terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Mais um

Perder alguém da família é uma dor irreparável. Ninguém explica e nada, mas nada mesmo consola. E uma dor semelhante toma conta de mim quando perco alguém que nunca vi pessoalmente, mas que fez meus sonhos crescerem. Ontem tomei um susto. Eric Rohmer, aos 89 anos, partiu para um lugarzinho destinado aos cineastas ( eu acredito que eles tenham um lugar especial, pois criam mundo e isso não é pouco). Comecei a chorar. Mas não era um choro compulsivo, mas baixinho, quase imperceptível. Como os filmes que ele fez.
Lembro-me de cada detalhe do meu primeiro contato com a obra de Rohmer. Eu tinha 16 anos e me encontrava apaixonada por François Truffaut e deslumbrada com a descoberta da Nouvelle Vague. Perdi a conta de quantas vezes assisti Os incrompreendidos, num formato VHS que só eu pegava na locadora. Até que me caiu nas mãos Amor à tarde, de Eric Rohmer. Era tão lindo, tocante, simples. Uma simplicidade diferente, onde a gente se enxerga, mas que na vida não tem o mesmo clima, o mesmo sabor.é claro que tinha coisas chatas, algumas cenas que pareciam sermões, mas me fez entender que cinema não é sempre um mar de rosas.
Enfim, ainda ando meio cabisbaixa. Cineastas morrem mais do que deveriam. Ainda bem que a obra fica.

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Ajuda de vitrine

Foi um fim de ano modorrento e feliz. No calorão que anda fazendo e nas loucuras climáticas que me deixam de boca aberta eu fui levando os dias. Ontem, como vocês devem saber, a região da Quarta Colônia foi atingida por uma forte chuva que fez os rios transbordarem e muita gente perdeu casa, móveis e familiares. Como já é rotina aqui em casa, cada um foi para o seu canta buscar coisas para doar: roupas, sapatos, alimentos. Aos poucos, o porta-malas do carro estava lotado. E lá fomos eu, minha mãe e minha vó levar as doações. De tempos em tempos, reservamos um espaço para ajudar as pessoas, tudo organizado. Cresci nisso e acabou virando rotina. Nãoé um ataque de bondade, é algo que faz parte de mim. Sempre ouvi que ajudar não é piedade e sim algo natural, que acontece sem a gente perceber. Por isso, me deu certa raiva ver senhoras respeitáves da sociedade faxinalense fazerem um verdadeiro escarcéu na hora de entregarem suas doações. Estavam todas no melhor estilo "olhem, eu ajudo os outros, sou legal". Eu e as demais mulheres da família chegamos, entregamos e nos limitamos a dizer que estávamos disponíveis para ajudar na entrega do material arrecadado. Sem alarde, sem que ninguém visse.
Ajudar os outros devia ser algo natural e não um motivo de glória. Ninguém garante vaga no céu por isso. Aliás, eu tenho lá minhas dúvidas que o tal céu exista. Ajudar faz bem pra gente e não é descargo de consciência, é instinto.
Resolvi escrever esse posto porque ando cansada de gente que é só casca. Ser bonzinho não devia ser o objetivo de ninguém. Ser humano é que devia ser lei.

Bjus da Bia