce, agridoce, amarga. Audrey elegante, sapeca, discreta. Audrey mulher, mãe, cidadã. Audrey é como todas nós, muitas em um só. Passou pelo mundo e conseguiu a proeza de ser imortal graças ao cinema. Mas o ar de estrela fica só no tapete vermelho. Nas palavras da própria Miss Hepburn:

“Nasci com uma enorme necessidade de receber e dar afeto.”

Bjus da Bia, afetuosos.

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