quinta-feira, 19 de julho de 2007

FRIDA KHALO VESTE AS SAPATILHAS

Imagine uma escola que une dança, arte e noções de cidadania. Pois essa essa escola existe em Santa Maria. É A Royale Escola de Dança e Integração Social que há dez anos desenvolve um trabalho com cerca de 180 crianças de bairros carentes da cidade. Mas não se engane pensando que essas bailarinas vêem a dança apenas como um mero passatempo.
Eduarda Marques, 12 anos, é a mais falante entre as meninas que integram a Royale Escola de Dança e integração. Quem a vê falar com brilho nos olhos sobre dança nem imagina que a garota não gostava nada de balé. “Eu tinha uma colega que dançava e achava que ela era muito metida, patricinha”, conta. Só depois de assistir a alguns vídeos sobre dança clássica foi que Eduarda resolveu ir atrás e passou a integrar a Royale.
Já Jéssica Selle, 16 anos, quatro deles dançando na Royale, integrou um grupo de danças tradicionais gaúchas. “Entre para o CTG, mas não era muito a minha praia. Quando descobri o balé, me apaixonei”, diz Jéssica, que quer fazer da sapatilhas seu instrumento de trabalho. “Quero transformar o que aprendi aqui em profissão”, declara. Já deu para perceber que vontade de dançar não falta, mas há algumas pedras no caminho dessas garotas. O transporte é a uma delas. Sem nenhum apoio das empresas de trasportes ou da prefeitura, algumas meninas precisam se virar para não perder nenhum ensaio ou atividade. Outro ponto complicado é a participação dos pais dentro da escola. “Tenho reunião com os pais das alunas de quinze em quinze dias, mas a maioria não comparece. Eles alegam a falta de transporte, mas a maioria não tem interesse em saber do andamento do trabalho”, conta Taiana Sperotto, psicóloga da Royale. Mesmo com a falta de interesse da família, Tainá não deixa de observar uma mudança significativa nas garotas. “Elas não mudam só a postura física, mas também o lado social. Aqui elas aprendem que a dança não é uma competição e sim uma cooperação”, diz.
Como acontece todos os anos, a Royale prepara seu espetáculo de final de ano. Tendo como inspiração a vida e obra de Frida Khalo e Diego Rivera, as meninas já estão entrando no clima mexicano também nas aulas de artes plásticas. Elas prepararam trabalhos manuais e quadros inspirados em temas freqüentes na obra dos dois artistas, como as flores e as cores quentes. “As meninas estão ansiosas para pintar as telas com os auto-retratos. Estão se sentindo artistas de verdade”, conta a professora de artes Adinéia Araújo. Em outubro, as meninas vão apresentar seus trabalhos no Monet Plaza Shopping, que também colabora doando matérias para as aulas, como tintas e telas.
Frida Khalo influencia, até hoje, artistas das mais diversas áreas. E as meninas da Royale vão, aos poucos, descobrir que é possível expressar cores, amores e outros sentimentos através de suas sapatilhas.

Nenhum comentário: