domingo, 17 de abril de 2011

Grandes filmes, filmes grandes


Lá se vão 20 anos sem David Lean. Durante muito tempo ele foi para mim o homem que sabia adaptar Charles Dickens com perfeição para o cinema. Nunca parei para contar, mas deve ter sido mais de uma dezena o número de vezes em que assisti uma versão dublada de Grandes Esperanças, gravada da TV no meu saudoso vídeo-cassete. Quando a fita mostrou sinais de desgaste, eu já estava mais interessada na versão mais atual, sexy e esverdeada dirigida pelo mexicano Alfonso Cuáron.
Mesmo que o seu Oliver Twist seja disparado a mais emocionante adaptação da história do jovem orfão para as telas, o nome de Lean será para sempre associado ao clássico Lawrence da Arábia, filme que lhe rendeu o Oscar de melhor direção em 1963, além de levar mais 6 estatuetas para casa. Também pudera: se a Academia gosta de filmes grandes, Lean criou um gigante das telas.

Lawrence da Arábia tem grandes cenários, desertos sem fim, figurantes aos montes. Cada cena é uma obra-prima, um ápice, enche os olhos até dos amantes do minimalismo. Lean sabia o poder que as paisagens desérticas tem na telona e não poupou esforços para mostrá-los das maneiras mais belas possíveis, apoiado na boa história vivida por T.E. Lawrence.
Mas Lean era, antes de tudo, um cara esperto. No meio de toda essa grandiosidade ele colocou um belo par de olhos azuis que atendem pelo nome de Peter O'Toole, um dos atores mais talentosos do cinema e do teatro. A enigmática e quase rude personalidade de Lawrence transborda na interpretação dele, uma verdadeira transformação, se levarmos em conta que O'Toole é um homem conhecido por seu jeito atencioso e delicado.
Lean lançou ao deserto um grande ator e acertou em cheio. Prova de que um filme grandioso pode ser um grande filme. Pena que nos resta sentir saudades de diretores com esse faro, tão raros nos nossos tempos. Mas como surpresas existem aos montes, nada impede que amanhã tudo mude como as areias do deserto.

Bjus da Bia

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