terça-feira, 6 de setembro de 2011

Renegado impiedoso


Se esse blog resolvesse fazer uma série de posts sobre diretores injustiçados, vocês, caros leitores, iam cansar as vista tal o tamanho da turma que trabalhou bem e não foi reconhecido. E eu não estou falando só de não ter recebido Oscar ou integrar listas importantes. Falo de não ser lembrado, que é o tipo de rejeição que mais dói. São muitos os nomes, mas um em especial me perturba seriamente.
O americano John Sturges nunca foi um cineasta autoral e podia sem problemas ser enquadrado como um diretor de filmes por encomenda, ou seja, o estúdio comprava os direitos do roteiro, o escalava e ele dirigia. Assim, prático e sem grandes aspirações artísticas. O que não quer dizer que a Sturges não tivesse dedicação e esmero em seu trabalho. Cada frame era extremamente estudado, fotografia impecável e uma direção de atores que muitos mestres não possuem.

Indicado ao Oscar apenas uma vez, pelo suspense Conspiração do Silêncio, há pouca informação sobre John Sturges disponível em livros e mesmo na internet ele ainda é um desconhecido em muitos sites sobre cinema. É a velha história do filme que se sobrepõe ao diretor, já que Sturges nos deu obras incríveis como Fugindo do Inferno, A Águia Pousou, Sete Homens e um Destino e Sem Lei e Sem Alma, filmes que marcaram o gênero de guerra e o faroeste. E aí está mais um motivo para Sturges ser pouco ou quase nunca lembrado: seus filmes não eram revolucionários, não mudaram a história do cinema mas estão presentes na lembrança de muitos admiradores da sétima arte por serem bem acabados, divestidos e empolgantes, características que os críticos mais blasés e chatos não costumam levar muito em conta. Uma boa amostra disso foram as críticas pesadas em cima de Sete homens e um destino, uma adaptação de Os Sete Samurais, antes mesmo de seu lançamento. Os mais tradicionais acharam quase uma ofensa trazer a obra única de Akira Kurosawa para um cenário tipicamente americano como é o velho oeste. Quem pensou assim esqueceu que entre as influências de Kurosawa está o grande nome do faroeste John Ford. Ou seja, samurai pode sim dar uma volta na poeira ianque. Sturges não se deixou influenciar e fez seu filme tornar-se único: não é nem melhor nem pior que o de Kurosawa. É diferente, apesar das semelhanças.
John Sturges era um trabalhador do cinema. Cumpria prazos, não dava chilique e mantinha um clima de harmonia entre seus atores. Chegou,inclusive, a aumentar uma cena de perseguição de moto a pedido do amigo e astro Steve McQueen. O resultado foi uma das melhores cenas de fuga que o cinema já viu. E a prova de que nem só de rixas e desentendimentos se faz um bom filme.

Renegado Impiedoso é o nome de um western indígena protagonizado por Charles Bronson, um outro amigão de Sturges. Não foi dirigido por ele, mas o título cai como uma luva para definí-lo. Um diretor sem medo da labuta, mesmo que pouco lembrado. E mesmo que ele não tivesse feito nenhuma película marcante, só por isso já mereceria nosso aplauso.

2 comentários:

Francine disse...

Ameeei teu blog. A propósito, considero "Sete Honens e um Destino" um filmaço. Eu não sabia que esse longa-metragem foi achincalhado por alguns setores da crítica.

Gostei do blog... Beijos!!!

Mateus Denardin disse...

Ótimos comentários. Não fez filmes revolucionários, mas os fez com capricho. Em CONSPIRAÇÃO DO SILÊNCIO e, um pouco menos, FUGINDO DO INFERNO, moldou muito bem a tensão na narrativa, e em SETE HOMENS E UM DESTINO fez um sucesso popular (sendo apenas uma das diversas releituras que o clássico de Kurosawa recebeu). Dei uma revisada na filmografia dele, e é bem extensa, mas a maioria é de filmes pouco vistos -- talvez mesmo em sua época de lançamento. É possível que tenha sido um diretor subestimado ainda em seu tempo.