terça-feira, 9 de novembro de 2010

Um conto, um ponto


Escrever ficção é hábito pra mim. Se eu parar, eu piro. Lead e afins tem limite, e a gente precisa de um pouco de loucura, às vezes. Por isso, na falta de boas ideias reais, vamos as mentiras saudáveis.

Bjus da Bia

BAÚ MOFADO

Vão fazer duas semanas que eu me mudei pra casa da minha vó. Não sei direito porque minha mãe me mandou pra cá. Talvez ela esteja precisando de um tempo. De uns dias pra cá, ela andava muito chata. Trabalho, trabalho e mais trabalho. Nem oi mais ela me dava. Sempre correndo, nunca suando. Nunca vi minha mãe despenteada ou com roupa de casa. Sempre batom, sempre spray fixador.
Minha vó sabe fazer sorvete. Eu pensei que só as fábricas soubessem fazer sorvetes. Demora um tempão, tem que achar o ponto certo, senão o sorvete fica mole. Minha vó não gosta que eu fique na cozinha. “Cozinha não é lugar de criança”, grita sempre, grita alto. Não me importo. Não gosto de cozinha. Minha mãe diz que quem gosta de cozinha vive cheirando à gordura. Estranho...minha vó não cheira a gordura...nem a sorvete. Pra mim ela tem cheiro de baú mofado, desses que guardam coisas velhas. Ou então cheiro de lavanda, daquelas que se põe no balde para limpar os banheiros.
Ela prometeu fazer sorvete de chocolate hoje. Duvido. Minha vó odeia chocolate. Diz que só serve pra deixar as crianças lambuzadas e gordas demais. Prefere mil vezes sorvete de creme, que é branco, cor de limpeza. Odeio sorvete de creme. Tem gosto de coisa velha.
O quarto que eu ganhei aqui é legal. Um pouco pequeno, mas é legal. Tem uma cama e uma cômoda com um espelho enorme. Minha mãe adora espelhos. A vó não deixou eu trazer as minhas bonecas, disse que elas não servem para nada, que logo logo eu vou crescer e elas não vão mais ter importância para mim. Trouxe uma, escondidinha, a Carlota. Ela deve ser a menor boneca do mundo, cabe na palma da mão. Eu ganhei ela num balão surpresa, no aniversário da Sarah. A coitada já tá meio desbotada, de tanto andar escondida na minha mão. De manhã, escondo ela dentro da fronha, para não correr o risco de vovó jogar ela fora durante sua faxina matinal. A porta do quarto range toda vez que abre. Parece aquelas portas de filme de terror. Não sinto medo dela. Ela é muito chata, isso sim! Barulhinho chato.
Acho que semana que vem, minha mãe vem me buscar. Espero que esteja menos chata. Gosta daqui, mas acho que já tá na hora de ir. A Luiza, minha colega, disse que casa de vó é o melhor lugar do mundo. Será que ela tem vó? Será que ela cheira a baú mofado e faz sorvete de creme? Será que ela pode ter bonecas no quarto? Será que a porta range?
Acho melhor guardar a Carlota dentro da gaveta da cômoda. Vai que minha mãe me esquece.

2 comentários:

james pizarro disse...

Lindo !

Beijo

JP

Libriana Voadora disse...

Aiii, muito fofo teu conto!! E a forma como a menina tá narrando realmente tá parecendo narração de criança!! Mas é um tanto triste, também... principalmente o final. Mas muito bonito, adorei! Queria conseguir escrever coisas rápidas... eu também adoro ficção, e escrevo contos (se é que dá pra chamar de contos), mas eles vão ficando grandes, grandes, e acho que assim ninguém nunca vai ler! =] Posto mais ficção da tua autoria aí!! ^^ *sugestão* Beijos!!! =D