sábado, 9 de abril de 2011

Sufoco


Parece que foi ontem o dia em que tive, diante dos meus olhos, pela primeira vez, o filme 12 homens e uma sentença. Confesso que loquei mais pelo fato dele ser protagonizado pelo meu então amor platônico Henry Fonda do que pela sinopse. Aliás, eu confesso, nem li a sinopse. Simplismente me deparei com aquele par de olhos azuis e agarrei a caixinha da prateleira da locadora. E o que era para ser mais uma sessão de suspiros pelo mais elegante ator americano, tornou-se uma aula de cinema. Sidney Lumet entrou rasgando no meu coração. Eu estava apaixonada.
Hoje, ou saber de sua morte, aos 86 anos, vítima de um linfoma, fiquei em choque. Lumet é daqueles diretores que a gente pensa que nunca vão morrer. Ele ainda estava na ativa e mantinha seu talento intacto. Prova disso é seu último filme, Antes que o diabo saiba que você está morto, uma raridade sufocante e que injeta adrenalina no público a cada frame. Lumet adora essa agitação, esse clima quente de Nova York e fez questão de imprimir isso em maravilhas como Serpico, Um dia de cão e O príncipe da cidade. E o sufoco também está em 12 homens e uma sentença. Ele seca nossa garganta, nos faz pensar, participar junto e analisar cada um daqueles homens, alguns mais animais selvagens do que racionais. Acho que era esse sufoco que mantinha Lumet sempre atento, uma eterna pressão que não deixava ele perder a mão para fazer o bolo chamado filme. E não era só essa a sua especialidade: fez tv e teatro com a mesma dedicação e maestria.
A morte de Sidney Lumet é mais um sufoco nesse começo de ano trágico para os cinéfilos. O que nos conforta é que o cinema tem o poder mágico da imortalidade e os filmes desse grande homem estão aí para quem quiser ver. E perder o ar.

Bjus da Bia

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