quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

Dói


O diretor Alejandro González Iñarritu conseguiu integrar uma das mais chatas listas da minha vida: a de cineastas que me encantaram logo no primeiro contato. Assistir Amores Brutos na tela grande foi uma experiência e tanto. Saí com a sensação de "gostei desse cara". Depois veio 21 gramas. Bom, mas mais do mesmo. Então ele nos apresenta Babel. Uma historinha: quando estava na fila para assistir o filme, ouvi alguns comentários fresquinhos de quem saía da sessão. Era um festival de "fenomenal", "incrível", "estupendo". Tive que arregalar os olhos. Vamos lá, ver se é tudo isso mesmo. Duas horas depois, saí do cinema murchinha. Iñarritu forçou a barra. Quis ser muitos e acabou sendo nenhum. Contar muitas histórias pode ser meio caminho para acabar no nada, no sem história. Não há profundidade em nada e ninguém tem tempo de se apegar, de entrar na trama e sentir algo, seja raiva ou compaixão.

Biutiful é o mais novo filme de Iñarritu e tem como protagonista o sempre passional Javier Bardem, um dos poucos atores de sua geração que conseguem trazer brilho e vigor para os mais simples personagens. Basta ver o fraco e piegas Comer, rezar, amar onde Bardem transforma um príncipe encantado moderno em um cara bacana que todas queremos ter pra chamar de nosso. Mas Biutiful não tem amor, muito menos príncipe encantado. O negócio aqui é outro e fica o recado: a droga é pesada.

Bardem vive Uxbal, um homem que está morrendo e tenta fazer as pazes com a vida. Paradoxo? Talvez, mas tem os seus porquês. Não bastasse a doença que o destrói um pouco a cada dia, ele ainda precisa lidar com a mulher que não ama mais e dois filhos pequenos cheios de perguntas e...vida. Uxbal vive cercado dela justamente no momento em que se encontra à beira da morte. E é nesse ponto que Iñarritu erra a mão.
Ao invés de trabalhar as pequenas doses de vida existentes do filme, ele mira sua lente para o desespero de Uxbal. Não há uma cena sequer de descanso para o espectador. Um festival de perdas, dores, sofrimentos. O típico cinema que dói. E Biutiful dói muito. Machuca até o espectados mais desatento e insensível. Um filme que não me fez bem e não fui a única: muitas foram as caras tristes na saída do cinema.
Resumo da opéra trágica: Biutiful não é belo e causa arranhões na alma. Eu não quero repeteco.

Bjus da Bia

Um comentário:

Márcia Pilar disse...

Bia, ainda não assisto Biutiful. Mas tou me 'coçando' pra isso. Em breve mato a vontade.
Já tinha lido outras críticas sobre o filme, todas pesando a mão na brutalidade dos sentimentos que ele provoca.
Mas te digo, o teu foi um dos melhores. Claro e elucidativo.
Mesmo assim, vou correr o risco e me jogar. Talvez eu me estabefe no chão. Talvez, me eleve. vamos ver!

bjs