domingo, 18 de setembro de 2011

Fazendo Arte

As coisas da Bia agora estão no site do programa Fazendo Arte da Rádio Universidade (800 AM). Toda sexta-feira, essa Bia que vos fala vai indicar um filme bacana para você curtir no fim de semana ou quando quiser! É só acessar www.ufsm.br/fazendoarte ese divertir :)))

Bjus da Bia

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Renegado impiedoso


Se esse blog resolvesse fazer uma série de posts sobre diretores injustiçados, vocês, caros leitores, iam cansar as vista tal o tamanho da turma que trabalhou bem e não foi reconhecido. E eu não estou falando só de não ter recebido Oscar ou integrar listas importantes. Falo de não ser lembrado, que é o tipo de rejeição que mais dói. São muitos os nomes, mas um em especial me perturba seriamente.
O americano John Sturges nunca foi um cineasta autoral e podia sem problemas ser enquadrado como um diretor de filmes por encomenda, ou seja, o estúdio comprava os direitos do roteiro, o escalava e ele dirigia. Assim, prático e sem grandes aspirações artísticas. O que não quer dizer que a Sturges não tivesse dedicação e esmero em seu trabalho. Cada frame era extremamente estudado, fotografia impecável e uma direção de atores que muitos mestres não possuem.

Indicado ao Oscar apenas uma vez, pelo suspense Conspiração do Silêncio, há pouca informação sobre John Sturges disponível em livros e mesmo na internet ele ainda é um desconhecido em muitos sites sobre cinema. É a velha história do filme que se sobrepõe ao diretor, já que Sturges nos deu obras incríveis como Fugindo do Inferno, A Águia Pousou, Sete Homens e um Destino e Sem Lei e Sem Alma, filmes que marcaram o gênero de guerra e o faroeste. E aí está mais um motivo para Sturges ser pouco ou quase nunca lembrado: seus filmes não eram revolucionários, não mudaram a história do cinema mas estão presentes na lembrança de muitos admiradores da sétima arte por serem bem acabados, divestidos e empolgantes, características que os críticos mais blasés e chatos não costumam levar muito em conta. Uma boa amostra disso foram as críticas pesadas em cima de Sete homens e um destino, uma adaptação de Os Sete Samurais, antes mesmo de seu lançamento. Os mais tradicionais acharam quase uma ofensa trazer a obra única de Akira Kurosawa para um cenário tipicamente americano como é o velho oeste. Quem pensou assim esqueceu que entre as influências de Kurosawa está o grande nome do faroeste John Ford. Ou seja, samurai pode sim dar uma volta na poeira ianque. Sturges não se deixou influenciar e fez seu filme tornar-se único: não é nem melhor nem pior que o de Kurosawa. É diferente, apesar das semelhanças.
John Sturges era um trabalhador do cinema. Cumpria prazos, não dava chilique e mantinha um clima de harmonia entre seus atores. Chegou,inclusive, a aumentar uma cena de perseguição de moto a pedido do amigo e astro Steve McQueen. O resultado foi uma das melhores cenas de fuga que o cinema já viu. E a prova de que nem só de rixas e desentendimentos se faz um bom filme.

Renegado Impiedoso é o nome de um western indígena protagonizado por Charles Bronson, um outro amigão de Sturges. Não foi dirigido por ele, mas o título cai como uma luva para definí-lo. Um diretor sem medo da labuta, mesmo que pouco lembrado. E mesmo que ele não tivesse feito nenhuma película marcante, só por isso já mereceria nosso aplauso.

domingo, 28 de agosto de 2011

A guerra de Billy


Diga o nome Billy Wilder numa roda de cinéfilos e será inevitável: o centro das atenções será o senso de humor desse diretor polonês que conquistou Hollywood em plena sua década de ouro. Responsável pelo roteiro e direção de Quanto mais quente melhor,considerada a melhor comédia de todos os tempos, segundo o American Film Institute, Billy Wilder gostava de dizer que era um diretor de comédias mas, como a maioria de seus contemporâneos, passeou por vários gêneros. Drama familiar com Farrapo Humano, inaugurou o cinema noir com Pacto de Sangue e deu um show de direção em Testemunha de acusação, um dos melhores filmes de tribunal já feitos. Mas nem só de cotidiano vivia Wilder. A guerra, esse tema tão pesado e controverso, também deu suas caras na obra do diretor. E não foi só uma vez.

Em Inferno n° 17, Wilder narra a trajetória dos prisioneiros de num campo de concentração alemão durante a Segunda Guerra. Poderia ser mais um filme sobre soldados americanos sofrendo nas mãos dos seguidores de Hitler, mas Wilder acrescentou o seu tempero na trama. E foi uma colher bem generosa.
Protagonizado por William Holden e com uma participação muito especial do diretor Otto Preminger, que, assim como Wilder, também deixou seu país de origem, a Áustria, para trabalhar nos EUA, no papel de um general alemão atrapalhado. Aliás, só em um filme de Wilder um general alemão seria atrapalhado. Mas ele vai além e coloca, entre uma sequência séria e outra, verdadeiros esquetes de humor recheados da fina ironia típica dos diálogos de Wilder. Ironia essa que ajuda a equilibrar o amargo tema central do filme: a traição em tempos de guerra. Uma das melhores cenas do longa de 1953 é a de um baile de natal improvisado, onde os prisioneiros deixam o preconceito de lado e formam duplas pra lá de animadas para dançar.
Depois de acomodar sua câmera entre os beliches apertados de um campo de concentração, Billy Wilder resolveu ir mais longe e focar seu olhar ácido para o Marechal Rommel e seu plano de destruir o exército britânico.

Cinco Covas no Egito nos apresenta a história do cabo inglês John Bramble que, após ver seus colegas de batalha serem mortos no confronto com os alemães, acaba encontrando refúgio em um hotel em pleno deserto. Tudo estaria bem se não fosse a chegada de Rommel e sua comitiva, que transforma o local em quartel general. Para escapar, Bramble assume o lugar de Davos, o garçom do hotel. O que ele não esperava era que o empregado fosse um informate do exército alemão.
O tema é complicado, afinal, trata-se de um dos períodos mais violentos da 2ª Guerra Mundial. Mas Wilder imprime em cada fala, cada cena, um pouco de sua visão irônica, transformando o temido Rommel em um homem carrancudo e vaidoso, personagem que cai como uma luva no ator e diretor Erich von Stroheim. E mesmo em momentos dramáticos, como os interpretados por Anne Baxter, que vive uma francesa que tenta a todo custo tirar o irmão mais novo do campo de batalha, encontramos a presença do humor. Não um humor rasgado, com piadas prontas típicas dos pastelões. Mas um humor sutil, presente nas palavras e nas entonações e que não soa forçado em nenhum momento. Mais que aliviar o clima tenso, os pequenos deboches servem para conduzir a trama com mais veracidade, já que nenhum mundo é feito só de sofrimento.
Billi Wilder será sempre o homem das boas comédias. Não aquelas que nos fazem gargalhar até ficarmos vermelhos, mas aquelas que nos fazer rir com o canto da boca, no melhor estilo "é, é bem assim mesmpo". Cinco Covas no Egito é uma amostra do olhar de Wilder para com o mundo: um filme de guerra, sofrido como todo filme de guerra, mas dotado daquele sorriso assustador que o lado negro sempre insiste em manter firme.
Bjus irônicos da Bia


quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Gosto de tabaco


Meu avô fumou do 14 aos 68 anos. Ou seja, cresci cercada de fumaça,conhecia praticamente todas as marcas de cigarro e o cowboy da Malboro talvez tenha sido um dos meus primeiros amores westerns. Sei que fumar faz muito mal a saúde e nunca senti a mínima vontade de experimentar uma tragada. Aliás, só de sentir o cheiro já me embrulha o estômago. Deve ser por isso que só me sinto a vontade com fumantes dentro da sala escura. E não estou falando de cinemas onde vale tudo. Eu gosto é de crivos acessos na tela grande.
O filme noir não seria tão noir sem a fumaça surgindo da ponta das piteiras das femme fatales ou próximos aos lábios dos rapazes charmosos. Bogart que o diga! Fez multidões se iniciarem no mundo do fumo e deixou esse mundo em decorrência de um câncer de pulmão. Escritores, suas máquinas de escrever...e seus cigarros. O jovem transviado, sua máquina potente...e seu cigarrinho combinando com a jaqueta de couro vermelha. Cigarro e cinema andam juntos faz tempo. Mas nenhum filme tem tanta nicotina quando Cortina de fumaça.A produção independente, lançada em 95 e dirigida po Wayne Wang, é uma verdadeira ode ao tabaco e as boas histórias. Na trama, troca-se a mesa de bar e suas filosofias baratas pela tabacaria comandada por Auggie Wren, interpretado com leveza e talento por Harvey Keitel, ponto de encontro dos amantes de cigarros e charutos. Entre um maço e outro, eles discutem basquete e futebol americano, sofrem, brigam. Wang pegou 5 personagens com histórias distintas, unidas apenas pelo rolinho branco que seguram entre os dedos. E o que poderia tornar-se um emaranhado sem pé ne cabeça é muito bem abordado pelo diretor, que demosntra em cada cena uma dedicação carinhosa por suas criações. Esse carinho também é fruto do autor do roteiro, o escritor Paul Aster, famoso por se valer do cotidiano para criar personagens tocantes sem nem uma pitada de pieguice.
Vencedor do Urso de Prata do Festival de Berlim, Cortina de fumaça inebria o espectador a tal ponto que, em certos momentos, é possível sentir o ar pesado pela fumaça. Da fotografia amarelada aos ventiladores eternamente ligados, tudo nos leva até o escaldante verão de Nova York, e a um Auggie obssessivo por fotografar a mesma rua, na mesma hora, faça chuva ou faça sol. Uma maneira de lembrar que aquele lugar que é sempre o mesmo, nunca está igual. Uma nova cor na parede, um novo morador no prédio, um novo artigo na vitrine. Tudo muda e é tudo igual. Como um cigarro depois do outro.
No mesmo ano de Cortina de fumaça, Wang e Aster se uniram novamente e fizeram Sem Fôlego, uma espécie de continuação do primeiro longa. O roteiro não é tão empolgante, mas vale pelas participações especiais de gente como Jim Jarmush,Lou Reed, Michael J. Fox e Madonna, numa verdadeiro ode aos tipos excêntricos americanos. Mas mesmo cheio de estrelas, Sem Folêgo não supera Cortina de fumaça e sua cena final, um monólogo de Harvey Keitel como só ele conseguiria fazer e a sequência que vem em seguida, merece aplausos por sua fotografia em preto e branco e a voz nicotinada de Tom Waits. Daquelas cenas que deviam poder ser tragadas de tão boas.

Bjus da Bia


quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Love


Falar de amor no cinema não é novidade. Desde que 24 quadros por segundo passaram a significar bons momentos, beijos, abraços e carinhos sem ter fim sempre estiveram presentes nos mais variados gêneros e sob as mais diversas abordagens. Mas um filme, pelo qual nutro uma relação dúbia, insiste em encabeçar as listas dos mais românticos de todos os tempos.
Love Story - Uma história de Amor,dirigido por Arthur Hiller, nasceu da cabeça do roteirista Erich Segal, que aproveitou o sucesso estrondoso do filme para transformar seu roteiro em livro (seria um escritor frustrado tentando uma pequena felicidade?). E a juventude dos anos 70 soluçava ao ver o romance da suburbana Jenny e do milionário Oliver. A velha fórmula menina pobre+garoto rico=paixão e lágrimas.
Fiz o seguinte caminho na minha descoberta de Love Story: li o livro, um exemplar amarelado herdado de mamãe, quando tinha 15 anos. Óbvio que os hormônios e a babaquice típica da adolescência me fizeram idolatrar aquela trama simples e triste. Só anos depois, aos 21, tive a oportunidade de assistir ao filme. O que senti?

Nada.
Nadica.
Nops!

Estranho, não? Nem eu conseguia entender o que se passava na minha cabeça quando os créditos finais começaram a aparecer na tela. Estava feliz? Triste? Queria repeteco? Não sei dizer. Minha única certeza naquele momento é que Love Story tem todos os ingredientes de uma produtora que encontra-se prestes a falir. Possui todos os clichês de um início de romance hollywoodiano, flertando com pouca habilidade em alguns momentos com o screenball comedy, e, quando poderia dar um rumo surpreendente para a trama, se vale da morte da protagonista para deixar o público com o coração na mão.
Contei o final, estraguei a festa. Não é pra tanto, queridos leitores. Love Story se revela logo nas primeiras cenas: será um amor complicado, dois jovens construindo uma vida e tendo seus planos futuros interrompidos por uma doença fatal. Isso sem contar as cenas de romance na neve e afins. Escorre mel de tão doce. E falso.

Você aí, se chegou até o final deste texto, deve se perguntar: afinal, Bia, tu gosta ou não desse filme? Olha, gosto da trilha, gosto do figurino, Ali MacGraw está linda como nunca e acredito sim, que amar é jamais ter que pedir perdão. Mas acho que esse amor podia ter outro fim ou então um novo modo de fim. É bonito, mas envelheceu. Não me convence mais. Mas ainda diverte, tenho que confessar.
Pensando melhor, talvez quem tenha envelhecido fui eu. Envelhecido a ponto de ter um romantismo diferente do que habitava minha cabecinha aos 15 anos. Não sou mais Jenny. Talvez nunca tenha sido. Mas uma coisa não mudou: aind acredito em histórias de amor.

Bjus da Bia

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Amar sem razão


O dia dos pais é no próximo domingo e seria esperado que eu selecionasse algum filme sobre pais e filhos. Até tentei. Mas não sei se por destino ou por instinto, foi o tema maternidade quem deu as caras por aqui essa semana. Mas não é qualquer maternidade. É a mais sofrida de todas elas. A que lida com a perda.
Ha tanto tempo que te amo, filme de estreia do francês Phillippe Claudel narra um reencontro que nada tem de terno ou reconfortante. Juliette, interpretada pela sempre sublime Kristin Scott Thomas, vai morar com a irmã mais nova após passar 15 anos na prisão. Seu crime: assassinato. Seria mais uma daquelas personagens tentando um recomeço após um longo período atrás dos muros de uma penitenciária não fosse um pequeno detalhe. O crime cometido por Juliette envolve seu filho de 6 anos. Quando essa informação chega até nós, espectadores, a primeira reação é a de estar diante de um monstro. Sensação essa que só se acentua, graças ao olhar frio e tristonho com o qual Juliette observa o mundo.


Mas a trama tem um que de travesseiro novo, ainda frio pelo plástico da embalagem mas que, aos poucos, vai se acostumando ao nosso toque e ganhando uma nova forma, mais acolhedora. E, tal e qual o travesseiro que revela falhas ou torna-se imprescindível ao nosso sono, passamos a descobrir os defeitos e os motivos de Juliette. E são vários os defeitos, mas nenhum deles nos fere. O filme tem uma delicadeza natural que nos sentimos parte daquele mundo, mesmo que não vivamos na França. Não é o cenário o que importa, são as pessoas. Pessoas como nós, com dores impublicáveis que nunca vão sarar, mas que tentamos amenizar para seguir em frente.
Há tanto tempo que te amo é um filme sobre mães de verdade. Sem canções de ninar ou enxoval bordado. Mas com um amor que ultrapassa aquilo que o mundo real nos cobra toda hora: a razão.
Bjus da Bia

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Fruto Maduro


Cresci cercadas de homens. Sempre me senti mais à vontade com eles do que com as mulheres da casa. Talvez porque eles sejam menos frescos, talvez porque sejam mais engraçados, sei lá. Mas só agora parei pra pensar que esses homens que cercaram a minha vida tinham uma coisa em comum: todos eram mais velhos do que eu.
Homens à parte, lá estava eu exercitando meu lado mulherzinha folheando revistas femininas atrás de um look bonito e barato pra servir de inspiração para uma festa quando me deparo com um par de olhos azuis que fez meu coração quase parar. Não, o cara ao lado não era modelo. O par de olhos estava na banca, me fitando da capa da Revista Alfa(meninos, leiam, assinem, devorem!). De barba por fazer e gravata, Clint Eastwood. Na hora me veio na cabeça o primeiro "encontro" que tive com Clint. Eu não devia ter mais que 12 anos, uma adolescente boba que achava o então rostinho de bebê Leonardo DiCaprio o homem mais lindo da terra. Daí veio o Clint, montado num cavalo em Por um punhado de dólares. Aquela cara de homem mexeu comigo. Na hora eu não entendi direito porque. Hoje entendo muito bem.
Na entrevista, Clint fala sobre maturidade e se declara um romântico. Surpresos? Eu não. Sempre sustentei a teoria de que por trás de tiros e caras de mau se escondem homens sensíveis. Clint é a prova disso. Deu porrada e crivou de bala muita gente. Depois fez a mulherada, e muito marmanjo, gastar caixas de lencinhos em As pontes de Madinson. Hoje, ele diz que se sente revigorado ao ver a filha mais nova, Morgan, crescer diante de seus olhos. E ainda se rasga em elogios para a atual esposa.
Tudo isso, me fez ver que já está na hora de soltar o verbo: meninas, não reclamem quando seus homens insistirem nos filmes de ação. No fundo, eles só querem posar de heróis para suas mocinhas. E, da próxima vez que forem juntos a locadora, peçam um Dirty Harry. É de suspirar.
Bjus da Bia

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Na pele


Há quem diga que tatuagem é um fetiche e que essa coisa de marcar a pele vai além da arte: é também uma forma de sensualidade. Tem coisas tão fortes, tão importantes em nossas vidas que não há outro jeito de tê-las por perto sempre a não ser usando tinta e agulha. Essa é uma boa definição para o belíssimo filme O livro de Cabeceira, do diretor Peter Greenaway. Quem conhece o trabalho do cineasta nascido no País de Gales mas criado em Londres, sabe que seus filmes não são facilmente digeríveis para o grande público. Até quem é fã precisa de umas duas ou três sessões para entender determinadas nuances propostas por ele em cenas e diálogos. Porém, O livro de cabeceira é considerado um de seus filmes mais "comuns" e tem uma forte influência da linguagem televisiva moderna. Um exemplo são os momentos em que a tela se divide em várias, de tamanhos diferentes, mostrando ações de vários personagens ou então quando ganha ares de videoclipe, como na cena da overdose do personagem Jerome, vivido por um jovem e ainda desconhecido Ewan McGregor, um ano antes de conquistar as telas com o ótimo Transpotting, de Danny Boyle.
O longa é, de início, a história de uma relação intensa entre um caligrafista e sua filha Nagito, que ganha em cada aniversário uma mensagem escrita em seu rosto e nuca. Um momento íntimo recheado de tradições. Mas ao longo da trama, Nagito cresce e busca em seus amantes o praqzer através da tinta na pele criando a bela caligrafia japonesa. O que parecia ser apenas uma fantasia tornasse algo incontrolável, levando Nagito a buscar novos amantes, novas letras, novos corpos para suas histórias.
Mesmo privilegiando a linguagem visual moderna, Greenaway foi muito original ao acrescentar características típicas do cinema oriental, que possui simbolismos bem diferentes dos nossos. Um erotimso poético paira no ar desde a primeira cena de O livro de cabeceira, graças à autora do livro que deu origem ao filme, a cortesã Sei Shonagon, que criou a mais de mil anos as histórias eróticas que rondam a vida de Nagito.
Uma mulher escrevendo histórias em corpos masculinos. A pele como papel para explorar e dividir desejos. Coisas que só Peter Greenaway conseguiria traduzir na grande tela.

Bjus da Bia

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A marca que ninguém apaga


Não existe situação pior do que assistir a um filme tendo apenas opiniões negativas sobre ele. Passei por isso ao ver Os quatro do Apocalipse, um dos poucos filmes de Lucio Fulci que ainda não havia visto. Mas eu consegui, mesmo com a enxurrada de comentários ruins rondando a exibição, me divertir durante uma hora e meia e achar o argumento perfeito para os que destruíram este western diferenciado: a famosa e comentada marca registrada.
Os gênios costumam ter as suas e mesmo quem não conhece seus principais filmes consegue identificá-las. Lucio Fulci ganhou as telas e conquistou fãs dentro do gênero Giallo, os filmes de terror italianos temperados com sangue vermelho-tomate, nudez e uma leve dose de erotismo.

Ao lado de Dario Argento, ele ajudou a concretizar o movimento com obras-primas trash como A casa do cemitério e a cine-série Zombie. Mesmo se aventurando em algumas comédias, o italiano nunca deixou de lado o clima sombrio e violento. Talvez por isso um roteiro como o de Os quatro do Apocalipse renda tantas críticas. Não há como negar que a história é boa, mas do meio para o fim a coisa desanda e o que poderia render um final clássico vira algo abrupto, resolvido às pressas, como se não houvesse mais rolo de filme suficiente. Mas passa longe de ser um ruim, pois Fulci aproveita todos os momentos para estampar sua marca, em especial na cenas de tortura e canibalismo. É como se, nessas horas, as cenas dissessem "hei, fomos feitas pelo Fulci, viu?" Coisas que só consegue quem sabe o que faz. Imprimir em todos os gêneros que lhe são oferecidos sua digital.
Bjus da Bia

terça-feira, 17 de maio de 2011

Olhos nos olhos


Comecei a usar óculos aos 9 anos. No começo sofri um pouco, já que lentes chamam à atenção, por mais discretas que sejam. E tímidos odeiam chamar a atenção. Durante um bom tempo, houve uma certa vergonha, uma sensação de "porque preciso disso?". Tentei lentes de contato, mas um probleminha de sensibilidade na íris impediu que eu ficasse com elas.O jeito foi encarar a vida de frente usando um pára-brisa. Era o único jeito de ver o mundo (e, principalmente, os filmes) nítidos. E foi um filme que me ensinou a amar os meus óculos.

Janela da Alma, documentário do talentoso João Jardim, é mais que um filme sobre olhares. É um verdadeiro registro de sonhos e histórias únicas que só quem tem a visão (im)perfeita consegue vivenciar. Desde a mais simples e fraca miopia até a cegueira total, nosso olhos (sempre eles) são presenteados com amores, sintonias e, antes de tudo, relações de amor com as imagens. Seja o colega de palco (Marieta Severo resume bem a coletividade que é ser ator) ou a fotografia ideal, tudo é um recorte que fazemos da vida. E, como nos filmes, temos nosso efeitos especiais. A vista embaçada por causa do choro, o fechar de olhos na hora do medo, a pupila dilatada diante da surpresa.




Sabe aquela história de visão de mundo? Pois é, cada um tem a sua e não é só uma metáfora para opinião. O olho é uma câmera e a gente filma o que bem entender. E, como em qualquer produção, temos percalços, imagens que não estavam nos nosso planos mas que não nos deixam outra saída. Precisamos encarar de frente. Sem piscar.



Hermeto Pascoal, José Saramago e o fotógrafo Evgen Bavcar são alguns do convidados para exporem suas relações com o olhar. Mas o depoimento de Wim Wenders é, pelo menos para mim, o mais poético. O cineasta das paisagens discorre sobre como se sente mal quando perde seus óculos, pois eles ajudam-no a enquandrar o mundo. Segundo Wenders, sem suas lentes ele "enxerga demais". Para ele, ver é enquadrar. Cada rosto, cada céu, cada detalhe é um plano, um close, uma cena.
Minha miopia teria solução. Uma cirurgia simples, de recuperação rápida. Mas dispenso o hospital. Minha vida não teria a mesma graça se não fosse a confusão que faço, ao acordar, procurando meus óculos no escuro. E sempre encontrando.

Bjus da Bia

sábado, 14 de maio de 2011

Aprendizagem


Aprender a ler, escrever, contar. Já passei por todos estes verbos na vida. Agora chegou a hora de aprender o verbo gostar. E quer melhor professor que David Lynch? Calma, eu explico.
Não, ainda não tive a oportunidade de conhecê-lo pessoalmente e travar uma longa conversa sobre sonhos, filmes e afins. Isso porque, até bem pouco tempo atrás, eu não o suportava. David Lynch era, para mim, um chato de galochas e orelhas cortadas. Assiti Veludo Azul aos 12 anos, a tradicional idade da bobeira, não entendi lhufas e decretei o fim da minha relação com Lynch naquele dia mesmo. Minha rebeldia falou mais alto e eu tachei o rapaz de velho gagá. Anos depois, o arrependimento bateu numa madrugada gelada, onde Veludo Azul surgiu novamente diante dos meus olhos graças à TV a cabo. Chorei feito criança e o arrependimento deu lugar aquela humildade típica dos apaixonados arrependidos. Sabe aqueles roamnces onde a mocinha passa a trama inteira brigando com o mocinho pra, quase no final, se dar conta que não pode viver sem ele? É piegas, mas define bem minha história com David Lynch. Um brigaçada que acabou numa paixão louca graças a Coração Selvagem. Nicolas Cage cantava Love Me e eu me rendia: Lynch, I love you. A atmosfera de sonho, o sentimento sendo descrito na tela da maneira doida como só os sonhos conseguem, o mal-estar necessário em algumas cenas, o romantismo anos 50...enfim, uma apaixonada listando os dotes de seu amor.

Lynch agora ocupa um lugar especial no meu coração. Lugar selvagem, diga-se de passagem.

Bjus da Bia

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Meu herói


Estou sumida por um bom motivo: meu vovô cinéfilo, Leonardo, teve um infarto. E, acreditem, está tinindo de bom!!!! Molinha nova no coração e o mesmo bom-humor de sempre. Pra não deixar passar, vou postar um vídeo com os dois psitoleiros preferidos do meu velhinho amado: Randolph Scott e Joel McCrea.

Afinal, o cara que me ensinou a amar e respeitar o faroeste merece todas as homenagens. Aiô, silver!

Bjus da Bia

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Lee ao quadrado e o mundo doido


O mundo é mesmo muito doido. Um ator leva uma carreira para construir sua imagem de machão, encarando um papel de coronel turrão ou soldado sofredor atrás do outro pra no final levar um prêmio da Academia por um papel cômico. Foi isso que aconteceu com o saudoso Lee Marvin que, em 1965, colocou na estante (ou em cima da lareira, vai saber...) o homenzinho dourado por seu papel duplo em Dívida de Sangue, títulozinho mequetrefe para o filme que narra a trajetória da pistoleira Cat Ballou, vivida pela lindona Jane Fonda.
A metade dos anos 60 foi um período de mudanças no gênero western, graças a chegada das produções européias recheadas de humor. Dívida de Sangue foi contaminado por esses filmes, mas possui uma autenticidade ímpar. Juntou canções no melhor estilo musical da Broadway (interpretadas pelo comediante Stubby Kaye e por Nat King Cole!!!), muitos tiros e uma dose inteligente de diálogos engraçados. Isso sem contar a ousadia na escolha do elenco. A sexy Jane Fonda ganhou ares de professorinha e a cara amarrada de Lee Marvin teve que se dividir em duas. Uma hora ele é o malvadão sem nariz Tim Strawn e na outra o bêbado pistoleiro Kid Shelleen.

Uma prova de que a escolha de Marvin para o papel foi certeira é que o espectador consegue esquecer a fama de mau do ator, que arranca gargalhadas com suas caretas alcóolicas. Mas a cena crucial é a da transformação. Gastando munição em suas garrafas vazias de whisky para melhorar a mira e passando um perrengue para voltar a ser sóbrio, Kid Shelleen muda de sapo para príncipe numa das sequências mais legais do filme. A gente nem lembra que o pistoleiro charmoso já fez muita gente sofrer no clássico Os Doze Condenados, de Robert Aldrich.
O diretor de Dívida de Sangue, Elliot Silverstein, conseguiu colocar no filme um clima leve, divertido e um ótimo ritmo nas cenas de ação. Ele podia muito bem ter deixado a palavra paródia tomar conta do enredo e transformar tudo numa chata avacalhação do gênero western. Mas não. Há um respeito, uma preocupação com detalhes que deixa claro que Dívida de Sangue é um faroeste engraçado e não simplesmente uma comédia pastelão ambientada no velho oeste.
Mais uma prova de que esse mundo é doido, é que Elliot Silverstein iria dirigir anos depois de Dívida de Sangue um dos westerns mais violentos de todos os tempos: Um homem chamado cavalo, que marcou a história do gênero por suas cenas cruas de tortura. Prova de que se arriscar em vários tipos de filme não é atestado de falta de talento.

Bjus da Bia

sábado, 23 de abril de 2011

Sem redenção


Uma notícia de jornal pode ser o ponto de partida para um bom filme. Foi assim que nasceu o roteiro de Segredos de um funeral, título fraco para um filme originalmente chamado Get Low. Inspirado por uma história publicada na revista Time em 1938, o longa apresenta a história de Felix Bush, um carpinteiro velho e rabugento que vive enclausurado em sua casa no meio da floresta e que é tido como uma lenda em sua cidade graças a sua fama de brigão. Se ele já atraía olhares só pelo fato de dirigir sua carroça em direção ao bar, a coisa só piora quando Bush resolve organizar seu funeral. Seria apenas alguém que sente que o fim está próximo e quer deixar tudo organizado para descansar em paz. Mas Bush quer tambores, comida e bebida. E quer estar lá. Vivo, diga-se de passagem. O que parece loucura para os moradores da cidade torna-se a grande chance para o vendedor Buddy e seu chefe Frank, que trabalham numa funerária que está mal das pernas.
Vivendo a maluquice que é agir como um organizador de festas sendo um agente funerário está o sempre ótimo Bill Murray, num papel que foge um pouco do estilo de personagem que o consagrou. Saí o cara solitário com cara de paisagem do século XXI e entra o endividado e ganancioso viúvo do final da década de 40. Mas o humor sutil e os diálogos ditos com naturalidade de Murray continuam lá, para tranquilidade dos fãs conquistados pós- Encontros e Desencontros. Só que o filme não pertence a ele, mas sim ao veterano Robert Duvall, que dá mais do que corpo e voz para o misterioso Felix Bush. O que na mão de outro ator podia tornar-se um velhinho solitário quase pueril, no talento de Duvall torna-se um caso a ser desvendado, um ser humano tentando fazer as pazes com o mundo. E mais, sofrendo para tornar isso uma realidade. As cenas de Duvall ao lado de Sissy Spacek são delicadas e ao mesmo tempo impactantes, já que somos, aos poucos, apresentados aos motivos que levaram Bush ao isolamento.
Segredos de um funeral é um filme raro em tempos politicamente corretos como os que vivemos hoje. Sem querer estragar o final, mas se você, caro leitor, curte um "felizes para sempre", prepare-se: não há redenção no filme. Nenhum anjinho cai do céu e perdoa os pecados dos personagens e o amor também não salva ninguém por estas bandas. Justamente por isso merece o nosso aplauso.

Bjus da Bia