segunda-feira, 26 de julho de 2010

Senta que lá vem história...


Criar expectativas é meio caminho andado para as frustração. Minha mãe vive dizendo isso e deve ter lido em algum lugar e tomado pra si como filosofia de vida. E isso vale não só para a vida, mas também para o cinema. Tento me conter pra não criar aquele alvoroço interno quando fico sabendo de alguma estreia que meu sexto sentido cinéfilo acredita ser bacana. Não é fácil, mas quase sempre consigo. Mas tem vezes que acontece o contrário: uma pré-antipatia surge do nada e impede que você tome o rumo da sala de exibição, apesar dos comentários a sua volta serem cheios de palavras como ótimo e inesquecível. Aconteceu comigo essa semana.
O Contador de Histórias, dirigido por Luiz Villaça, não era uma incógnita para mim. Conhecia a história do protagonista Roberto Carlos Ramos através de uma matéria exibida na época do Criança Esperança. Uma trajetória de vida rica que, era de se esperar que fosse parar na tela grande. Isso porque Febem e menores abandonados inspiram nossas películas desde antes de Pixote, a Lei do mais fraco. O filme chegou aos cinemas, eu arranjei desculpas e não fui ver. Chegou o DVD e eu me rendi numa daquelas tardes chuvosas e frias. Surgiram os créditos finais e imagens do verdadeiro Roberto exercendo seu mágico ofício de contar histórias e eu me peguei sorrindo e chorando. Chorando porque sou chorona mesmo e sorrindo porque estava diante de uma história simples e poderosa.
Luiz Villaça não tem pressa, suas cenas seguem um ritmo quase real e isso dá uma angústia como se a gente estivesse lá, esperando aquele guri teimoso abrir a porta do banheiro e dar alguma satisfação do porque de sua fuga. Não é um filme com clímax, nem cenas de ação impactantes, muito menos momentos inesquecíveis. Mas é uma história bem contada, como se alguém nos pegasse pela mão e resolvesse nos contar uma vida. Ou um pedacinho dela.
Sei que paguei a língua, ou melhor, o meu silêncio diante de O Contador de Histórias. A partir de agora, recomendo pra todo mundo, principalmente para educadores. É uma aula que vale por 4 anos de graduação.Roberto tem um jeito único de contar suas lembranças, inclusive as ruins. Ah, também indico para os meus amigos cineastas em crise criativa, pois mostra que uma boa história pode estar ali, do nosso lado. Basta se deixar levar.
Bjus da Bia

Logo abaixo, a querida Isabela Boscov comenta o filme.

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