terça-feira, 20 de julho de 2010

A trilogia da vida


Meu primeiro contato com a Trilogia das Cores do diretor polonês Kieslowski foi no início da adolescência. Na micro locadora de Faxinal do Soturno (jesus!) só existia um exemplar em VHS de A liberdade é azul, que eu devo ter locado mais de 5 vezes. Tinha crises de choro do meio para o final do filme que me faziam soluçar. E o mais engraçado é que não entendia muito bem o porque daquela emoção toda. Só sei que o filme mexia comigo. E muito.
Só tempos depois, mais precisamente 8 anos, consegui assistir aos outros dois filmes que compõe a trilogia, A igualdade é branca e A fraternidade é vermelha. Sabendo do interesse inicial de Kieslowski de que as três tramas se emaranhassem e formassem um único filme, decidi reservar um fim de semana para assistir os três filmes na sequência, com pausas rápidas para a trinca xixi/rango/respirada. Mais uma vez chorei com as dúvidas e fantasmas de Juliette Binoche. Na segunda etapa, tive um momento de paz e alguns risinhos com Julie Delpy, numa atuação fraca, na minha humilde opinião. Pra fechar, me vi presa na trama cheia de mistéria protagonizada pela talentosa Irene Jacob. Um filme perfeito, em cada detalhe em tons de vermelho.
Toda essa papagaiada é pra dizer que, antes de falar das cores da bandeira da França, a trilogia de Kieslowski fala da vida e isso está se tornando um caso raro no cinema atual. Tirando algumas exceções independentes, o cinema daqui e de lá de fora está investindo em bombas, histórias cheias de vai e vem (em todos os sentidos) e onde a magia se concentra numa profusão de cores que deixa muita gente tonta, inclusive eu, acostumada a gastar giz de cera em folhas e mais folhas pela casa. Transparece um certo medo de mostrar coisas comuns, personagens que poderiam morar no prédio ao lado. Tudo em nome do diferente, do exótico. O que certos diretores precisam entender é que não precisa ser sujo pra falar de dor, nem grandioso pra falar de uma época. Basta ser fiel a si mesmo. Inclusive nos dias em que a gente enxerga a vida por uma lente cinza.

Bjus da Bia, em três cores

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