terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Cuide da sua


Não existe nada melhor do que assistir a um filme pela segunda vez e descobrir que ele possui mais entrelinhas do que imaginávamos. Assisti A vida dos outros no cinema no dia da sua estreia e saí do cinema com mais fé na humanindade. Sei que a ficção consegue a proeza de ser mais brilhante e animadora que a vida real, mas, neste caso, tive que me render.
A vida dos outros é uma produção alemã de 2006, dirigida com segurança por Florian Henckel von Donnersmarck e narra a trajetória de um espião investigando a vida de um dramaturgo da Alemanha Oriental, acusado de ter ligações com o comunismo. Por meio de uma parafernália de microfones e esconderijos, o cotidiano do escritor é acompanhado nos seus mínimos detalhes. E o que era para ser uma investigação fria se torna uma obsessão. O espião envolve-se nos dramas e criações do suspeito. E o público é presenteado com atuações na medida, que beiram à perfeição.
A vida dos outros, para os aficçionado por história, é um prato cheio para descobrir como aconteciam as escutas ocultas. Mas para os amantes do cinema, é uma aula de como conduzir um filme sem precisar de efeitos especiais ou closes sádicos de rostinhos tristes. Vai além, até: ensina que a vida dos outros não é fácil. E que cada um deve cuidar da sua e respeitar a do próximo.

Bjus da Bia

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Comendo tripas


Quarta-feira de cinzas e eu dentro de um ônibus, conseguindo a proeza de curtir uma sessão de cinema na Capital. Dinheiro contado, como sempre. Gosto assim. Dou mais valor quando preciso apertar o capital em nome da cinefilia. Bom, mas voltando ao ônibus...antes de embarcar, eu ganhei um presente. Como falta pouco menos de um mês para o meu aniversário, meus amigos resolveram me dar uma folga:
-Pagamos o ingresso. Mas a gente escolhe o filme.
Medo! Não sou medrosa, mas deixar terceiros escolherem minha sessão me dá arrepios. Enfim, confie nos verdadeiros amigos e tudo vai dar certo. E deu.
Zumbilândia, dirigido por Ruben Fleischer, trata de um tema bem batido, mas que me encanta desde a infância: zumbis! Mas, ao contrário da maioria dos filmes do gênero produzidos nos anos 90, a trama não se leva à sério. E é isso que faz o tempero ser saboroso.
O elenco jovem, que conta com o carisma de Abigail Breslin, ainda apresenta Emma Stone num bom desempenho, se comparado as comédias anteriores da garota. O charme fica por conta de Woody Harrelson, que continua com a mesma presença e rabugentice dos tempos de Assassinos por Natureza. Mas quem merece aplausos e uivos dos amantes do cinema de zumbis é Bill Murray no papel dele mesmo, com direito a uma merecida homenagem à Os Caça Fantasmas. Impagável.
Ônibus cheio e a bateria do MP4 preste a acabar. Sem calorão, brisa, as luzes da cidade...e a certeza de que a boa comédia americana é um terror. No melhor sentido.

Carnaval feliz


Acabou o glitter e o confete. Agora dá pra ligar a TV e vislumbrar coisas mais amenas, tipo previsão do tempo e a prisão do Arruda. Acabou o tempo de ser feliz. Sim,porque o que mais me irrita é ver que todo mundo tem que estar em clima de Uhuuu! quando chega fevereiro. Num calor de lascar, e todo mundo sorrindo. Tá maluco ou perdeu a sensibilidade?
É por essas e por outras que resolvi aproveitar o primeiro dia da festa de Momo assistindo Simplesmente Feliz, filme do diretor Mike Leigh (que conduziu com maestria Segredos e Mentiras e o belíssimo Vera Drake)que, infelizmente, eu não tive a oportunidade de conferir nos cinemas. A produção inglesa conta a história de Poppy, uma garota feliz. Mas feliz mesmo. Ela tem a bicicleta roubada e continua feliz. Tem um instrutor de auto-escola furioso e cheio de manias e continua feliz.Ganha pouco, dá aula para crianças problemáticas e continua feliz. E isso irrita. Acreditem, os primeiros momentos do filme são quase surreais. É felicidade demais pra uma só pessoa, nós pensamos. E desconfiamos que tudo não passa de uma máscara. E tomamos um belo tapa na cara do cinema. Poppy é mesmo feliz, faz parte da sua natureza ver o mundo pelo lado positivo. Não tem recalques, não esconde segredos. Apenas encara a vida de uma maneira animada. E é isso que conquista.
Mesmo com um roteiro bacana, quem brilha é Sally Hawkins, que levou o prêmio no Festival de Berlim por sua atuação. Com um personagem que, na mão de uma atriz medíocre, seria caricato, na pele de Sally torna-se leve, um clima de infância em cada cena, em especial as em que Poppy salta na cama elástica.
Quando os créditos final aparecem, fica a sensação que o mundo precisa de mais Poppys. Ou então, que nós necessitamos de momentos simplismente felizes. Simples assim.



Bjus da Bia

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Olê lê!

Odeio carnaval. A única vez que me prestei a sair sambando por aí foi aos 3 anos de idade, fantasiada de índia Apache, já que a roupa de cowboy era pesada demais. Depois disso, reservo quatro dias de folga para ver filmes, ler, pensar na vida e cuidar com mais atenção dos cachorros. Esse clima de alegria me entristece, na verdade. Parece uma obrigação estar feliz e disposto nessa época do ano. Dane-se, nem todo mundo quer glitter e confete; samba, suor e cerveja.
Passei aqui só pra dizer que vou para o meu retiro cinéfilo-espiritual, um momento único pra me dedicar aos estudos pra não sair por aí falando bobagem ou roubando ideias.
Fiquem com a minha trilha country, uma delícia para abafar o axé que virá da rua.
Bjus da Bia

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Guerra


Dia 7 de março ainda está longe, mas já estou com medo. A próxima cerimônia do Oscar não está me trazendo boas vibrações. Primeiro porque tem Avatar,de James Cameron, que promete abocanhar todos os prêmios graças a sua grandiosidade técnica. Confesso que o filme me prendeu, aquelas imagens eram reais, perfeitas para o cinema 3D. Mas a história é fraca, beirando a pieguice. Algumas cenas chegam a ser engraçadas de tão melosas. Não gostei, no fim das contas.
Mesmo sabendo que a Academia poucas vezes surpreendeu, continuo na minha torcida por Guerra ao Terror, de Katryn Bigelow, ex-mulher de Cameron, que tem sensibilidade a ousadia pra falar de um tema que corre o risco de virar um dramalhão na mão de um diretor qualquer: a guerra no Iraque. As cenas são incríveis, o editor merecia dois Oscars, pois conduz uma verdadeira sessão de explosões sem esquecer da poesia. Não é um filme de guerra qualquer. As cenas de ação são boas, mas o que prevalece é a tensão psicológica dos participantes, lutando pela vida e, com isso, repensando suas escolhas.
Guerra ao Terror chegou ao Brasil direto em DVD, em maio do ano passado. Mas, com as nove indicações da Academia, voltou às telas das principais capitais do país. Fica a dica. Os monstrinhos azuis de Cameron podem até convencer, mas o que fica na memória são os soldados perturbados de Begelow. Assista e tire suas próprias conclusões.

Bjus da Bia

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Maternidade


É sempre mais forte do que eu. Não resisto uma olhadela quando me deparo com uma mulher grávida e não sei descrever o que sinto quando vejo um barrigão combinado com pés inchados e roupas largas. Grávida. Não sei se sorrio ou se choro.
Desde a adolescência isso me persegue. Vi várias amigas engravidando aos 15, 16, 17 anos e sofrendo uma reviravolta em suas vidas. Umas largaram a escola, outras casaram, outras fugiram e teve até as que abandonaram sem nenhum sinal de tristeza. Eu presenciava tudo isso com um aperto no peito e uma certeza: se ficasse grávida, estaria ferrada. Não tinha cabeça, nem paciência e muito menos inteligência pra educar uma criaturinha frágil e curiosa. Ao mesmo tempo, um bichinho incômodo me dizia que sim, valeria a pena colocar mais um bebê no mundo e que eu ia amadurecer muito quando vivesse a tão comentada maternidade.
E cá está o cinema me pregando mais uma peça. Depois de Juno, onde a identificação me levou 4 vezes ao cinema e um cem número ao DVD, eu reencontro um filme doce, quase surreal, apesar do tema estar presente em muitos cotidianos. Em certas cenas, o colorido e as atuações lembram desenhos animados. Em outros, temos olhares e atitudes humanas, demasiado humanas. Meio como a vida, onde o sonho está presente, mesmo que só você perceba.
Garçonete tem roteiro e direção de Adrienne Shelly, talentosa atriz e realizadora que morreu assassinada antes de ver o filme pronto. Além de assinar o roteiro e a direção, Adrienne esbanja talento na pele da tímida e atrapalhada Dawn. Mas quem domina o filme é a protagonista Keri Russel na pele de Jenna, uma garçonete que transmite às suas deliciosas ortas seus sentimentos mais secretos. Cada ingrediente é uma pessoa, uma dúvida, uma dor.
Pode não ser uma história esplêndida, uma obra-prima, mas tem uma sinceridade pouco usual no cinema maternal. Engravidar nem sempre é motivo para sorrisos e crises de euforia. O mundo não vai mudar e você não é especial. É apenas mais uma entre tantas gestantes. Vai ficar insone pensando nas contas que vão aumentar, em como lidar com manhas e se os peitos vão cair com a amamentação. Mas Garçonete também ensina que romances vem e vão, mas filhos são eterno e nos provocam um amor que não precisa explicação.
É, meu relógio biológico parece estar apitando. Mas primeiro é preciso emprego, casa e algum cursinho preparatório para crises de cólicas. Ou talvez nada disso tenha importância. Quando a barriga começar a crescer, eu vejo no que dá. Enquanto isso, fiquem com o trailer de Garçonete.

Bjus maternais da Bia