Perder alguém da família é uma dor irreparável. Ninguém explica e nada, mas nada mesmo consola. E uma dor semelhante toma conta de mim quando perco alguém que nunca vi pessoalmente, mas que fez meus sonhos crescerem. Ontem tomei um susto. Eric Rohmer, aos 89 anos, partiu para um lugarzinho destinado aos cineastas ( eu acredito que eles tenham um lugar especial, pois criam mundo e isso não é pouco). Comecei a chorar. Mas não era um choro compulsivo, mas baixinho, quase imperceptível. Como os filmes que ele fez.
Lembro-me de cada detalhe do meu primeiro contato com a obra de Rohmer. Eu tinha 16 anos e me encontrava apaixonada por François Truffaut e deslumbrada com a descoberta da Nouvelle Vague. Perdi a conta de quantas vezes assisti Os incrompreendidos, num formato VHS que só eu pegava na locadora. Até que me caiu nas mãos Amor à tarde, de Eric Rohmer. Era tão lindo, tocante, simples. Uma simplicidade diferente, onde a gente se enxerga, mas que na vida não tem o mesmo clima, o mesmo sabor.é claro que tinha coisas chatas, algumas cenas que pareciam sermões, mas me fez entender que cinema não é sempre um mar de rosas.
Enfim, ainda ando meio cabisbaixa. Cineastas morrem mais do que deveriam. Ainda bem que a obra fica.
Um comentário:
"Meus sinceros pêsames" - como se dizia no meu tempo.
"Meus sentimentos" - como se diz no teu tempo.
De um modo ou de outro, entendo tua melancolia.
O mundo fica mais sem sentido.
E a ternura é derrotada mais uma vez.
Tens razão, Bia querida : o ano começou mal. Para quem tem alma de pétala. E corpo de beija-flor.
Abraço de urso !
james Pizarro
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