segunda-feira, 8 de agosto de 2011
Amar sem razão
O dia dos pais é no próximo domingo e seria esperado que eu selecionasse algum filme sobre pais e filhos. Até tentei. Mas não sei se por destino ou por instinto, foi o tema maternidade quem deu as caras por aqui essa semana. Mas não é qualquer maternidade. É a mais sofrida de todas elas. A que lida com a perda.
Ha tanto tempo que te amo, filme de estreia do francês Phillippe Claudel narra um reencontro que nada tem de terno ou reconfortante. Juliette, interpretada pela sempre sublime Kristin Scott Thomas, vai morar com a irmã mais nova após passar 15 anos na prisão. Seu crime: assassinato. Seria mais uma daquelas personagens tentando um recomeço após um longo período atrás dos muros de uma penitenciária não fosse um pequeno detalhe. O crime cometido por Juliette envolve seu filho de 6 anos. Quando essa informação chega até nós, espectadores, a primeira reação é a de estar diante de um monstro. Sensação essa que só se acentua, graças ao olhar frio e tristonho com o qual Juliette observa o mundo.
Mas a trama tem um que de travesseiro novo, ainda frio pelo plástico da embalagem mas que, aos poucos, vai se acostumando ao nosso toque e ganhando uma nova forma, mais acolhedora. E, tal e qual o travesseiro que revela falhas ou torna-se imprescindível ao nosso sono, passamos a descobrir os defeitos e os motivos de Juliette. E são vários os defeitos, mas nenhum deles nos fere. O filme tem uma delicadeza natural que nos sentimos parte daquele mundo, mesmo que não vivamos na França. Não é o cenário o que importa, são as pessoas. Pessoas como nós, com dores impublicáveis que nunca vão sarar, mas que tentamos amenizar para seguir em frente.
Há tanto tempo que te amo é um filme sobre mães de verdade. Sem canções de ninar ou enxoval bordado. Mas com um amor que ultrapassa aquilo que o mundo real nos cobra toda hora: a razão.
Bjus da Bia
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