segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Bowie no oeste


Homenagear um gênero pode ser um perigo. Isso porque valer-se das regras que ditam um estilo cinematográfico pode render tanto um filme inovador quanto uma sequência de cenas nostálgicas recheadas de referências que surgem do nada, onde o único objetivo e mexer com a memória dos fãs que não conseguem esconder a alegria diante de uma citação ou de um diálogo no melhor estilo “já vi isso antes”. Dentro do gênero western, estas homenagens já presentearam o público com obras-primas como Os Imperdoáveis, de Clint Eastwood e também com tramas que beiram o ridículo como À Procura da Vingança, de David Von Ancken.
Duelo de Forasteiros, produção de 2007 roteirizada, dirigida e protagonizada pelo italiano Giovanni Veronesi, do romântico As idades do amor, é um exemplo único de uma homenagem que deu certo e também não deu. Vou explicar. Lançado diretamente em DVD no mercado brasileiro, Duelo de Forasteiros tem como principal objetivo honrar os tempos áureos do faroeste no cinema europeu. Misturando a nuance indígena presente nos westerns americanos, em especial os do final da década de 60, com o humor nonsense dos bang-bangs italianos, Veronesi cria uma trama narrada por um menino mestiço que precisa lidar com as mudanças trazidas pela chegada de seu avô paterno, o pistoleiro Johnny Lowen. Interpretado com carisma por Harvey Keitel, Lowen cansou de fugir dos inimigos e resolve tentar uma vida mais pacata se reaproximando do filho, o pacífico Doctor, vivido por Veronesi, que abandonou ainda bebê. Tudo estaria na mais perfeita harmonia entre o ex- fora da lei não fosse a chegada de Jack Sikora, um forasteiro que só pensa em uma coisa: acabar com a raça de Lowen. Olhando assim, é mais um roteiro simples, onde a chegada do vilão acaba com o clima família. Mas Duelo de Forasteiros não tem apenas um vilão. Tem David Bowie.
Bowie, que adora dar as caras na telona, está impecável como Sikora e é responsável pelas melhores cenas do filme. O visual moderno de sua gangue e seu jeito sádico promovem momentos divertidos e cheios de ação, algo que, antes de sua chegada na história, o filme não apresentava. A presença de Bowie confere um novo gás ao filme, chegando a interferir na trilha sonora. Os sons à lá Morricone dão lugar a melodias que mais parecem terem sido compostas para filmes de gângsters. O oeste tradicional, com seus índios e pistoleiros, dá lugar a um confronto fora dos padrões onde até o tradicionalíssimo duelo ao pôr-do-sol é substituído por um embate nada convencional. Só vendo para entender.
Giovanni Veronesi não conseguiu com Duelo de Forasteiros entrar para história do gênero. Longe disso, já que o filme peca pelo excesso de pieguice e pelo roteiro travado. Mas o filme é um belo exemplo de como presença de um ícone pop talentoso pode mudar os rumos de uma história. Bowie, apesar de ser o mal em pessoa, é quem salva o dia.

Bjus da Bia

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