quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Uma chance


Qual o melhor programa pra uma noite quente de verão? Cerveja e conversa fiada? Ar-condicionado no máximo? Quando a geladeira não contém nenhuma latinha e a coisa mais fresca do cômodo é um pequeno ventilador, o jeito é buscar conforto num bom filme. Pelo menos essa é a saída mais utilizada por cinéfilos doentes como eu.
A escolha da noite: Apenas uma vez, filme que já havia me deliciado no cinema mas que só agora, na versão em DVD, conseguiu a proeza de me deixar leve depois de um dia complicado. A trama? A surrada garoto-encontra-garota que existe desde antes dos Irmãos Lumiére. Só que não esperem diálogos açucarados, beijos intermináveis e aquele aroma de "felizes para sempre" rondando o final. Apenas uma vez tem um romantismo único. E para poucos.
O casal de protagonistas, os músicos Glen Hansard e Markéta Irglová, nos apresentam um relacionamento que começa por acaso e se transforma em canções. Isso mesmo, canções. Uma mais linda do que a outra, todas compostas pelos atores-cantores e interpretadas com simplicidade e sentimento. Nada de grandes performances. O que se canta é o que interessa e não como se canta ou qual é a marca da calça que se usa como se canta. Daquelas músicas feitas pra ouvir deitado, se possível, sonhando.
O diretor do longa, John Carney, explora o talento da dupla principal com um olha quase documental, como se o espectador estivesse ali, de passagem pelas ruas de Dublin, e resolvesse observar o papo que rola entre a delicada vendedora de flores e o músico de rua ou então os ensaios dos dois mais a banda improvisada para a gravação do CD demo. É tão próximo que a gente só se dá conta do filme quando as luzes se acendem.
Ah, o romance, como posso esquecer dele. Está em cada fala, cada cena. Mas sempre de maneira sutil, como se quisesse se esconder do espectador. Ele e ela (os personagens não tem nome) estão com seus corações partidos; ela pelo marido complicado, ele pela namorada que foi embora. As letras tristes que ele compõem fazem a cabeça dela, que também arrisca seus versos. Se rola um clima? Rola! Mas uma coisinha chamada vida real tá sempre por perto. Responsabilidades, mundos e sonhos diferentes. Os mais sensíveis podem se acalmar, não haverá lágrimas no final e sim um ar mágico. Tipo "podia ter sido, mas não foi. Mas nem por isso foi ruim".
Há amores que não acontecem, mas que deixam rastros pra sempre. Apenas uma vez comprova isso. E ainda faz música da coisa toda.

Um comentário:

James Pizarro disse...

Lindo demais.
Verdadeiro demais.
Com um certo toque de melancolia...

Bj

JP