quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Sem ponto final


Cinema pra mim é como salgadinho: é impossível "devorar" um só. Sou daquelas que, quando o tempo permite, sai de uma sessão já de olho na fila da próxima, com uma rápida pausa para um respirada e algumas divagações. Porém, o poder da sétima arte tem suas doses pesadas e alguns filmes não nos deixam em paz por dias e saímos da sala escura desejando apenas voltar pra casa. Flores partidas é um deles.

Dirigido pelo talentoso e sensível Jim Jarmush(o mesmo que liberou os incríveis Iggy Pop e Tow Waits pra um papo bacana em Sobre Café e Cigarros,)o filme levou o grande prêmio do Festival de Cannes em 2005. Mais que merecido, aliás. Flores partidas narra a história de Don, vivido por Bill Murray ( olha o querido dando as caras por aqui outra vez!), um conquistados convicto que, por livre e espontânea pressão do melhor amigo,um engraçadíssimo Jeffrey Wright, resolve procurar por seu suposto filho após receber uma misteriosa carta anônima de uma ex-namorada. Como sua lista de mulheres é gigante, o jeito é pegar a estrada com paciência. E é isso que Don faz, sempre com aquela cara de "por que estou fazendo isso?"
A jornada do protagonista tem humor, sacadas inteligentes, algumas lágrimas femininas e lembranças aos quilos. A cada fracasso, o espectador se depara com um pedaço do passado de Don, que parece tornar-se mais solitário a cada cena. Afinal, ele não encontra respostas.
Agora vou fazer algo muito feio, atitude que me faria apanhar de todos os meus amigos críticos de cinema: vou dar uma prévia do final. Aviso aqui para, caso você seja como eu e não curta um estraga-prazeres, pare de ler por aqui, corra até a locadora e assista Flores Partidas antes de seguir para o próximo parágrafo.

Don não encontra seu filho nem descobre quem lhe escreveu a carta reveladora. Acaba tão sozinha quanto no início. Flores Partidas é um filme sem final, onde o público acotumado aos happy end coloridos fica com aquela cara de "ham, é assim que termina?". Confesso que no início da minha vida cinéfila esses finais me davam nos nervos. Hoje, talvez pela tonelada de filmes no currículo ou pelo peso da idade, gosto de tramas assim. É um chacoalhão nos momentos em que bate a tentação de ficar se lamentando. Esses filmes não tem final porque nem tudo na vida tem final. Por mais que a gente insista em querer encerrar ciclos para ir em busca de novos caminhos, algumas situações insistem em ficar em aberto, num eterno ponto de interrogação. Seguimos em frente, mas algumas perguntas continuam no ar.
Já coloquei muitos pontos finais na minha vida. Fechei a porta e eles se foram. Me deram respostas e eu aceitei. Tenho algumas interrogações ainda que o sexto sentido me diz vão me acompanhar por um bom tempo. Mas nem por isso precisam andar penduradas no meu pescoço! Prefiro guard-alas na gaveta. Pois um ponto de interrogação pode ser só o começo de uma boa história.

Bjus da Bia

Um comentário:

Libriana Voadora disse...

Cinema é que nem salgadinho, impossível devorar um só!! Hehehe! Falou e disse, pra mim também é assim! Mas também para outras coisas também, como livros... impossível devorar um só! E adorei a frase, "Pois um ponto de interrogação pode ser só o começo de uma boa história." - teu texto é muito bom, Bianca!! Tu escreve muito bem! =D Bjs