Hoje comemora-se o centenário do cineasta Akira Kurosawa. Ele, que morreu em 1998 em plena ativa, fazendo filmes e demonstrando uma lucidez e um talento incrível, foi crucial na minha trajetória de amante incondicional de cinema.
Akira Kurosawa foi o responsável por apresentar ao mundo a história e os costumes do oriente num tempo em que as coisas eram muito mais demoradas e mais saborosamente apreciadas. Não é como hoje, onde os lançamentos de artes marciais japoneses invadem nossas salas de exibição e a tradição do mangá é febre entre jovens que não sabem identificar um ideograma japonês. Kurosawa trouxe a poesia oriental para as telas e na sua esteira vieram outros importantes realizadores, como Yasujiro Ozu e Kenji Mizoguchi. Mas o oriente sabe ser rígido e acabou acusando o seu mais significativo cineasta de ser "ocidentalizado". Tudo por causa do seu declarado amor pela literatura russa e pelo cinema de John Ford. Mas isso não fez com que seus samurais e camponeses não cumprissem sua missão: a de encantar o espectador.
Minha relação com Kurosawa começou quando assiti Trono manchado de sangue, filme de 1936. Aquilo me tocou de uma forma diferente. Eu era uma aprendiz de cinéfila deslumbrada com o cinema noir diante de uma poesia visual única. Akira Kurosawa me mostrou o outro lado do mundo do cinema. Aliás, ele próprio deu sua contribuição ao cinema noir com Céu e Inferno, um filme cheio de referências pop e crítica a alta sociedade japonesa dos anos 50.
Kurosawa ocupa aquele lugar no meu coração onde se guarda os ídolos no sentido mais puro da palavra. As influências verdadeiras, aquelas pessoas que realmente fizeram a diferença na nossa vida. Um lugar privilegiado. Eu paro na frente da TV quando alguém fala dele, assisto seus filmes várias vezes como se fosse a primeira exibição, leio tudo que aparece sobre sua obra e vida e digo com orgulho que ele é o meu mestre. Tive a sorte de encontrar na minha vida acadêmica um professor e orientador tão apaixonado quanto eu pela obra de Kurosawa. Bebeto Badke me ajudou na monografia que, talvez por excesso de amor da autora, foi mais passional que científica.
Bom, estou aqui para dividir com Spielberg, George Lucas, Scorcese e outros tantos admiradores de Akira Kurosawa esse momento único. A cinemateca de Lisboa fará uma homenagem com um ciclo que vai até o final de março, mostrando os principais filmes da filmografia do diretor. Adoraria estar lá para desfrutar dese momento. Mas me contento com os DVDs da estante. Dersu Uzala, Madadayo, Rashomon, Os Sete samurais, O anjo embriagado, Yojimbo e muito mais. Filmes que vão além: não são só histórias, são aulas de sentimentos que mexem em qualquer ser humano com um pingo de emoção.
Hoje é um dia especial. Tenho certeza que, se estivesse vivo, Kurosawa estaria bolando um novo filme e falando ao mundo sobre a importância de se acreditar no cinema como uma forma de mudar atitudes e, quem, sabe, o mundo. É por essa e por outras que eu me permito comemorar: Mestre Kurosawa, Mada-dayo!
"O homem é um gênio quando está sonhando"
Akira Kurosawa
2 comentários:
Muito bacana teus textos.
e parabéns pelos 23 anos.
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